Ferrugem Asiática da Soja: Identificação, Manejo e Nova Legislação

Redação Aegro
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Ferrugem Asiática da Soja: Identificação, Manejo e Nova Legislação

Índice

A ferrugem asiática é uma das doenças mais graves que atacam a cultura da soja, podendo surgir em qualquer fase do desenvolvimento da planta. Em regiões onde a doença se torna uma epidemia, as perdas de produção podem variar drasticamente, indo de 10% a preocupantes 90%.

Para proteger sua lavoura, é fundamental estar atualizado sobre os procedimentos de controle, especialmente com as recentes mudanças na legislação. Um erro no manejo pode custar caro.

Neste artigo, vamos detalhar tudo sobre a ferrugem asiática: como identificá-la, as estratégias de controle consagradas e, o mais importante, as principais mudanças na regulamentação que você precisa conhecer. Continue a leitura para se preparar!

O Que é a Ferrugem Asiática e Por Que Ela é Tão Perigosa?

A ferrugem asiática é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Seu grande perigo está na capacidade de infectar a soja em qualquer estádio de desenvolvimento, desde as fases iniciais até o enchimento dos grãos.

Esse fungo precisa de plantas vivas para sobreviver e se multiplicar. O problema é que ele possui uma vasta lista de hospedeiras: significa que ele consegue infectar muitas outras plantas além da soja. São cerca de 150 espécies de leguminosas que podem abrigar o fungo, dificultando sua erradicação completa.

A Nova Regulamentação para o Controle

Recentemente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou a Portaria n.º 306, que atualizou os procedimentos do PNCFS (Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja).

Cálculo de pulverização de defensivos

Este programa existe desde 2007, criado pela Instrução Normativa n.º 2, e serve como a base para o combate à doença em nível nacional. A nova regulamentação entrou em vigor em 1º de junho de 2021, trazendo mudanças importantes na forma como as decisões de manejo são tomadas.

Como Identificar a Ferrugem Asiática na Lavoura?

Reconhecer a doença no início é crucial para um controle eficaz. Fique atento aos seguintes sinais:

  1. Sintomas Iniciais: Os primeiros sinais são pequenas lesões nas folhas, com uma coloração que vai de castanho a marrom-escuro.
  2. Estruturas do Fungo: Na parte de baixo da folha (face inferior), na mesma direção das lesões, surgem pequenas protuberâncias. Essas estruturas são as urédias: pequenas “bolhas” que produzem e liberam os esporos do fungo.
  3. Desenvolvimento da Doença: Com o avanço da ferrugem, as urédias ficam com uma cor castanho-claro e se abrem, formando um pequeno poro.
  4. Disseminação: É através desses poros que os esporos do fungo são liberados. O vento os carrega para outras folhas e outras plantas, espalhando a doença rapidamente pela lavoura.

composição de três painéis (A, B, C) que ilustram a progressão dos sintomas da ferrugem asiática em uma folha, Fases de desenvolvimento da ferrugem asiática da soja: sintomas iniciais, urédias na face inferior e detalhes das urédias abertas. (Fonte: Embrapa – Rafael M. Soares)

Estratégias de Manejo Integrado: O Que Já Funcionava Antes da Mudança?

No Brasil, o controle da ferrugem asiática sempre se baseou na combinação de várias estratégias, um método conhecido como MID (Manejo Integrado de Doenças). O objetivo é usar diferentes ferramentas para reduzir a pressão da doença, em vez de depender de uma única solução.

As principais estratégias do MID incluem:

  • Cultivares precoces: Utilizar variedades de soja precoce e realizar a semeadura nas épocas recomendadas para sua região.
  • Janelas de semeadura: Seguir o calendário oficial, que define os períodos ideais para o plantio.
  • Eliminação de plantas voluntárias: Controlar a soja “tiguera” ou voluntária: plantas de soja que nascem sozinhas, a partir de grãos perdidos na colheita anterior, e que podem servir de abrigo para o fungo.
  • Vazio sanitário: Respeitar o período de ausência total de plantas de soja vivas no campo. O vazio sanitário é fundamental para quebrar o ciclo do fungo.
  • Cultivares resistentes: Optar por variedades de soja que possuam algum nível de resistência genética à doença.
  • Monitoramento constante: Inspecionar a lavoura com frequência para identificar os primeiros sintomas.
  • Controle químico: Aplicar fungicidas de forma preventiva ou assim que a doença for detectada, seguindo as recomendações técnicas.

Ao plantar cultivares mais precoces no início da janela de semeadura, você consegue “escapar” do pico de pressão da doença, o que ajuda a reduzir o número de aplicações de fungicidas necessárias.

As janelas de semeadura, já bem estabelecidas em muitos estados, guiam o produtor a plantar em épocas que são favoráveis ao desenvolvimento da soja, mas menos propícias para o fungo.

infográfico em formato de tabela que detalha os períodos de semeadura da soja em diferentes estados bra Diferentes períodos de semeadura da soja de acordo com cada estado. (Fonte: Embrapa)

Como o fungo da ferrugem precisa de um hospedeiro vivo para sobreviver, o vazio sanitário é uma das táticas mais eficientes. Ao eliminar todas as plantas de soja do campo por um período, você corta a “ponte verde” que o patógeno usaria para sobreviver até a próxima safra.

gráfico informativo no formato de um calendário, detalhando os períodos de vazio sanitário para a cultu Períodos de vazio sanitário para a cultura da soja em todo o Brasil. (Fonte: Canal Rural)

O Desafio do Controle Químico e a Resistência

O controle químico com fungicidas ainda é a ferramenta mais utilizada para prevenir e frear o avanço da doença. No entanto, é preciso usá-lo com inteligência.

O uso repetido e indiscriminado de fungicidas do mesmo grupo químico pode levar a dois problemas graves: a redução da eficácia do produto ou, pior, o desenvolvimento de resistência no fungo. Isso significa que o patógeno evolui e o defensivo para de fazer efeito.

gráfico de linhas que ilustra a evolução da porcentagem de controle da ferrugem-asiática da soja ao longo d Este gráfico mostra a redução gradual na eficiência de controle da ferrugem asiática ao longo dos anos, mesmo com diferentes princípios ativos. (Fonte: Embrapa)

A Nova Regulamentação: O Que Muda na Prática para o Produtor?

A nova regulamentação traz uma mudança importante na forma como o programa de controle é gerenciado. A principal alteração é quem define as regras do vazio sanitário e do calendário de semeadura.

Antes, as regras eram mais centralizadas. Agora, a responsabilidade de definir e publicar as medidas fitossanitárias passa a ser da Secretaria de Defesa Agropecuária de cada estado.

Em outras palavras: as decisões sobre os períodos de vazio sanitário e as janelas de plantio serão tomadas em nível estadual, tornando as regras mais adaptadas à realidade de cada região produtora.

Essas Secretarias Estaduais deverão basear suas decisões em dados técnicos, trabalhando em conjunto com:

  • Os Órgãos Estaduais de Defesa Sanitária Vegetal (como a ADAPAR no Paraná ou a IAGRO no Mato Grosso do Sul).
  • As Superintendências Federais de Agricultura de cada estado.

Além disso, para definir as datas, deverão ser considerados os resultados de pesquisas de monitoramento da doença, os testes de eficiência de fungicidas e o zoneamento agrícola de risco climático.

Este novo modelo de governança é resultado de amplas discussões entre produtores rurais, pesquisadores e órgãos oficiais, buscando integrar conhecimento prático e científico.

Para os estados que já adotavam o vazio sanitário e o calendário de semeadura, as mudanças práticas são pequenas. O maior impacto será para os estados onde essas práticas ainda não eram obrigatórias.

É importante notar que, para o ano de 2021, as datas já definidas anteriormente foram mantidas. Isso garantiu tempo para que todos os produtores pudessem se planejar sem surpresas.

Conclusão

A ferrugem asiática da soja é uma ameaça séria, com potencial para causar perdas de até 90% da produção. Por isso, saber identificar os sintomas iniciais e aplicar as estratégias de manejo corretas é essencial para proteger sua rentabilidade.

Técnicas como o vazio sanitário e o respeito aos calendários de semeadura são as ferramentas mais eficazes para o controle preventivo da doença, e já são amplamente utilizadas.

Com a nova regulamentação, a adoção dessas duas práticas se fortalece em todo o Brasil, com a vantagem de que as regras agora são definidas localmente, com base em dados técnicos de cada estado.

Manter-se atualizado sobre as regulamentações e as melhores práticas de manejo não é apenas uma obrigação, mas a melhor garantia para uma safra produtiva e segura.

Planejamento da Safra de Soja

Glossário

  • Estádio de desenvolvimento: Refere-se às diferentes fases do ciclo de vida de uma planta, como a germinação, o crescimento vegetativo, o florescimento e o enchimento de grãos. O controle de doenças muitas vezes varia de acordo com o estádio em que a cultura se encontra.

  • Hospedeiras: São plantas que podem abrigar e permitir a sobrevivência e multiplicação de um patógeno, como um fungo. No caso da ferrugem, o fungo possui muitas hospedeiras além da soja, o que dificulta sua erradicação entre as safras.

  • Medidas fitossanitárias: Conjunto de ações e regulamentações para prevenir a introdução e a disseminação de pragas e doenças agrícolas. O vazio sanitário e o calendário de semeadura são exemplos de medidas fitossanitárias.

  • MID (Manejo Integrado de Doenças): Abordagem que combina diferentes estratégias de controle (cultural, genético, químico, etc.) para manter as doenças abaixo do nível de dano econômico. O objetivo é reduzir a dependência de uma única ferramenta, como o uso exclusivo de fungicidas.

  • Phakopsora pachyrhizi: Nome científico do fungo causador da ferrugem asiática da soja. É um patógeno agressivo que se dissemina rapidamente pelo vento e causa a desfolha precoce das plantas, comprometendo a produtividade.

  • PNCFS (Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja): Iniciativa do governo federal que estabelece as diretrizes para o combate à ferrugem em todo o Brasil. Este programa regulamenta práticas essenciais como o vazio sanitário e o calendário de semeadura.

  • Soja “tiguera” ou voluntária: Plantas de soja que nascem espontaneamente na lavoura a partir de grãos perdidos na colheita anterior. Elas funcionam como uma “ponte verde”, abrigando o fungo da ferrugem entre uma safra e outra e dificultando o controle.

  • Urédias: Estruturas reprodutivas do fungo da ferrugem, que aparecem como pequenas bolhas ou pústulas na parte inferior das folhas. São elas que produzem e liberam os esporos responsáveis por espalhar a doença pela lavoura.

  • Vazio sanitário: Período obrigatório em que é proibido manter plantas vivas de soja no campo. Essa prática visa quebrar o ciclo de vida do fungo da ferrugem, eliminando seus hospedeiros e reduzindo a pressão da doença no início da próxima safra.

Como a tecnologia simplifica o controle da ferrugem asiática?

Controlar a ferrugem asiática de forma eficaz, como vimos, envolve um manejo integrado que vai do monitoramento constante à aplicação estratégica de fungicidas. O grande desafio é registrar todas essas operações, rotacionar os produtos para evitar a resistência do fungo e, ao mesmo tempo, manter os custos de produção sob controle para não comprometer a lucratividade da safra.

Nesse cenário, um software de gestão agrícola como o Aegro se torna um aliado poderoso. Com ele, é possível planejar e registrar cada aplicação de defensivo diretamente pelo celular, no campo, criando um histórico detalhado por talhão.

Essa organização facilita o manejo da resistência e, por conectar as operações ao financeiro, oferece uma visão clara dos custos de cada tratamento. O resultado é uma tomada de decisão mais rápida e baseada em dados, garantindo que o investimento no controle da doença traga o melhor retorno.

Cálculo de Adubação para Soja

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Perguntas Frequentes

Qual é a principal mudança da nova regulamentação para o controle da ferrugem asiática?

A principal mudança é a descentralização das decisões. Agora, a responsabilidade de definir os períodos do vazio sanitário e do calendário de semeadura passou a ser das Secretarias de Defesa Agropecuária de cada estado, tornando as regras mais adaptadas à realidade climática e produtiva de cada região.

Por que o vazio sanitário é tão importante no combate à ferrugem da soja?

O vazio sanitário é crucial porque o fungo Phakopsora pachyrhizi precisa de plantas de soja vivas para sobreviver e se multiplicar. Ao eliminar todas as plantas hospedeiras do campo por um período determinado, quebramos o ciclo de vida do fungo, reduzindo drasticamente a sua presença no início da safra seguinte.

Como posso evitar ou retardar a resistência do fungo da ferrugem aos fungicidas?

Para evitar a resistência, é fundamental rotacionar fungicidas com diferentes mecanismos de ação. Evite o uso repetido do mesmo produto ou grupo químico. Além disso, sempre aplique as doses recomendadas pelo fabricante e integre o controle químico com outras práticas de manejo, como o uso de cultivares resistentes e o respeito ao calendário de semeadura.

Plantar uma cultivar de soja resistente à ferrugem elimina a necessidade de aplicar fungicidas?

Não necessariamente. Cultivares resistentes são uma ferramenta importante do Manejo Integrado de Doenças (MID), pois ajudam a retardar o avanço da doença, mas não garantem imunidade total. Em anos de alta pressão da ferrugem, o monitoramento constante e a aplicação complementar de fungicidas ainda podem ser necessários para proteger o potencial produtivo da lavoura.

Qual o impacto real da ferrugem asiática na produtividade se não for controlada a tempo?

O impacto é severo e pode ser devastador para a rentabilidade da safra. A doença causa desfolha precoce, o que impede o completo enchimento dos grãos. Em condições favoráveis à epidemia, as perdas de produtividade podem variar de 10% a até 90%, comprometendo seriamente o resultado financeiro do produtor.

O que são as plantas de soja ’tiguera’ e por que devo eliminá-las?

Soja ’tiguera’ ou voluntária são plantas que nascem de grãos perdidos durante a colheita anterior. Elas devem ser eliminadas porque servem como uma ‘ponte verde’, permitindo que o fungo da ferrugem asiática sobreviva no campo durante o período da entressafra, garantindo sua presença e infecção precoce na safra seguinte.

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