Guia de Fungicidas para Trigo: Como Escolher e Aplicar Corretamente

Tatiza Barcellos
Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Guia de Fungicidas para Trigo: Como Escolher e Aplicar Corretamente

Índice

As doenças causadas por fungos estão se tornando um desafio cada vez maior na cultura do trigo. Em variedades mais sensíveis, a ocorrência de doenças no trigo pode causar perdas significativas na sua produtividade.

Se você lida com esse problema na sua lavoura, é fundamental conhecer os melhores fungicidas disponíveis e como usá-los da forma certa.

Neste artigo, vamos explicar quando começar a aplicação, como escolher o produto ideal e quais cuidados tomar para garantir o melhor resultado. Vamos lá!

Qual é a importância dos fungicidas em trigo?

Fungicidas são defensivos agrícolas essenciais para controlar doenças causadas por fungos, bactérias e algas. No cultivo do trigo, eles são especialmente importantes.

As doenças fúngicas estão entre os principais fatores que limitam a produção do cereal. Elas afetam o desenvolvimento das plantas, comprometem a qualidade dos grãos e, consequentemente, derrubam a produtividade da lavoura.

Cálculo de pulverização de defensivos

Por isso, usar fungicidas de forma estratégica é uma ferramenta crucial para proteger sua produção e garantir a qualidade do trigo.

Quando iniciar a aplicação?

A regra de ouro é: quanto mais cedo você controlar a doença, maior a chance de sucesso do seu manejo fitossanitário: significa o conjunto de práticas para manter as plantas sadias.

Na cultura do trigo, a decisão do momento certo para aplicar depende de uma análise cuidadosa da lavoura e das condições do ambiente.

Aplicação Preventiva vs. Curativa

  • Preventiva: Muitos fungicidas funcionam melhor quando aplicados antes do surgimento da doença. A aplicação ocorre quando o clima está favorável à infecção (alta umidade, temperaturas específicas), reduzindo as chances de o fungo se instalar.
  • Curativa (ou Erradicante): Após a doença já estar presente na lavoura, utilizam-se fungicidas com efeito curativo para tratar as plantas já doentes. Embora eficaz, o controle pode ser mais difícil e caro.

Fatores Decisivos para a Aplicação

Para escolher a hora certa de entrar com o pulverizador, você precisa considerar alguns pontos-chave:

  1. Conheça o histórico da área: Avalie quais pragas no trigo e doenças ocorreram nas safras passadas. Anote também os produtos químicos utilizados, as adubações e o sistema de cultivo adotado.
  2. Monitore a lavoura constantemente: Apenas com vistorias regulares é possível identificar os primeiros focos de doenças, entender como elas estão se espalhando, medir o nível de infestação e ver em qual estágio a infecção se encontra.
  3. Fique atento ao clima: Sob condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de fungos (como alta umidade e temperaturas amenas), a atenção deve ser redobrada.
  4. Considere a cultivar: Verifique o grau de suscetibilidade da variedade de trigo que você plantou. Cultivares mais resistentes oferecem uma janela maior para o controle.
  5. Entenda o comportamento do patógeno: Saber quais condições favorecem cada tipo de doença ajuda a antecipar os problemas e a tomar a decisão de aplicar o fungicida no momento certo.

Melhores fungicidas para oídio, mancha-amarela, ferrugem e outras doenças

As principais doenças fúngicas que afetam o trigo e causam dores de cabeça ao produtor incluem:

Pesquisas indicam que, para o controle da ferrugem e da mancha-amarela, a combinação de epoxiconazol + fluxapiroxade + piraclostrobina apresenta uma eficiência de aproximadamente 85%.

Grupos Químicos e Recomendações de Uso

O manejo dessas doenças geralmente se baseia em dois grupos principais de fungicidas: estrobilurinas e triazóis.

  • Estrobilurinas: Devem ser sempre utilizadas em associação com os triazóis. Nunca aplique uma estrobilurina de forma isolada, pois isso aumenta o risco de resistência do fungo.
  • Triazóis: Devem ser combinados com fungicidas de mecanismos de ação diferentes, como as estrobilurinas e os fungicidas multissítio. As aplicações devem ser feitas preferencialmente de maneira preventiva.

Nas tabelas a seguir, confira algumas recomendações de fungicidas para o controle de doenças foliares e para o tratamento de sementes.

uma tabela detalhada e comparativa de fungicidas utilizados na agricultura. As colunas organizam as informaçõe

Fungicidas para controle de oídio, manchas foliares, ferrugem da folha e do colmo (Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale)

Os fungicidas também são uma ferramenta poderosa no tratamento das sementes de trigo, protegendo a planta em seus estágios iniciais. Veja abaixo alguns produtos indicados para essa finalidade.

uma tabela informativa que compara diferentes produtos químicos agrícolas, provavelmente fungicidas, utilizado

Fungicidas indicados para o tratamento de sementes de trigo e triticale (Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale)

Manejo Integrado é a Chave do Sucesso

Lembre-se: o uso de fungicidas é apenas uma das ferramentas para garantir uma lavoura produtiva de trigo. O controle eficiente envolve a adoção de outras práticas integradas, como:

  • Realizar o plantio na época recomendada para sua região.
  • Utilizar sementes certificadas e de boa qualidade.
  • Escolher cultivares de trigo com maior grau de resistência às principais doenças.
  • Praticar a rotação de culturas para quebrar o ciclo dos patógenos.

É importante destacar que os custos com fungicidas representam uma parcela significativa do custo total de produção do trigo. Por isso, é essencial aliar o conhecimento técnico com a análise econômica para definir as melhores estratégias para a sua realidade.

Cuidados na aplicação de fungicidas no trigo

O uso de qualquer defensivo agrícola exige cautela e responsabilidade. Para a aplicação de fungicidas, siga rigorosamente as instruções da bula do produto. Preste atenção especial aos seguintes pontos:

  • Instruções da Bula: Respeite a dosagem, o intervalo de segurança (tempo entre a aplicação e a colheita), o número máximo de aplicações e a época correta de uso.
  • Evite Superdosagem: Exceder a dose recomendada não melhora o controle. Pelo contrário, pode causar fitotoxicidade: significa que o produto em excesso pode queimar ou intoxicar as plantas, prejudicando o desenvolvimento delas, além de aumentar desnecessariamente seus custos.
  • Rotação de Mecanismos de Ação: Alterne o uso de fungicidas com diferentes modos de ação. Isso é fundamental para evitar a seleção de patógenos resistentes: significa que os fungos se tornam “imunes” ao produto, que perde a eficácia.
  • Condições Climáticas Ideais: Monitore o clima no momento da aplicação para garantir a qualidade da pulverização e evitar a deriva: quando o vento carrega o produto para fora da área desejada. Os principais fatores a serem observados são:
    • Umidade relativa do ar: Idealmente acima de 55%.
    • Temperatura: Abaixo de 30°C.
    • Vento: Velocidade entre 3 e 10 km/h.
  • Tecnologia de Aplicação: Utilize equipamentos e tecnologias de aplicação bem regulados. Isso garante o tamanho ideal de gota, uma boa cobertura das folhas e uma deposição uniforme do produto sobre o alvo.
  • Segurança: O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é obrigatório e protege a saúde do aplicador. O descarte correto das embalagens protege o meio ambiente.

Conclusão

Os fungicidas são ferramentas essenciais no manejo de doenças provocadas por fungos na cultura do trigo. As principais doenças podem ser controladas com o uso correto desses produtos.

O manejo eficiente combina o uso de fungicidas químicos, especialmente dos grupos triazóis e estrobilurinas, com outras boas práticas agrícolas, como rotação de culturas e escolha de variedades resistentes.

Considerando a importância econômica do trigo, é fundamental ter um plano de manejo bem estruturado. Em caso de dúvida, consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) de sua confiança.

Guia completo sobre as culturas de inverno

Glossário

  • Cultivar: Refere-se a uma variedade específica de planta que foi desenvolvida por meio de melhoramento genético para apresentar características desejadas, como resistência a doenças ou maior produtividade. A escolha da cultivar correta é um passo fundamental no planejamento da safra.

  • Deriva: Fenômeno que ocorre quando o produto pulverizado (como um fungicida) é carregado pelo vento para fora da área de aplicação desejada. A deriva reduz a eficácia do tratamento e pode contaminar áreas vizinhas, sendo controlada com a aplicação em condições climáticas ideais (vento entre 3 e 10 km/h).

  • Estrobilurinas: Grupo químico de fungicidas que age inibindo a respiração dos fungos, com forte ação preventiva. Para evitar o desenvolvimento de resistência, devem ser sempre aplicados em mistura com fungicidas de outros grupos, como os triazóis.

  • Fitotoxicidade: Efeito tóxico que um defensivo agrícola, aplicado em excesso ou em condições erradas, pode causar na planta. Manifesta-se como queimaduras nas folhas, deformações ou redução no crescimento, prejudicando a produtividade.

  • Fungicida Multissítio: Tipo de fungicida que atua em vários pontos do metabolismo do fungo ao mesmo tempo. Essa característica torna muito mais difícil que o patógeno desenvolva resistência ao produto.

  • Intervalo de Segurança: Período de tempo, em dias, que deve ser respeitado entre a última aplicação do defensivo e a colheita do produto agrícola. Seguir este intervalo garante que o alimento chegue ao consumidor sem resíduos químicos acima dos limites permitidos por lei.

  • Manejo Fitossanitário: Conjunto integrado de práticas para manter as plantas saudáveis e livres de pragas e doenças. Envolve ações como monitoramento da lavoura, escolha de cultivares resistentes e uso correto e estratégico de defensivos.

  • Patógeno: Organismo microscópico, como um fungo ou uma bactéria, capaz de causar doenças em plantas. No contexto do trigo, os fungos que causam a ferrugem da folha e a giberela são exemplos de patógenos importantes.

  • Triazóis: Um dos principais grupos químicos de fungicidas, conhecidos por sua capacidade de se mover dentro da planta (sistêmicos) e por sua ação tanto curativa quanto preventiva. São a base para o controle de muitas doenças no trigo, como ferrugens e manchas foliares.

Veja como o Aegro pode otimizar o manejo e os custos

Gerenciar o custo com defensivos e, ao mesmo tempo, manter um histórico detalhado de aplicações e monitoramentos para decidir o momento certo de agir é um grande desafio. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo registrar cada vistoria no campo e planejar as pulverizações de forma mais estratégica, com base em dados reais da sua lavoura.

Além do controle agronômico, a ferramenta organiza os custos de produção, mostrando exatamente o quanto está sendo investido em fungicidas e outros insumos. Com relatórios visuais, fica mais fácil analisar o retorno sobre o investimento de cada aplicação e tomar decisões que protegem tanto a lavoura quanto a rentabilidade do negócio.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre a aplicação preventiva e a curativa de fungicidas no trigo?

A aplicação preventiva é realizada antes do surgimento dos sintomas da doença, com base em condições climáticas favoráveis à infecção, visando proteger a planta. Já a aplicação curativa ocorre quando a doença já está instalada na lavoura, buscando controlar a infecção. A abordagem preventiva é geralmente mais eficaz e econômica, pois evita perdas iniciais de produtividade.

Por que é tão importante não aplicar fungicidas do grupo das estrobilurinas de forma isolada?

Aplicar estrobilurinas sozinhas acelera o processo de seleção de fungos resistentes, fazendo com que o produto perca a eficácia rapidamente. A combinação com fungicidas de outros grupos, como os triazóis, cria múltiplos mecanismos de ação, dificultando o desenvolvimento de resistência e garantindo um controle mais duradouro e eficiente.

O uso de cultivares de trigo resistentes a doenças elimina a necessidade de aplicar fungicidas?

Não elimina, mas reduz a dependência. Cultivares resistentes são uma ferramenta fundamental do manejo integrado, oferecendo uma maior tolerância às doenças. No entanto, sob condições de alta pressão do patógeno e clima muito favorável, a aplicação de fungicidas pode ser necessária para complementar a proteção e garantir o potencial produtivo da lavoura.

O que é fitotoxicidade e como posso evitá-la ao usar fungicidas no trigo?

Fitotoxicidade é o dano químico causado à planta pelo defensivo, manifestando-se como queimaduras nas folhas ou atraso no desenvolvimento. Para evitá-la, é crucial seguir rigorosamente a dosagem recomendada na bula do produto, evitar aplicações nas horas mais quentes do dia e não misturar produtos incompatíveis no tanque de pulverização.

Além do monitoramento da lavoura, qual outra prática de manejo integrado é crucial para o controle de doenças no trigo?

A rotação de culturas é uma prática essencial. Alternar o plantio de trigo com culturas não hospedeiras, como a soja ou o milho, ajuda a quebrar o ciclo de vida dos patógenos presentes no solo e nos restos culturais. Isso diminui a quantidade de inóculo inicial na safra seguinte, reduzindo a pressão de doenças e a necessidade de pulverizações.

Quais as condições climáticas ideais para garantir uma aplicação de fungicida eficaz e segura?

As condições ideais para a pulverização são: umidade relativa do ar acima de 55%, temperatura abaixo de 30°C e ventos com velocidade entre 3 e 10 km/h. Essas condições minimizam a evaporação das gotas e o risco de deriva, garantindo que o produto atinja o alvo corretamente e tenha máxima eficácia.

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