Irrigação por Aspersão: O Guia Completo do Convencional ao Pivô Central

Foto de perfil de Marcelo Santoro
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor na linha de pesquisa de fruticultura.
Irrigação por Aspersão: O Guia Completo do Convencional ao Pivô Central

Índice

A irrigação por aspersão é o método mais popular no agronegócio mundial, principalmente por sua grande versatilidade e capacidade de adaptação a diferentes terrenos. No entanto, é fundamental entender que “mais popular” não significa “o melhor” para todas as situações.

A escolha do sistema de irrigação ideal depende de uma análise cuidadosa de fatores como cultura, topografia e custo. Para acertar na decisão, é essencial conhecer a fundo as opções disponíveis.

Este guia completo vai detalhar tudo o que você precisa saber sobre a irrigação por aspersão, desde seus componentes básicos até os resultados práticos no campo, para que você possa tomar a melhor decisão para a sua fazenda.

Método ou Sistema de Irrigação: Qual a Diferença?

Antes de aprofundar, é importante esclarecer uma diferença fundamental: método e sistema de irrigação não são a mesma coisa.

  • Método de Irrigação: Refere-se à forma como a água é aplicada na lavoura. É o conceito geral.
  • Sistema de Irrigação: É o conjunto de equipamentos e peças (bombas, tubos, aspersores) que executam o método escolhido.

Existem quatro métodos principais de irrigação, cada um com seus sistemas específicos:

  • Superficial (ou por superfície);
  • Aspersão;
  • Localizada;
  • Subsuperfície (ou subterrânea).
Planilha de Custos de Pivô

Neste artigo, nosso foco será o método de irrigação por aspersão.

O que é a Irrigação por Aspersão?

A irrigação por aspersão é um método que aplica água sobre a lavoura de uma forma que simula a chuva. Nesse processo, a água é pressurizada, passa por tubulações e é lançada ao ar através de aspersores, caindo sobre as plantas e o solo em forma de gotas.

Sem dúvida, é a abordagem mais clássica e difundida na agricultura moderna.

composição que compara dois sistemas de irrigação agrícola distintos. À esquerda, um sistema de pivô central,
Pivô central e aspersão convencional. (Fonte: Safra Irrigação)

Para que essa “chuva artificial” aconteça, os sistemas dependem de três partes principais que trabalham juntas: bombeamento, transporte e distribuição da água.

1. Bombeamento: O Coração do Sistema

O principal componente aqui é o conjunto motobomba, formado por uma bomba centrífuga e um motor acionador. Este conjunto é responsável por captar a água da fonte (rio, açude, poço) e impulsioná-la com pressão suficiente para chegar até os aspersores.

As motobombas podem ser acionadas por energia elétrica ou por motores de combustão a diesel. A escolha correta e o dimensionamento adequado do conjunto motobomba são cruciais para o bom funcionamento do sistema, evitando gastos excessivos de energia ou falta de pressão na ponta.

2. Transporte: As Veias do Sistema

Os componentes de transporte são as tubulações que levam a água pressurizada da motobomba até os pontos de distribuição na lavoura.

Esses tubos podem ser fabricados com diferentes materiais, dependendo da sua função (linha principal, secundária ou lateral) e do orçamento do projeto. Os mais comuns são:

  • Materiais Metálicos: Aço zincado, alumínio e ferro fundido.
  • Materiais Plásticos: PVC ou polietileno.

A escolha correta do material e do diâmetro das tubulações é essencial para garantir a eficiência hidráulica e a viabilidade econômica do projeto.

3. Distribuição: A Aplicação da Água

Os aspersores são os componentes que finalmente distribuem a água sobre a cultura. Eles são a parte mais visível do sistema e determinam a qualidade da “chuva”.

Eles podem ser classificados por diversos critérios, como o tipo de movimento, alcance do jato, pressão de trabalho e tamanho das gotas, conforme detalhado na tabela abaixo.

uma tabela técnica detalhada que classifica aspersores de irrigação com base em diversos critérios operacionai
(Fonte: adaptado de Testezlaf, 2017)

De forma geral, o critério mais comum para diferenciar os aspersores é o seu movimento, sendo os rotacionais os mais utilizados na agricultura.

Agora que você entende os componentes, vamos conhecer os dois principais tipos de sistemas de aspersão: o convencional e o mecanizado.

Sistema de Aspersão Convencional

Os sistemas convencionais são aqueles que utilizam os componentes básicos que descrevemos: motobombas, tubulações e aspersores, sem uma estrutura de movimentação automatizada.

Eles podem ser de dois tipos:

  • Sistemas Móveis: As tubulações e aspersores são movidos manualmente ou com tratores pela área para irrigar diferentes setores da lavoura.
  • Sistemas Fixos: A tubulação fica permanentemente instalada (enterrada ou na superfície) e os aspersores são posicionados de forma estratégica para cobrir toda a área desejada sem necessidade de movimentação.
uma lavoura em estágio inicial de desenvolvimento, com fileiras de pequenas plantas verdes brotando do solo es
Sistema de irrigação por aspersão convencional. (Fonte: Boas Práticas Agronômicas)

Sistema de Aspersão Mecanizado

Nos sistemas mecanizados, os aspersores são instalados em grandes estruturas, geralmente metálicas, que se movem pela área para realizar a irrigação de forma automatizada ou semi-automatizada.

No Brasil, os dois sistemas mecanizados mais conhecidos e utilizados são:

  • Pivô Central: Uma grande estrutura metálica que se move em um padrão circular em torno de um ponto central (o pivô). É ideal para grandes áreas planas e uniformes. Veja mais sobre o pivô central.
  • Carretel Enrolador (ou Autopropelido): Consiste em uma mangueira enrolada em um grande carretel. Um “carrinho” com um aspersor gigante (canhão) é puxado pela área, irrigando em um movimento linear.
uma ampla lavoura de algodão, com as plantas verdes e saudáveis dispostas em fileiras perfeitamente alinhadas
Sistema de irrigação por aspersão mecanizada em pivô central. (Fonte: Hidrosistemas)

Vantagens da Irrigação por Aspersão

A popularidade deste método se deve a benefícios claros para o produtor:

  • Adaptabilidade a diferentes topografias: A principal vantagem é que não exige nivelamento do terreno, adaptando-se bem a áreas com relevo ondulado.
  • Flexibilidade e Controle: Permite ajustar com precisão a lâmina d’água (quantidade de água aplicada) de acordo com a necessidade de cada fase da cultura.
  • Eficiência no Uso da Água: Comparado a métodos como a irrigação por sulcos, o volume de água aplicado é facilmente medido e controlado, reduzindo desperdícios.

Desvantagens a Considerar

Apesar dos benefícios, existem pontos de atenção que devem ser avaliados:

  • Sensibilidade ao Vento: Ventos fortes podem prejudicar seriamente a uniformidade da distribuição de água, fazendo com que uma parte da lavoura receba mais água que outra.
  • Risco de Doenças Foliares: O molhamento constante das folhas cria um ambiente favorável para o desenvolvimento de fungos e outras doenças. É um fator a ser considerado no manejo fitossanitário.
  • Dependência de Energia: O sistema depende totalmente de energia elétrica ou motores a diesel para acionar as motobombas e pressurizar a rede. Em sistemas de pivô central, a energia é ainda mais crítica, pois alimenta todo o painel de controle, a automação e a fertirrigação[fertirrigação]: significa aplicar fertilizantes junto com a água da irrigação.

Resultados da Irrigação por Aspersão no Campo

Na prática, os sistemas de aspersão, especialmente os pivôs centrais, têm gerado resultados expressivos para diversas culturas no Brasil.

vasta lavoura de algodão em ponto de colheita, com os capulhos brancos e abertos em primeiro plano. Ao f
Área de algodão sob pivô central no Mato Grosso. (Fonte: Grupo Cultivar)
Controle de Custos de Safra

Glossário

  • Aspersor: Componente final do sistema de irrigação que lança a água pressurizada no ar, simulando a chuva. Os tipos variam em alcance, pressão de trabalho e tamanho das gotas para se adequar a diferentes culturas e condições.

  • Conjunto Motobomba: Equipamento composto por um motor (elétrico ou a combustão) e uma bomba centrífuga, responsável por captar a água da fonte e pressurizá-la para distribuição na lavoura. É o “coração” do sistema de irrigação.

  • Fertirrigação: Técnica de aplicar fertilizantes diretamente na água de irrigação. Este método permite uma nutrição mais eficiente e controlada das plantas, otimizando o uso de insumos.

  • Lâmina d’água: Medida que representa a quantidade de água aplicada sobre a lavoura, geralmente expressa em milímetros (mm). Uma lâmina de 10 mm, por exemplo, equivale a aplicar 10 litros de água por metro quadrado de solo.

  • Pivô Central: Sistema de irrigação mecanizado e automatizado, composto por uma longa estrutura metálica que se move em um padrão circular sobre a lavoura. É um dos sistemas mais utilizados para irrigar grandes áreas planas.

  • Sequeiro: Termo que define o cultivo agrícola realizado sem irrigação artificial, dependendo exclusivamente da água da chuva. A produtividade em sequeiro é comparada com a de áreas irrigadas para medir os ganhos da tecnologia.

  • Topografia: Refere-se às características do relevo de uma área, como ondulações e inclinações. A irrigação por aspersão é muito adaptável a diferentes topografias, pois não exige que o terreno seja perfeitamente plano.

Como o Aegro ajuda a transformar o custo da irrigação em lucro

A irrigação por aspersão eleva a produtividade, mas também traz novos desafios de gestão, como o aumento dos custos com energia e a maior necessidade de controle de doenças foliares. Para garantir que esse investimento se pague, é fundamental ter um controle financeiro e operacional preciso. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo que você acompanhe detalhadamente os gastos com energia e defensivos, vinculando-os diretamente à sua lavoura irrigada.

Além de registrar os custos, a ferramenta ajuda a planejar as atividades de manejo fitossanitário, garantindo que as aplicações sejam feitas no momento certo para proteger o potencial produtivo da cultura. Com dados organizados, fica mais fácil analisar se o aumento da colheita está, de fato, cobrindo os custos e gerando o lucro esperado.

Que tal simplificar a gestão da sua fazenda irrigada?

Experimente o Aegro gratuitamente e veja na prática como tomar decisões mais seguras e lucrativas.

Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre a irrigação por aspersão e a irrigação localizada (gotejamento)?

A irrigação por aspersão simula a chuva, molhando toda a área e as folhas das plantas, sendo ideal para culturas de campo como grãos e pastagens. Já a irrigação localizada, como o gotejamento, aplica água diretamente na raiz da planta, sendo mais eficiente no uso da água e indicada para culturas em linha, como frutas e hortaliças.

Como posso minimizar o risco de doenças foliares causado pela irrigação por aspersão?

Para reduzir o risco de doenças fúngicas, prefira irrigar nas horas mais quentes do dia ou no início da manhã, permitindo que as folhas sequem rapidamente. Além disso, é crucial realizar um monitoramento constante da lavoura e aplicar fungicidas preventivamente, conforme a necessidade e o histórico da área.

O que mais influencia o custo de um projeto de irrigação por aspersão?

Os principais fatores que influenciam o custo são o tipo de sistema (mecanizado como o pivô central é mais caro), a fonte de energia para a motobomba (elétrica ou diesel), a distância da fonte de água até a lavoura (que define o comprimento da tubulação) e a topografia do terreno. Um bom projeto técnico é essencial para otimizar esses custos.

Como o vento afeta a eficiência da irrigação por aspersão e o que fazer para mitigar?

O vento forte prejudica a uniformidade da irrigação, pois desvia o jato de água e causa má distribuição, resultando em áreas com excesso e outras com falta de água. Para mitigar, irrigue em períodos de menor vento (noite ou início da manhã) e utilize aspersores que produzem gotas maiores, menos suscetíveis ao arraste pelo vento.

Para minha propriedade, quando devo escolher um pivô central em vez de um sistema convencional?

O pivô central é ideal para áreas grandes (geralmente acima de 50 hectares), planas e de formato regular, onde a automação e a economia de mão de obra justificam o investimento inicial mais alto. Sistemas convencionais são mais flexíveis e econômicos para áreas menores, com topografia irregular ou formatos não circulares.

Qual é o principal custo operacional de um sistema de irrigação por aspersão?

O principal custo operacional é, sem dúvida, a energia, seja elétrica ou diesel, para acionar o conjunto motobomba que pressuriza toda a rede de água. Por isso, o dimensionamento correto do sistema e a escolha de tarifas de energia mais baratas (como a tarifa verde) são cruciais para a viabilidade econômica do projeto.

Artigos Relevantes

  • Pivô central: entenda tudo sobre esse sistema de irrigação (+ planilha grátis): Este artigo é o aprofundamento técnico ideal para o sistema mais proeminente do guia principal, o pivô central. Ele expande o conceito com um detalhamento sobre custos, tipos e uma planilha prática, transformando a introdução do artigo principal em conhecimento acionável para o produtor que considera um investimento de grande escala.
  • Como a irrigação de precisão pode otimizar o uso da água e gerar economia na fazenda: Este artigo complementa perfeitamente o guia ao apresentar a evolução tecnológica dos sistemas de aspersão. Ele aborda diretamente as desvantagens de custo energético e eficiência hídrica mencionadas no artigo principal, oferecendo a irrigação de precisão como a solução para otimizar o uso da água e tornar o investimento mais lucrativo.
  • Irrigação por gotejamento: conheça as vantagens e desvantagens: Este artigo oferece um contraponto essencial ao focar no principal método alternativo à aspersão. Ele detalha uma solução que resolve diretamente desvantagens como o risco de doenças foliares e a menor eficiência hídrica, permitindo ao leitor fazer uma comparação aprofundada para decidir qual tecnologia se adapta melhor à sua cultura e objetivos.
  • As melhores práticas para o reúso da água na agricultura: Enquanto o artigo principal foca na aplicação da água, este aborda a questão fundamental e anterior: a captação e sustentabilidade da fonte hídrica. Ele adiciona uma dimensão crucial de gestão de recursos, com práticas de reúso e captação de chuva, que é um pré-requisito para a viabilidade de qualquer projeto de irrigação a longo prazo.
  • Irrigação da lavoura: métodos e benefícios do manejo da água: Este artigo fornece o contexto estratégico que justifica o investimento detalhado no guia principal. Utilizando dados do cenário brasileiro, ele responde ao “porquê” irrigar, focando nos benefícios de produtividade e redução de riscos, o que o torna um ponto de partida perfeito para entender a importância do tema antes de mergulhar nos detalhes técnicos da aspersão.