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Módulo 1 - Aula 2: Escolha e importância dos bicos na sua pulverização

Aprenda a escolher os bicos de pulverização corretos para sua aplicação. Entenda os códigos, tipos de jato, tamanho de gotas e como evitar deriva para maximizar a eficiência dos defensivos.

Aula 3 6 minutos

📚 Índice


Bicos de Pulverização: O Guia Definitivo para a Escolha Certa e Aplicação Eficiente

A escolha correta dos bicos de pulverização é um dos pilares para o sucesso da sua lavoura. Esta decisão técnica, muitas vezes subestimada, impacta diretamente a eficiência dos defensivos, o custo da operação e a rentabilidade final da safra. Estudos mostram que até 30% da eficácia dos defensivos pode ser perdida apenas pela seleção inadequada de bicos.

Uma escolha incorreta pode resultar em:

  • Desperdício de até 40% do produto aplicado
  • Falhas no controle de pragas e doenças
  • Danos por deriva em culturas vizinhas
  • Multas ambientais e processos judiciais
  • Redução significativa da rentabilidade da safra

Neste artigo, você vai dominar os quatro fatores essenciais controlados pela escolha correta do bico: quantidade do produto aplicado, uniformidade da distribuição, cobertura do alvo e potencial de deriva. Vamos detalhar como decodificar as pontas, quais os principais tipos disponíveis, como o tamanho da gota influencia o resultado e as melhores práticas de manutenção.


A Função Decisiva dos Bicos de Pulverização

📋 Conceitos Fundamentais

O conjunto de bicos é responsável por fracionar o líquido (calda) em gotas e distribuí-las uniformemente sobre o alvo. Cada bico é projetado para operar sob uma faixa de pressão específica, determinando o padrão do jato (leque), o ângulo de abertura e, o mais importante, o espectro de tamanho das gotas produzidas.

O conjunto completo do bico é composto por várias estruturas: o corpo (que se fixa na barra), a capa (que prende a ponta), o filtro (para evitar entupimentos) e a ponta (que efetivamente define o jato).

❌ Erro Comum

Mito: “Bico” e “ponta” são a mesma coisa. Realidade: A ponta é apenas um dos componentes do conjunto que forma o bico. Muitos produtores referem-se à ponta como “bico”, mas é fundamental entender que a ponta é a peça de desgaste e seleção, enquanto o bico é o conjunto completo.

⚠️ Pontos de Atenção

Para a limpeza de bicos e pontas entupidas, nunca utilize objetos metálicos ou pontiagudos, como canivetes ou arames. Esses objetos danificam permanentemente o orifício da ponta, alterando sua vazão e o padrão de pulverização. A recomendação correta é o uso de ar comprimido ou uma escova de dentes macia dedicada para essa finalidade.


Como Interpretar os Códigos em uma Ponta de Pulverização - Passo a Passo

Saber ler as inscrições em uma ponta de pulverização é essencial para identificar suas características sem depender exclusivamente da cor.

Tempo estimado: 2 minutos Dificuldade: Básica Materiais necessários:

  • Ponta de pulverização
  • Catálogo do fabricante (físico ou digital)

Passos

1. Identifique o Modelo e a Série

As primeiras letras geralmente indicam o modelo e a faixa de uso.

  • Exemplo: XR (Extended Range - Faixa Estendida), indicando que a ponta pode operar em uma ampla faixa de pressão (ex: 15 a 60 psi).

2. Identifique o Ângulo do Jato

Os três primeiros números (em pontas padrão ISO) indicam o ângulo de abertura do leque.

  • Exemplo: 110 significa um ângulo de 110 graus.

3. Identifique a Vazão Nominal

Os números seguintes indicam a vazão nominal da ponta, em galões por minuto (unidade norte-americana), a uma pressão padrão (geralmente 40 psi).

  • Exemplo: 02 significa 0,2 galões por minuto.

4. Converta a Vazão (Se Necessário)

No Brasil, utilizamos litros por minuto. Para converter, multiplique o valor em galões por minuto por 3,78.

📊 Números que Importam Cálculo de Conversão:

  • Vazão (gal/min) x 3,78 = Vazão (L/min)
  • Exemplo: 0,2 gal/min x 3,78 = 0,75 L/min

5. Identifique o Material

As últimas letras indicam o material de fabricação. A escolha do material afeta diretamente a durabilidade e o custo da ponta.

CódigoMaterialDurabilidadeCustoUso Recomendado
P ou PPPlástico (Polímero)Baixa (100-300 ha)Muito baixoAplicações ocasionais
S ou SSAço InoxidávelMédia (500-800 ha)MédioUso geral
C ou VSCerâmicaAlta (1.200-1.500 ha)AltoUso intensivo
VPPolímero VisifloBaixa (100-300 ha)BaixoAplicações ocasionais

Exemplo prático: VS (VisiFlo Stainless Steel) = Ponta em aço inoxidável com codificação de cor VisiFlo.

Resultado esperado: Ao final, você saberá que uma ponta “XR 11002 VS” é um modelo de faixa estendida, com ângulo de 110 graus, vazão de 0,75 L/min (a 40 psi) e fabricada em aço inoxidável, com vida útil estimada de 500-800 hectares.


Principais Tipos de Bicos e Suas Aplicações

Os bicos são divididos em duas grandes famílias, cada uma com subdivisões específicas para diferentes alvos e produtos. A tabela abaixo resume as principais características:

Tipo de BicoPadrão de JatoTamanho de GotaAplicação PrincipalVantagemLimitação
Jato Plano SimplesLeque uniformeMédia a finaHerbicidas, fungicidas em área totalBoa cobertura uniformeSuscetível à deriva
Jato Plano DuploDois leques (30°)Fina a médiaFungicidas, inseticidas de contatoExcelente cobertura verticalMaior risco de deriva
Jato Plano com Indução de ArLeque uniformeGrossa a muito grossaHerbicidas sistêmicosBaixíssima derivaCobertura reduzida
Jato Plano Uniforme (Even)Leque sem sobreposiçãoMédiaAplicação em faixasEconomia de produtoRequer precisão no espaçamento
Cone VazioCircular (borda)FinaInseticidas, fungicidasÓtima penetração no dosselAlta deriva
Cone CheioCircular (centro + borda)MédiaFungicidas, inseticidasCobertura tridimensionalMenor que cone vazio

📋 Conceitos Fundamentais: Jato Plano (Leque)

Produzem um jato em formato de leque. São os mais comuns na aplicação de defensivos em área total.

  • Jato Plano Simples: Possui um único orifício.
  • Jato Plano Duplo: Possui dois orifícios, um voltado para frente e outro para trás (geralmente com 30° de inclinação). Produz gotas ligeiramente menores e melhora a cobertura em alvos verticais.
  • Uso Ideal (Simples e Duplo): Aplicação de herbicidas de contato, fungicidas e inseticidas, onde a cobertura uniforme é essencial.
  • Jato Plano Uniforme (Even): Projetado para uma distribuição homogênea dentro do leque, usado para aplicação em faixas (ex: sobre a linha de plantio), com mínima sobreposição.

💡 Curiosidade Agronômica

O que é Indução de Ar? As pontas com indução de ar (identificadas por siglas como AI - Air Induction) possuem um sistema Venturi. Esse sistema “suga” o ar para dentro da ponta, misturando-o com a calda antes da saída. Isso cria gotas maiores, mais pesadas e recheadas de bolhas de ar. Essas gotas são muito menos suscetíveis à deriva pelo vento e à evaporação.

🎯 Aplicação Prática: Pontas Anti-Deriva

As pontas de jato plano com indução de ar são a principal ferramenta para redução de deriva. Elas produzem gotas grossas a muito grossas, sendo a escolha ideal para aplicação de herbicidas sistêmicos (como glifosato ou 2,4-D), onde o risco de deriva para culturas vizinhas é alto.


📋 Conceitos Fundamentais: Jato Cônico

Produzem um jato circular, ideal para atingir alvos irregulares ou com dossel denso.

  • Cone Vazio: As gotas se concentram na periferia (borda) do cone.
  • Cone Cheio: As gotas preenchem todo o padrão circular, incluindo o centro.

🎯 Aplicação Prática: Onde usar o Jato Cônico?

As pontas do tipo cônico são mais utilizadas em pulverizações que exigem penetração e cobertura em alvos tridimensionais. Como as gotas são lançadas em diferentes ângulos, elas conseguem atingir partes da planta que o jato plano teria dificuldade. São muito usadas em culturas como citros, café, feijão e em aplicações de inseticidas e fungicidas que necessitam atingir o “baixeiro” das plantas.


O Fator Crítico: O Tamanho da Gota

O tipo de bico e a pressão de trabalho determinam o tamanho das gotas. O tamanho da gota é um balanço delicado entre cobertura e risco de deriva. A classificação segue a norma ASABE S572.1:

ClassificaçãoTamanho (DMV)Cor de ReferênciaCobertura (gotas/cm²)Risco de DerivaAplicação Ideal
Muito Fina< 100 µmVermelho> 100Muito AltoEvitar (apenas casos especiais)
Fina100-200 µmLaranja70-100AltoFungicidas/inseticidas de contato (condições ideais)
Média200-300 µmAmarelo40-70MédioAplicações gerais (melhor custo-benefício)
Grossa300-400 µmAzul20-40BaixoHerbicidas sistêmicos
Muito Grossa400-500 µmVerde10-20Muito BaixoHerbicidas de pós-emergência
Extremamente Grossa> 500 µmPreto< 10MínimoHerbicidas pré-emergentes

Análise Detalhada por Categoria

Gotas Finas (100-200 µm)

  • Vantagens: Excelente cobertura (70-100 gotas/cm²), alta penetração no dossel
  • Desvantagens: Alta deriva (até 15% em vento de 10 km/h), evaporação rápida em UR < 60%
  • 🎯 Uso Ideal: Fungicidas e inseticidas de contato, apenas em condições ótimas (vento < 5 km/h, UR > 70%)

Gotas Médias (200-300 µm)

  • Vantagens: Equilíbrio ideal entre cobertura e segurança, versátil
  • ⚖️ Características: Deriva moderada (5-8%), boa cobertura (40-70 gotas/cm²)
  • 🎯 Uso Ideal: Maioria das aplicações de defensivos em condições normais

Gotas Grossas e Muito Grossas (> 300 µm)

  • Vantagens: Baixíssima deriva (< 3%), resistência à evaporação
  • Desvantagens: Cobertura reduzida (< 40 gotas/cm²), menor penetração
  • 🎯 Uso Ideal: Herbicidas sistêmicos (glifosato, 2,4-D, dicamba) em qualquer condição climática

⏰ Timing Agronômico

O tamanho da gota deve ser ajustado não apenas ao produto, mas também às condições climáticas no momento da aplicação:

  • Em dias com vento (acima de 10 km/h): Priorize o uso de pontas que geram gotas médias a grossas (como as de indução de ar) para evitar a deriva.
  • Em dias quentes e secos (Umidade Relativa < 60%): Evite gotas finas, pois elas podem evaporar antes mesmo de atingir o alvo.

Manutenção e Desgaste: Quando Trocar suas Pontas

O desgaste das pontas é progressivo e afeta diretamente a qualidade da aplicação. Uma ponta desgastada pode aumentar a vazão em até 30%, alterando completamente a dose aplicada.

Sinais de Desgaste

IndicadorSituação NormalPonta DesgastadaImpacto
VazãoDentro de ±10% do nominal> 10% acima do nominalSobredosagem, desperdício
Padrão do jatoUniforme, simétricoIrregular, assimétricoCobertura desigual
OrifícioBordas definidas, circularesBordas arredondadas, ovaisGotas maiores, perda de eficiência
Ângulo de aberturaConforme especificaçãoReduzido ou irregularFaixa de trabalho comprometida

Frequência de Inspeção Recomendada

Inspeção visual: A cada início de safra e após aplicações de produtos abrasivos (formulações pó molhável, suspensões concentradas).

Teste de vazão: A cada 200-300 hectares aplicados ou no início de cada safra.

Substituição preventiva:

  • Pontas de plástico: 100-300 hectares
  • Pontas de aço inoxidável: 500-800 hectares
  • Pontas de cerâmica: 1.200-1.500 hectares

Procedimento de Teste de Vazão (Passo a Passo)

Tempo estimado: 15-20 minutos (para barra completa)

Ferramentas necessárias:

  • Proveta graduada (500 ml ou 1 litro)
  • Cronômetro
  • Calculadora

Passos:

  1. Prepare o pulverizador: Encha com água limpa, ajuste a pressão para 40 psi (ou pressão de trabalho habitual)
  2. Selecione pontas para teste: Teste no mínimo 25% das pontas da barra (mínimo 5 pontas em diferentes posições)
  3. Colete o volume: Acione o pulverizador e colete o líquido de cada ponta por exatamente 1 minuto
  4. Meça o volume: Anote o volume coletado de cada ponta testada
  5. Calcule a média: Média = (Volume 1 + Volume 2 + … + Volume N) / N
  6. Compare: Se qualquer ponta variar mais de ±10% da média, substitua toda a seção

📊 Exemplo de Cálculo:

  • Ponta 1: 750 ml/min
  • Ponta 2: 760 ml/min
  • Ponta 3: 740 ml/min
  • Ponta 4: 820 ml/min ⚠️ (+ 9,3% acima da média)
  • Ponta 5: 745 ml/min
  • Média: 763 ml/min
  • Resultado: Ponta 4 está no limite. Monitorar ou substituir seção.

Melhores Práticas de Manutenção

✅ FAÇA:

  • Lave o pulverizador após cada uso com água limpa
  • Armazene as pontas em local seco e protegido
  • Use sempre o filtro de ponta (quando disponível)
  • Limpe pontas entupidas com ar comprimido ou escova macia
  • Mantenha um estoque de pontas sobressalentes
  • Registre o histórico de troca de pontas

❌ NÃO FAÇA:

  • Usar objetos metálicos (canivete, arame) para desobstruir
  • Bater as pontas para remover resíduos
  • Misturar pontas de materiais diferentes na mesma barra
  • Usar produtos incompatíveis que causam corrosão
  • Aplicar formulações abrasivas sem proteção adequada

Conclusão e Próximos Passos

A seleção da ponta de pulverização correta não é um detalhe, mas uma decisão agronômica estratégica que pode impactar até 30% da eficácia dos seus defensivos. Você agora domina:

  • ✅ Como decodificar pontas (modelo, ângulo, vazão, material)
  • ✅ Os principais tipos de bicos e suas aplicações específicas
  • ✅ O impacto crítico do tamanho da gota na eficiência e deriva
  • ✅ Como inspecionar e manter suas pontas em condição ideal

Checklist de Implementação Imediata

□ Antes da Próxima Safra:

  1. Realize um inventário completo das pontas instaladas no seu pulverizador
  2. Execute o teste de vazão em todas as pontas (conforme procedimento descrito)
  3. Substitua pontas com vazão > 10% acima da média
  4. Organize um kit de pontas por tipo de aplicação (herbicidas, fungicidas, inseticidas)
  5. Crie uma planilha de controle de troca de pontas

□ Antes de Cada Aplicação:

  1. Verifique a recomendação da bula quanto ao tamanho de gota
  2. Confira as condições climáticas (vento, temperatura, umidade)
  3. Selecione a ponta adequada com base no produto e nas condições
  4. Inspecione visualmente todas as pontas antes de iniciar
  5. Registre a ponta utilizada no seu sistema de gestão

□ Após Cada Aplicação:

  1. Lave imediatamente o pulverizador com água limpa
  2. Remova e limpe as pontas com ar comprimido (se necessário)
  3. Armazene as pontas em local seco e identificado
  4. Anote qualquer observação sobre entupimentos ou problemas

Ferramentas Recomendadas

Aplicativos Gratuitos dos Fabricantes:

  • TeeJet SpraySelect (Teejet Technologies)
  • Magnojet Sprayer (Magnojet)
  • Hypro Nozzle Calc (Hypro)

Registre Tudo:

No seu software de gestão agrícola (como o Aegro), registre para cada aplicação:

  • Tipo de ponta utilizada (modelo completo)
  • Pressão de trabalho (psi)
  • Condições climáticas (vento, temperatura, UR)
  • Resultado observado da aplicação

Esse histórico permitirá análises futuras sobre o que funciona melhor na sua fazenda.

Recursos Adicionais

Aprofunde seu conhecimento sobre aplicação:

Ferramentas recomendadas:

  • Catálogos técnicos: Baixe os PDFs dos fabricantes (Teejet, Magnojet, Jacto, Hypro)
  • Norma ASABE S572.1: Classificação oficial de tamanho de gotas
  • Calculadoras online: Para conversão de unidades e cálculo de vazão

🌾 Dica Final da Aegro

A tecnologia de aplicação é uma das áreas com maior retorno sobre investimento na agricultura. Um jogo completo de pontas de indução de ar pode custar R$ 800-1.500, mas economiza facilmente esse valor em uma safra ao reduzir deriva, melhorar a eficiência dos produtos e evitar multas ambientais. Não economize nas pontas – economize nos defensivos através da aplicação correta.

Agora que você domina a seleção de bicos, está pronto para avançar para a próxima aula sobre calibração completa do pulverizador, onde integraremos todo esse conhecimento em um processo sistemático.