Safra 2025/26: Desafios climáticos para soja, milho e algodão

Alasse Oliveira
Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.
Safra 2025/26: Desafios climáticos para soja, milho e algodão

A safra 2025/26 será marcada por margens apertadas, juros elevados e condições climáticas instáveis.

Com os custos operacionais em alta e as mudanças no clima causadas pelo fim do El Niño, é preciso ter um bom planejamento de safra e um manejo mais preciso.

No campo financeiro, o Plano Safra 2025/2026 trouxe linhas de crédito ampliadas para médio produtor, mas com taxas de juros reais entre 7% e 9% ao ano, o que impõe gestão eficiente de insumos e capital de giro.

Nesse cenário, soja, milho e algodão seguem como pilares da produção nacional, demandando ajustes de custo, manejo e tecnologia para sustentar produtividade e rentabilidade.

Soja: custo elevado e incerteza climática

A soja deve ocupar 44 milhões de hectares na safra 2025/26, mantendo o Brasil como maior produtor e exportador mundial, com estimativa de 160 milhões t (Conab, 2025).

Apesar disso, o custo operacional aumentou 8% em relação à safra anterior, impulsionado pelo câmbio e pelo preço de fertilizantes e defensivos importados.

Custos e rentabilidade

O custo operacional total (COT) médio da soja supera R$ 7.200/ha, valor próximo aos níveis de 2022.

Os insumos representam 73% do COT, sendo fertilizantes e corretivos os principais componentes.

Com preços internacionais estabilizados entre US$ 12–13/bushel, as margens líquidas recuam para cerca de 18%, pressionando o produtor que não faz gestão de estoque ou trava de câmbio antecipada.

Condições climáticas e manejo

A Embrapa Soja (2025) alerta para irregularidade de chuvas no Centro-Oeste e temperaturas elevadas no Sul, associadas à fase neutra pós-El Niño.

A recomendação é adotar calendários escalonados de semeadura, cultivares precoces e sistemas de rotação com braquiária, que melhoram a estrutura do solo e reduzem o estresse hídrico.

Quais estratégias técnicas recomendadas para a safra 2025/26?

O plantio direto com palhada permanente é uma das práticas mais eficazes para reduzir a evaporação da água e manter a umidade do solo. A cobertura vegetal protege contra a compactação, melhora a infiltração da chuva e cria um ambiente térmico mais estável, favorecendo o desenvolvimento radicular (Embrapa Soja, 2025).

O monitoramento climático, com dados do Cptec/MCTI e do Cemaden, deve ser integrado ao planejamento de safra.

A prática orienta a escolha da janela ideal de semeadura e permite prever períodos críticos de estiagem, evitando replantios e otimizando o uso de insumos (Conab, 2025).

A adubação equilibrada com potássio (K) e cálcio (Ca) fortalece a estrutura das plantas e melhora a tolerância à seca e ao calor.

O potássio regula a abertura estomática e o cálcio reforça a parede celular, reduzindo perdas durante o enchimento dos grãos (Embrapa Cerrados, 2025).

O controle da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) deve seguir o manejo integrado de fungicidas, alternando multissítios e produtos específicos para evitar resistência.

Aplicações preventivas e o respeito ao vazio sanitário asseguram melhor eficiência de controle e preservam a produtividade (Embrapa Soja, 2025).

Guia do Planejamento para Milho e Soja

Milho: Pressão de custos e desafio na safrinha

O milho ocupa 22,4 milhões ha, sendo 77% concentrados na safrinha, conforme a Conab (out./2025).

A estimativa de produção é de 124 milhões t, com queda de 3% sobre 2024/25, reflexo da redução de área e do risco climático na semeadura tardia.

Custo e crédito agrícola

O Plano Safra 2025/2026 ampliou o teto do Pronamp e do Programa ABC+, mas o custo financeiro continua elevado. A Revista Cultivar (2025) calcula que o custo variável médio do milho atinge R$ 5.800/ha, com fertilizantes representando 40% da despesa total.

O crédito rural cobre apenas 65% da necessidade de custeio, obrigando o produtor a negociar barter com tradings e cooperativas.

Clima e sanidade das lavouras

O Cptec/MCTI (2025) prevê chuvas irregulares no Centro-Oeste e maior risco de veranicos em março e abril, período crítico da safrinha.

Essas condições favorecem cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) e enfezamentos, doenças que reduziram produtividade em até 15% no Mato Grosso do Sul em 2024.

Quais as boas práticas e inovações para a safra 2025/26?

O uso de híbridos tolerantes ao estresse hídrico e ao enfezamento tem se tornado fundamental para manter a estabilidade produtiva do milho em cenários de irregularidade climática.

Esses materiais apresentam melhor desempenho em condições de déficit hídrico e maior resistência à cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), vetor das doenças de enfezamento.

O tratamento de sementes com agentes biológicos e inseticidas sistêmicos complementa essa proteção inicial, favorecendo o enraizamento e reduzindo a pressão de pragas nas fases iniciais da cultura.

A irrigação suplementar nas etapas de pendoamento e enchimento de grãos é decisiva para garantir polinização uniforme e bom peso final, podendo elevar o rendimento em até 20% em áreas críticas. Por fim, a integração milho-braquiária-pecuária é uma estratégia eficiente para melhorar a estrutura do solo, reciclar nutrientes e diversificar a receita da propriedade, além de contribuir para o equilíbrio biológico e a redução da compactação.

Kit de produção rentável de milho

Algodão: Estabilidade produtiva e atenção ao clima

Na safra 2025/26 o algodão mantém estabilidade na área cultivada, com 1,68 milhão ha, concentrado em Mato Grosso e Bahia (Abrapa, 2025).

A expectativa é de 3 milhões t de pluma e 5,8 milhões t de caroço, números próximos à safra anterior, mas sob influência direta do clima e de custos de defensivos.

Insumos e manejo fitossanitário

O controle de bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) e de ramulária (Ramularia areola) representa 25% do custo total, exigindo manejo integrado com biológicos e aplicações noturnas.

Perspectiva climática e fisiologia da cultura

Com o enfraquecimento do El Niño, é esperada uma distribuição irregular de chuvas, mas com temperaturas acima da média (1,2 °C), segundo a WMO (2025). Esse cenário pode encurtar o ciclo reprodutivo do algodão e aumentar a abscisão de flores e maçãs, caso não haja equilíbrio hídrico.

Quais as estratégias para o algodão na safra 2025/26?

A rotação com milho e milheto contribui para a quebra do ciclo de pragas e patógenos de solo, além de favorecer a estrutura física e biológica do perfil, melhorando a infiltração e a retenção de água.

A adubação potássica fracionada, aplicada em doses parceladas ao longo do ciclo, auxilia no equilíbrio osmótico e na translocação de açúcares, fatores diretamente relacionados à qualidade da fibra e ao peso das maçãs.

Por fim, a adoção de bioprodutos indutores de resistência, em substituição parcial aos químicos convencionais, tem ampliado o controle preventivo de doenças e estimulado a defesa natural das plantas, reduzindo o impacto ambiental e promovendo maior estabilidade fisiológica em condições de estresse climático.

Cálculo da produtividade de algodão

Planejamento de safra e gestão financeira

O planejamento da safra 2025/26 requer análise detalhada de custos e fluxo de caixa.

Segundo o Radar Digital Brasília (2025), os produtores enfrentam crédito mais seletivo e taxas de custeio acima de 8,5%, o que demanda gestão financeira rigorosa e uso racional de insumos.

Estratégias de gestão e mitigação de risco

  • Travar parte da produção antecipadamente (hedge) para reduzir exposição cambial.
  • Adotar indicadores de custo por hectare e por saca, revisando margens mensalmente.
  • Implementar monitoramento climático diário para sincronizar irrigação e aplicações foliares.
  • Investir em capacitação técnica e integração de dados (solo, clima, produtividade).

Lavoura de soja, com céu azul ao fundo, e duas máquinas agrícolas, representando a safra 2025/26.

Perspectivas de mercado e tendências das commodities

As commodities agrícolas tendem a operar em faixa de preço estável, com leve viés de baixa na soja e recuperação gradual no algodão, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, 2025).

O mercado interno seguirá pressionado pelos custos logísticos e cambiais, enquanto o mercado externo dependerá da demanda chinesa e europeia.

Para o milho, o excesso de oferta global e o aumento de estoques nos EUA limitam as altas de preço, mas o câmbio acima de R$ 5,20 ainda assegura competitividade para exportação.

A soja brasileira mantém preferência internacional por sua qualidade e logística eficiente, e o algodão deve seguir com demanda firme na Ásia, favorecida pela recuperação da indústria têxtil.

Além disso, as análises recentes da Embrapa e da Conab (2025), indicam que as propriedades que adotam práticas conservacionistas e controle rigoroso de custos mantém margens positivas mesmo em anos de forte variabilidade climática.

Isso demonstra que o sucesso da safra depende cada vez mais da tomada de decisão baseada em dados, do uso racional de recursos naturais e da integração entre tecnologia e manejo agronômico.

Glossário

  • COT (Custo Operacional Total): Soma de todas as despesas diretas de produção de uma lavoura, incluindo sementes, fertilizantes, defensivos, combustível, mão de obra e manutenção de máquinas. O COT é essencial para calcular a margem de lucro por hectare e avaliar a viabilidade econômica da safra.

  • Safrinha: Segunda safra de grãos cultivada no mesmo ano agrícola, geralmente após a colheita da safra de verão. No Brasil, a safrinha de milho é plantada entre janeiro e março, aproveitando o período de transição entre verão e outono, mas enfrenta maior risco climático por coincidir com o fim das chuvas.

  • Hedge: Operação financeira que trava antecipadamente o preço de venda da produção ou a taxa de câmbio, protegendo o produtor contra oscilações desfavoráveis do mercado. É uma estratégia de mitigação de risco que garante previsibilidade de receita.

  • Vazio Sanitário: Período obrigatório em que determinadas culturas não podem ser plantadas em uma região, visando interromper o ciclo de pragas e doenças. Na soja, o vazio sanitário é fundamental para controlar a ferrugem-asiática, reduzindo a pressão da doença na safra seguinte.

  • Veranicos: Períodos prolongados de estiagem durante a estação chuvosa, que podem ocorrer de forma imprevisível e causar estresse hídrico nas plantas. São especialmente prejudiciais em fases críticas como floração e enchimento de grãos.

  • Enfezamento: Complexo de doenças do milho causado por patógenos transmitidos pela cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). Provoca nanismo, amarelecimento e redução drástica da produtividade, podendo causar perdas de até 70% em casos severos.

  • Abscisão: Processo natural de queda de flores, frutos ou folhas em resposta a estresses ambientais como seca, calor excessivo ou desequilíbrio nutricional. No algodão, a abscisão de flores e maçãs é um dos principais fatores de perda de produtividade.

  • Adubação Potássica Fracionada: Técnica de aplicar potássio em doses divididas ao longo do ciclo da cultura, em vez de uma única aplicação. Melhora a eficiência de absorção do nutriente, reduz perdas por lixiviação e mantém o suprimento adequado em fases críticas como floração e enchimento de frutos.

  • Plantio Direto: Sistema de manejo conservacionista em que o solo não é revolvido, mantendo a cobertura permanente de palha. Reduz erosão, conserva umidade, aumenta a matéria orgânica e melhora a estrutura do solo, sendo fundamental para enfrentar irregularidades climáticas.

  • Rotação de Culturas: Prática de alternar diferentes espécies vegetais em uma mesma área ao longo das safras. Quebra o ciclo de pragas e doenças, melhora a saúde do solo, recicla nutrientes e reduz a necessidade de insumos químicos.

Perguntas Frequentes

Por que a safra 2025/26 é considerada desafiadora para o produtor brasileiro?

A safra 2025/26 combina três fatores de pressão simultâneos: custos operacionais elevados (aumento de 8% na soja), juros reais altos (7% a 9% ao ano) e irregularidade climática causada pelo fim do El Niño. Esse cenário reduz as margens de lucro e exige planejamento financeiro rigoroso e manejo agronômico mais preciso para manter a rentabilidade.

Como o fim do El Niño afeta o clima da safra 2025/26?

O fim do El Niño leva a uma fase neutra do clima, caracterizada por maior irregularidade na distribuição das chuvas. O Centro-Oeste pode enfrentar períodos de estiagem imprevistos (veranicos), enquanto o Sul terá temperaturas acima da média. Essa instabilidade aumenta o risco de perdas e exige monitoramento climático constante para ajustar o manejo.

Quais são as principais estratégias para reduzir custos na safra 2025/26?

As estratégias mais eficazes incluem: fazer gestão de estoque de insumos comprando antecipadamente em momentos de preço favorável, adotar adubação baseada em análise de solo para evitar desperdícios, usar tratamento de sementes e controle biológico para reduzir aplicações de defensivos, e implementar tecnologias de agricultura de precisão para otimizar o uso de fertilizantes e corretivos.

A safrinha de milho é mais arriscada que a safra de verão?

Sim, a safrinha enfrenta maior risco climático porque coincide com o fim do período chuvoso. Atrasos no plantio aumentam a exposição a veranicos durante o pendoamento e enchimento de grãos, fases críticas para a produtividade. Por isso, é fundamental escolher híbridos tolerantes ao estresse hídrico e respeitar a janela ideal de semeadura.

Como proteger a lavoura contra pragas e doenças em um cenário de irregularidade climática?

O manejo integrado é essencial: respeitar o vazio sanitário, usar cultivares resistentes, fazer tratamento de sementes, aplicar defensivos preventivamente em momentos estratégicos e adotar rotação de culturas. O monitoramento constante da lavoura permite identificar focos iniciais e agir rapidamente, evitando que o problema se alastre.

Vale a pena investir em irrigação suplementar para a safra 2025/26?

Para o milho safrinha, a irrigação suplementar em fases críticas (pendoamento e enchimento de grãos) pode elevar a produtividade em até 20%, compensando o investimento em regiões com maior risco de veranicos. Para soja e algodão, sistemas de irrigação de salvamento (déficit hídrico pontual) são estratégicos em áreas com histórico de estiagem. A análise de viabilidade deve considerar o custo da água, energia e infraestrutura versus o ganho de produtividade.