Estiagem no Brasil - Como Afeta as Culturas da Soja e do Milho?

Alasse Oliveira
Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.
Estiagem no Brasil - Como Afeta as Culturas da Soja e do Milho?

Índice

A estiagem de 2025 acontece quando a temperatura média elevada e anomalias persistentes nos oceanos alteram os padrões climáticos.

O aquecimento no Pacífico Equatorial modifica a circulação atmosférica e desloca umidade da Amazônia, reduzindo a chuva em áreas agrícolas do Centro-Oeste, Norte e parte do Sudeste.

Com isso, a umidade do solo reduz e o período ideal de plantio encurta.

Em soja e milho, por exemplo, a falta de água no período reprodutivo afeta a polinização, o enchimento de grãos e o peso final.

Já em solos rasos ou arenosos, a perda diária por evaporação acelera a queda de umidade, antecipando a senescência foliar e as falhas de espiga.

A combinação de calor e baixa precipitação também altera o microclima do dossel, com reflexos na fisiologia e no desenvolvimento radicular.

Essas variações no clima exigem atenção aos boletins sazonais e aos dados históricos locais para ajustar o plantio, a densidade e as cultivares.

O que é estiagem e como ela se forma?

A estiagem é o período em que a chuva fica abaixo da média histórica, por semanas ou meses consecutivos.

Diferente da seca, que representa a ausência completa de precipitação, a estiagem envolve chuvas insuficientes para manter o solo úmido e sustentar o crescimento das plantas.

Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec/MCTI, 2025), a estiagem ocorre quando sistemas atmosféricos, como frentes frias e zonas de convergência, se afastam ou enfraquecem, reduzindo a entrada de umidade da Amazônia para o Centro-Oeste e o Sul do país.

Com isso, o solo perde água mais rápido por evaporação e as plantas passam a consumir as reservas disponíveis em camadas mais profundas.

Representação de uma estiagem com suas diferenças entre período chuvoso e veranico

Como a estiagem afeta a produtividade da soja e do milho em 2025?

O início de 2025 foi marcado por anomalias de temperatura e chuvas abaixo da média em grandes regiões produtoras, especialmente no Mato Grosso, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul.

Os relatórios da Conab e do Cemaden indicam reduções de até 20% no volume de chuva entre janeiro e março, o que atrasou o desenvolvimento vegetativo da soja e prejudicou a emergência uniforme do milho safrinha.

No caso da soja, a estiagem interfere no enchimento de grãos, fase em que a planta precisa de maior disponibilidade hídrica. Quando a umidade do solo cai abaixo de 50% da capacidade de campo, ocorre abortamento de flores, queda de vagens e redução do peso dos grãos.

Em lavouras de milho, o estresse hídrico durante o pendoamento e a formação de espigas reduz a taxa de polinização e causa má formação de grãos.

As pesquisas da Embrapa Soja (2025) mostram que uma estiagem de apenas 10 dias no florescimento pode reduzir a produtividade da cultura em até 40%, dependendo do tipo de solo e da cultivar.

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Qual a relação entre El Niño e estiagem?

O fenômeno El Niño tem influência direta sobre os padrões de chuva no Brasil.

Durante sua ocorrência, as águas do Oceano Pacífico Equatorial ficam mais quentes, alterando as correntes atmosféricas e desviando a umidade da Amazônia.

Em anos de El Niño forte, como 2024–2025, há excesso de chuva no Sul e déficit hídrico no Centro-Oeste e Norte, padrão que se mantém mesmo após o fim do fenômeno.

O Global Annual to Decadal Climate Update (WMO, 2025–2029) mostra que as anomalias oceânicas tendem a persistir por vários meses, mantendo o solo mais seco e as temperaturas elevadas.

Essas alterações reduzem o transporte de vapor d’água e favorecem a formação de bloqueios atmosféricos, que impedem a chegada de frentes frias e chuvas regulares, cenário típico das estiagens observadas em 2025.

Principais sinais de que a lavoura está sofrendo com estiagem

O primeiro sintoma visível da estiagem é a murcha temporária das folhas durante as horas mais quentes do dia.

Com a progressão do déficit hídrico, a planta reduz a transpiração para evitar perda de água, o que causa redução do crescimento, amarelecimento precoce e menor área foliar ativa.

Casos de altas temperaturas, déficit hídrico e murcha temporário em lavoura de milho

Na soja, é comum observar enrolamento de folhas, queda de flores e vagens vazias.

Já no milho, o pendoamento desuniforme e a espiga mal granada são sinais típicos de estresse hídrico severo.

Esses sintomas aparecem mais rapidamente em solos arenosos e rasos, que têm baixa capacidade de retenção de água.

Vagens vazias de soja

Monitoramentos do Inmet e da Embrapa Clima Temperado também mostram que, em regiões com temperaturas acima de 34 °C, o solo perde até 8 mm de água por dia por evaporação, acelerando os danos.

Como reduzir os efeitos da estiagem na lavoura?

Não há como evitar completamente a estiagem, mas é possível diminuir seus efeitos com manejo e planejamento. Entre as estratégias mais eficientes estão:

  • Plantio direto na palha, que conserva a umidade e reduz a temperatura do solo;
  • Uso de coberturas vegetais, como milheto ou braquiária, para proteger o solo e aumentar a infiltração da água da chuva;
  • Irrigação localizada, especialmente em cultivos de maior valor, garantindo fornecimento de água apenas na zona radicular;
  • Rotação de culturas e uso de cultivares tolerantes à seca, ajustando o calendário agrícola às previsões regionais;
  • Instalação de sensores de umidade do solo e estações meteorológicas para orientar o momento ideal de semeadura e adubação.

Todas essas práticas reduzem a perda de água e aumentam a resiliência da lavoura diante da variabilidade climática.

Impactos financeiros e no rendimento por hectare

Os impactos econômicos da estiagem vão além da produtividade. O Cemaden (2025) estima que as perdas acumuladas no campo podem ultrapassar R$ 18 bilhões, considerando a queda de rendimento e o aumento do custo de irrigação e replantio.

Na soja, a produtividade média nacional caiu de 3.750 kg/ha para cerca de 3.200 kg/ha, e no milho safrinha, a redução foi de 7.200 kg/ha para 6.000 kg/ha, conforme boletins da Conab (2025).

Essas perdas afetam a margem de lucro e a capacidade de investimento do produtor, além de pressionar os preços de insumos e alimentos.

Por outro lado, propriedades que utilizam monitoramento climático, irrigação racional e sistemas integrados de produção, registram reduções menores, cerca de 10% a 15% de queda no rendimento, evidenciando o valor do planejamento climático e tecnológico.

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Como a estiagem favorece pragas e doenças?

O clima seco altera o equilíbrio biológico no campo. Com menos umidade, os fungos benéficos do solo reduzem e pragas, como lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e percevejo-marrom (Euschistus heros), aumentam.

Além disso, o estresse hídrico deixa as plantas mais suscetíveis à mosca-branca e a fitopatógenos oportunistas, como Fusarium oxysporum e Rhizoctonia solani.

Pesquisas da Embrapa Milho e Sorgo (2025) mostram que períodos de estiagem seguidos por chuvas intensas criam condições ideais para doenças radiculares e tombamento de plântulas.

Por isso, o monitoramento climático aliado ao manejo biológico é considerado uma ferramenta estratégica para reduzir impactos e preservar a sanidade da lavoura.

De acordo com dados do Cptec, Cemaden e Conab, investir em práticas conservacionistas, sensores climáticos e cultivares mais resistentes é o caminho mais seguro para minimizar perdas e garantir estabilidade produtiva.

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Glossário

  • Capacidade de campo: Quantidade máxima de água que o solo consegue reter após a drenagem do excesso. Quando a umidade cai abaixo de 50% dessa capacidade, as plantas entram em estresse hídrico, afetando seu desenvolvimento e produtividade.

  • Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos): Órgão do MCTI responsável por monitorar condições atmosféricas e fornecer previsões climáticas para o Brasil. Suas informações são fundamentais para o planejamento agrícola e a previsão de eventos como estiagens.

  • Déficit hídrico: Situação em que a quantidade de água disponível no solo é insuficiente para atender às necessidades da planta. Pode ser causado por estiagem, alta evaporação ou má distribuição de chuvas ao longo do ciclo da cultura.

  • El Niño: Fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Ele altera os padrões de chuva, causando excesso de precipitação no Sul do Brasil e déficit hídrico no Centro-Oeste e Norte, impactando diretamente as lavouras.

  • Estiagem: Período prolongado de chuvas abaixo da média histórica, sem ser necessariamente uma seca completa. Na agricultura, causa redução da umidade do solo, estresse hídrico nas plantas e queda na produtividade de culturas como soja e milho.

  • Pendoamento: Fase reprodutiva do milho em que a planta libera pólen pela inflorescência masculina (pendão). É um dos momentos mais críticos do ciclo, pois a falta de água nesse período compromete a polinização e reduz drasticamente o número de grãos formados.

  • Plantio direto na palha: Sistema de manejo conservacionista onde o plantio é feito sem revolver o solo, mantendo os restos vegetais da safra anterior na superfície. Essa prática conserva umidade, reduz a erosão e melhora a estrutura do solo, sendo essencial em períodos de estiagem.

  • Senescência foliar: Processo natural de envelhecimento das folhas da planta. Durante uma estiagem, esse processo é antecipado devido ao estresse hídrico, resultando em amarelecimento precoce, queda de folhas e redução da capacidade fotossintética.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Gerenciar a lavoura durante períodos de estiagem exige planejamento detalhado e monitoramento constante das condições climáticas. Acompanhar boletins meteorológicos, registrar dados de umidade do solo e ajustar o manejo em tempo real pode ser complexo sem um sistema integrado que organize essas informações de forma prática.

O Aegro permite que você registre todas as atividades da safra, desde o plantio até a colheita, vinculando cada operação às condições climáticas do período. Com o calendário agrícola integrado e relatórios de produtividade por talhão, você identifica rapidamente quais áreas foram mais afetadas pela estiagem e ajusta suas estratégias de manejo para as próximas safras, minimizando perdas e otimizando recursos.

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Perguntas Frequentes

O que fazer quando a estiagem já começou e a lavoura está mostrando sinais de estresse?

Quando os sintomas aparecem, priorize a irrigação de emergência nas fases mais críticas (florescimento e enchimento de grãos). Se a irrigação não for viável, reduza a competição por água eliminando plantas daninhas e ajuste a adubação, evitando excesso de nitrogênio que aumenta a demanda hídrica. O monitoramento constante da umidade do solo ajuda a tomar decisões mais assertivas.

A estiagem sempre reduz a produtividade da mesma forma em soja e milho?

Não. A sensibilidade ao déficit hídrico varia conforme a fase de desenvolvimento. Na soja, o período mais crítico é o enchimento de grãos (R5-R6), enquanto no milho é o pendoamento e a polinização (VT-R1). Uma estiagem curta de 7-10 dias nesses momentos pode causar perdas de até 40%, mas o mesmo período em fases vegetativas tem impacto menor.

Cultivares tolerantes à seca realmente funcionam em anos de estiagem severa?

Sim, mas com ressalvas. Cultivares tolerantes possuem características como sistema radicular mais profundo e maior eficiência no uso da água, o que reduz as perdas em 10% a 20% comparado a cultivares convencionais. Porém, elas não eliminam totalmente o impacto da estiagem. O ideal é combinar a escolha de cultivares adequadas com práticas de manejo conservacionista.

O plantio direto realmente ajuda a reduzir os efeitos da estiagem?

Sim. O plantio direto mantém a palha na superfície do solo, funcionando como uma camada protetora que reduz a evaporação em até 30%. Além disso, melhora a estrutura do solo ao longo dos anos, aumentando a infiltração e a retenção de água. Propriedades que adotam o sistema há mais de 5 anos apresentam maior resiliência em períodos de déficit hídrico.

Como posso prever se minha região será afetada por estiagem na próxima safra?

Acompanhe os boletins sazonais do Cptec e do Cemaden, que fornecem previsões climáticas com 3 a 6 meses de antecedência. Monitore também os índices de El Niño e La Niña divulgados pelo NOAA (EUA) e pela WMO. Essas informações, combinadas com o histórico de chuvas da sua região, permitem ajustar o calendário de plantio e escolher cultivares mais adequadas ao cenário previsto.

Vale a pena investir em irrigação para evitar perdas com estiagem?

Depende do custo-benefício. Para culturas de alto valor agregado, como sementes e grãos especiais, a irrigação pode ser essencial. Já para soja e milho commodities, o ROI varia conforme a região, a disponibilidade de água e os custos de energia. Uma análise técnica e financeira detalhada, considerando o histórico de estiagens na sua área, é fundamental antes do investimento.

Artigos Relevantes

  • Cultura da soja no Brasil: tudo o que você precisa saber: Este artigo complementa o contexto da estiagem ao detalhar o ciclo completo da soja, desde o plantio até a colheita. Ele explica as fases fenológicas (V e R) mencionadas no artigo principal, permitindo ao leitor entender exatamente em quais momentos do desenvolvimento a falta de água causa mais danos à produtividade.

  • Plantio de milho: guia completo para alta produtividade: Este guia aprofunda as práticas de manejo do milho, cultura fortemente impactada pela estiagem conforme discutido no artigo principal. Ele detalha o momento crítico do pendoamento e oferece estratégias de densidade de plantio e escolha de híbridos que complementam as recomendações de enfrentamento ao déficit hídrico.

  • Manejo do solo: práticas essenciais para produtividade: O artigo principal menciona práticas conservacionistas como solução para a estiagem. Este conteúdo detalha tecnicamente o plantio direto, a rotação de culturas e o uso de coberturas vegetais, fornecendo o passo a passo de implementação dessas estratégias que aumentam a retenção de água no solo.

  • Calendário agrícola: planeje sua safra com precisão: A estiagem torna o planejamento agrícola ainda mais crítico. Este artigo ensina a construir um calendário ajustado às previsões climáticas regionais, permitindo que o produtor antecipe o plantio ou escolha janelas menos arriscadas, estratégia essencial mencionada no texto sobre estiagem.

  • Irrigação na agricultura: sistemas e viabilidade econômica: O artigo principal cita a irrigação localizada como uma das estratégias para reduzir os efeitos da estiagem. Este guia detalha os tipos de sistemas disponíveis, a análise de viabilidade econômica e o cálculo do retorno sobre investimento, transformando a recomendação geral em um plano de ação concreto.