Murcha-de-Fusarium no Feijão: Guia Completo de Identificação e Controle

Bruna Rohrig
Redatora parceira Aegro.
Murcha-de-Fusarium no Feijão: Guia Completo de Identificação e Controle

Índice

A murcha-de-Fusarium é uma das principais doenças do feijão que mais preocupa o produtor. Ela ataca com maior frequência o feijão-comum e o feijão-caupi, podendo surgir em qualquer fase do cultivo.

O grande desafio é que sua intensidade aumenta com o passar dos anos na mesma área. Isso ocorre porque o fungo causador é um habitante de solo: significa que ele sobrevive na terra por longos períodos, o que torna seu controle progressivamente mais difícil.

Neste artigo, vamos detalhar como combater a murcha-de-Fusarium no feijão, mostrando como identificar os sintomas no campo e quais são as principais medidas de controle para reduzir e evitar danos na sua lavoura.

O que é a murcha-de-Fusarium em feijão?

A murcha-de-Fusarium, também conhecida como fusariose, é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli.

Pense no gênero Fusarium como uma grande família de fungos que causam doenças em diversas plantas. A variação f. sp. phaseoli é a que se especializou em atacar especificamente o feijoeiro.

Cálculo de pulverização de defensivos

Esses fungos são capazes de usar muitas culturas diferentes como hospedeiras e estão amplamente distribuídos pelas regiões produtoras de alimentos no mundo, sendo uma ameaça constante para lavouras de feijão-comum e feijão-caupi.

Murcha-de-Fusarium: Como Identificar os Sintomas

Os sintomas visíveis na parte de cima da planta são, na verdade, um reflexo do que está acontecendo no sistema radicular. Para um diagnóstico preciso, é importante observar tanto as folhas quanto as raízes e o caule.

Os sinais mais comuns que você deve observar no campo são:

  • Amarelecimento e Murcha das Folhas: As folhas ficam amarelas e a planta inteira parece murcha, especialmente nas horas mais quentes do dia. Em casos severos, isso pode levar à morte da planta.
  • Sintomas em Reboleiras: Inicialmente, é comum que os sintomas apareçam em manchas isoladas na lavoura, conhecidas como reboleiras: significa que a doença está concentrada em algumas áreas.
  • Perda de Rigidez: A planta perde a firmeza dos tecidos, principalmente durante períodos de falta de água ou em dias mais secos.
  • Crescimento Reduzido: Quando a doença ataca no período vegetativo, as plantas não se desenvolvem normalmente, ficando menores e raquíticas.
  • Danos às Vagens: Nas vagens, podem surgir lesões com aparência úmida (aspecto aquoso). O fungo pode contaminar as sementes, um problema grave se elas forem usadas para um novo plantio, pois isso espalha a doença para outras áreas.

Sinais Internos da Doença

  • Escurecimento Vascular: Ao fazer um corte no caule, é possível notar um escurecimento dos vasos internos da planta (sistema vascular: os “canos” que transportam água e nutrientes). Atenção: a ausência desse sintoma não descarta a presença da doença.
  • Estruturas do Fungo: Em períodos de alta umidade, você pode ver estruturas de cor cinza a rosada nas raízes e na base do caule, que são o próprio fungo se desenvolvendo.

Fatores que Agravam o Problema

A doença se torna ainda mais severa em áreas infestadas com nematoides, como o nematoide-das-galhas. Esses vermes microscópicos causam ferimentos nas raízes, que se tornam portas de entrada para o fungo Fusarium.

É fundamental investigar qualquer irregularidade na lavoura, pois a murcha pode ser confundida com outras doenças ou com simples estresse hídrico.

uma análise comparativa do estado de saúde de plântulas, provavelmente de soja, dispostas sobre uma superfície

Sinais de murcha-de-Fusarium nas raízes de feijão Fonte: (Esalq-USP)

Condições Favoráveis para o Fungo Fusarium sp. no Feijão

Embora a doença possa se manifestar a qualquer momento, os danos mais severos ocorrem a partir do florescimento. Nessa fase, a planta precisa de um fluxo maior de água e nutrientes para o enchimento dos grãos, e o sistema vascular danificado não consegue suprir essa demanda.

As seguintes condições favorecem o desenvolvimento do fungo:

  • Temperatura e Umidade: Temperaturas amenas, entre 24°C e 28°C, combinadas com alta umidade do solo, criam o ambiente ideal.
  • Tipo de Solo: Solos compactados, arenosos, ácidos e com baixo teor de matéria orgânica são mais propensos ao problema.

Apesar disso, outros tipos de solo também podem ser severamente impactados. Por isso, a doença não deve ser negligenciada em nenhuma situação.

O impacto na produtividade depende da severidade da doença e da suscetibilidade da cultivar utilizada. Em variedades mais sensíveis, os danos podem ultrapassar 50% da produção, chegando até à perda total da lavoura.

close-up da mão de uma pessoa, provavelmente um agricultor ou agrônomo, segurando uma folha de planta doen

Sinais de murcha-de-fusarium em folhas de feijão Fonte: (TopCropManager)

Como Fazer o Controle de Fusarium no Feijão?

O controle da murcha-de-Fusarium apenas com fungicidas aplicados na lavoura não é uma medida eficiente. Como o fungo vive no solo e sobrevive por longos períodos, é preciso adotar uma estratégia integrada.

Controle Genético: A Principal Ferramenta

A forma mais eficaz de controle é o uso de cultivares resistentes. Ao escolher a semente, dê preferência para variedades que tenham resistência genética comprovada à fusariose. Essa é a sua principal linha de defesa.

Controle Cultural: Rotação de Culturas

Em áreas com histórico da doença, a rotação de culturas é uma prática obrigatória. Ela funciona como uma medida preventiva que quebra o ciclo de vida do fungo.

Como o patógeno ataca feijão-comum e feijão-caupi, essas culturas não devem ser plantadas na área por um determinado período. O ideal é inserir espécies não hospedeiras (como milho, sorgo ou gramíneas forrageiras) para reduzir a população do fungo no solo.

Qual o Melhor Fungicida para Fusarium?

O uso de fungicidas é mais eficaz como uma medida protetora, principalmente no tratamento de sementes. Essa prática protege as plântulas nos estágios iniciais, quando são mais vulneráveis.

Atualmente, existem produtos registrados no Agrofit para o controle da doença no feijão. Os principais grupos químicos utilizados combinam:

  • Estrobilurina + Benzimidazóis
  • Fenilpirrol + Acilalaninato + Benzimidazol + Neonicotinoide

Importante: a escolha do melhor fungicida para Fusarium deve ser baseada na análise da sua lavoura e feita com o acompanhamento de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).

Como Combater a Murcha-de-Fusarium Antes Dela Chegar na Lavoura?

A prevenção é sempre a estratégia mais barata e eficiente. Adotar boas práticas agrícolas é crucial para manter a doença longe da sua propriedade.

  1. Use Sementes Certificadas: É indispensável utilizar sementes de qualidade, livres de patógenos. Elas são produzidas sob fiscalização rigorosa, garantindo sanidade.
  2. Manejo de Solo: Invista em práticas que melhorem a saúde do solo. Ações como descompactação, calagem para corrigir a acidez e aumento da matéria orgânica tornam o ambiente menos favorável ao fungo.
  3. Limpeza de Maquinário: Se você trabalha em áreas com suspeita da doença, tome cuidado com o trânsito de máquinas. Opere primeiro nos talhões sadios e deixe os talhões suspeitos por último. Lave bem os implementos para não transportar solo contaminado para áreas limpas.

Conclusão

A murcha-de-Fusarium, também chamada de amarelecimento-de-Fusarium, é uma doença séria que pode reduzir drasticamente a produtividade do feijão-comum e do feijão-caupi.

Como seus sintomas são parecidos com os de outros problemas, um diagnóstico correto é fundamental para aplicar as medidas de controle adequadas e evitar gastos desnecessários.

A estratégia mais eficiente combina o controle genético (uso de cultivares resistentes) e o tratamento de sementes, junto com boas práticas agrícolas que promovam a saúde do solo. Adotando essas medidas de forma integrada, você protege seu investimento e garante a sustentabilidade da sua produção.

Cálculo de Calagem

Glossário

  • Cultivares resistentes: Variedades de plantas, neste caso de feijão, que foram desenvolvidas geneticamente para ter defesas naturais contra doenças específicas, como a murcha-de-Fusarium. A escolha dessas cultivares é a principal forma de controle preventivo.

  • Estresse hídrico: Condição em que uma planta sofre com a falta de água, resultando em sintomas como murcha e amarelamento das folhas. Esses sinais podem ser facilmente confundidos com os da murcha-de-Fusarium.

  • Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli: Nome científico completo do fungo que causa a murcha-de-Fusarium no feijoeiro. A sigla “f. sp.” (forma specialis) indica que esta é uma forma do fungo especializada em atacar plantas do gênero Phaseolus (feijão).

  • Habitante de solo: Refere-se a microrganismos, como o fungo Fusarium, que sobrevivem por longos períodos no solo, mesmo sem a presença de uma planta hospedeira. Essa característica torna seu controle e erradicação muito difíceis.

  • Patógeno: Termo geral para qualquer microrganismo (fungo, bactéria, vírus) capaz de causar uma doença em um organismo vivo. No artigo, o Fusarium é o patógeno que ataca o feijoeiro.

  • Reboleiras: Termo de campo usado para descrever a ocorrência de uma doença ou praga em manchas ou áreas isoladas dentro da lavoura. É um sintoma inicial comum da murcha-de-Fusarium.

  • Rotação de culturas: Prática agrícola que consiste em alternar o plantio de diferentes espécies vegetais em uma mesma área ao longo do tempo. É usada para quebrar o ciclo de vida de patógenos de solo, como o Fusarium, reduzindo sua população.

  • Sistema vascular: Rede interna de “vasos” (xilema e floema) da planta, responsável por transportar água e nutrientes das raízes para o resto da planta. O fungo Fusarium ataca e obstrui esse sistema, causando a murcha e o escurecimento interno do caule.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Gerenciar o controle integrado da murcha-de-Fusarium, que envolve rotação de culturas, monitoramento de áreas afetadas e limpeza de maquinário, exige uma organização precisa. Além do desafio operacional, é fundamental controlar os custos com sementes tratadas e fungicidas para garantir que o manejo não comprometa a rentabilidade da safra.

Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações. Ele permite planejar e acompanhar todas as atividades no campo em tempo real, criando um histórico preciso por talhão. Isso não só organiza o manejo para evitar a disseminação da doença, mas também fornece dados claros sobre os custos de produção, ajudando a tomar decisões mais seguras para proteger a lavoura e o seu lucro.

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Perguntas Frequentes

Por que a murcha-de-Fusarium é considerada uma doença de difícil controle no feijão?

O grande desafio está no fato de o fungo, Fusarium oxysporum, ser um ‘habitante de solo’. Isso significa que ele sobrevive na terra por longos períodos, mesmo sem a presença do feijoeiro, tornando sua erradicação muito difícil. Por isso, o controle exige uma abordagem integrada e contínua, não apenas uma única ação.

Qual a principal diferença entre os sintomas da murcha-de-Fusarium e os de estresse hídrico (falta de água)?

Embora ambos causem murcha, a fusariose geralmente aparece em manchas isoladas (reboleiras) e pode causar um amarelamento progressivo das folhas. O sinal de diagnóstico mais claro é o escurecimento do sistema vascular, visível ao cortar o caule da planta. O estresse hídrico tende a afetar a lavoura de forma mais uniforme e não causa este escurecimento interno.

A aplicação de fungicidas nas folhas é eficaz para combater a murcha-de-Fusarium?

Não, a aplicação foliar de fungicidas tem baixa eficácia contra esta doença. O fungo ataca a planta a partir do solo, infectando as raízes e colonizando os vasos internos. Portanto, o uso de fungicidas é mais eficiente quando aplicado via tratamento de sementes, protegendo as plântulas em seus estágios iniciais de desenvolvimento.

Qual a importância da rotação de culturas para o manejo do Fusarium e quais culturas são recomendadas?

A rotação de culturas é uma prática preventiva crucial para quebrar o ciclo de vida do fungo no solo, reduzindo sua população. Recomenda-se alternar o plantio com espécies não hospedeiras, como milho, sorgo ou gramíneas forrageiras. Evitar o plantio sucessivo de feijão-comum ou feijão-caupi na mesma área é essencial para um manejo sustentável.

O tratamento de sementes com fungicida protege a planta de feijão durante todo o seu ciclo?

Não completamente. O tratamento de sementes oferece uma proteção fundamental nos estágios iniciais da cultura, um período de alta vulnerabilidade. Contudo, sua eficácia diminui com o tempo. Para garantir a sanidade da lavoura durante todo o ciclo, é indispensável combinar o tratamento com outras estratégias, como o uso de cultivares resistentes e a rotação de culturas.

Posso usar sementes salvas de uma área com histórico de Fusarium para o próximo plantio?

Não, isso é altamente arriscado. O fungo Fusarium pode ser transmitido pelas sementes, mesmo que elas não apresentem sintomas visíveis. Reutilizar sementes de uma área contaminada é uma das principais formas de disseminar a doença para novos talhões, comprometendo safras futuras. A recomendação é sempre utilizar sementes certificadas e livres de patógenos.

Como os nematoides podem agravar os problemas com a fusariose na lavoura?

Os nematoides, especialmente o nematoide-das-galhas, causam ferimentos nas raízes das plantas ao se alimentarem. Essas lesões funcionam como portas de entrada perfeitas para o fungo Fusarium, facilitando a infecção. A presença de ambos os patógenos no solo cria uma interação que potencializa os danos e torna a doença ainda mais severa.

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