Módulo 1 - Aula 2: Escolha e importância dos bicos na sua pulverização
Aprenda a escolher os bicos de pulverização corretos para sua aplicação. Entenda os códigos, tipos de jato, tamanho de gotas e como evitar deriva para maximizar a eficiência dos defensivos.

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📚 Índice
- Bicos de Pulverização: O Guia Definitivo para a Escolha Certa e Aplicação Eficiente
- A Função Decisiva dos Bicos de Pulverização
- Como Interpretar os Códigos em uma Ponta de Pulverização - Passo a Passo
- Principais Tipos de Bicos e Suas Aplicações
- O Fator Crítico: O Tamanho da Gota
- Manutenção e Desgaste: Quando Trocar suas Pontas
- Conclusão e Próximos Passos
Bicos de Pulverização: O Guia Definitivo para a Escolha Certa e Aplicação Eficiente
A escolha correta dos bicos de pulverização é um dos pilares para o sucesso da sua lavoura. Esta decisão técnica, muitas vezes subestimada, impacta diretamente a eficiência dos defensivos, o custo da operação e a rentabilidade final da safra. Estudos mostram que até 30% da eficácia dos defensivos pode ser perdida apenas pela seleção inadequada de bicos.
Uma escolha incorreta pode resultar em:
- Desperdício de até 40% do produto aplicado
- Falhas no controle de pragas e doenças
- Danos por deriva em culturas vizinhas
- Multas ambientais e processos judiciais
- Redução significativa da rentabilidade da safra
Neste artigo, você vai dominar os quatro fatores essenciais controlados pela escolha correta do bico: quantidade do produto aplicado, uniformidade da distribuição, cobertura do alvo e potencial de deriva. Vamos detalhar como decodificar as pontas, quais os principais tipos disponíveis, como o tamanho da gota influencia o resultado e as melhores práticas de manutenção.
A Função Decisiva dos Bicos de Pulverização
📋 Conceitos Fundamentais
O conjunto de bicos é responsável por fracionar o líquido (calda) em gotas e distribuí-las uniformemente sobre o alvo. Cada bico é projetado para operar sob uma faixa de pressão específica, determinando o padrão do jato (leque), o ângulo de abertura e, o mais importante, o espectro de tamanho das gotas produzidas.
O conjunto completo do bico é composto por várias estruturas: o corpo (que se fixa na barra), a capa (que prende a ponta), o filtro (para evitar entupimentos) e a ponta (que efetivamente define o jato).
❌ Erro Comum
Mito: “Bico” e “ponta” são a mesma coisa. Realidade: A ponta é apenas um dos componentes do conjunto que forma o bico. Muitos produtores referem-se à ponta como “bico”, mas é fundamental entender que a ponta é a peça de desgaste e seleção, enquanto o bico é o conjunto completo.
⚠️ Pontos de Atenção
Para a limpeza de bicos e pontas entupidas, nunca utilize objetos metálicos ou pontiagudos, como canivetes ou arames. Esses objetos danificam permanentemente o orifício da ponta, alterando sua vazão e o padrão de pulverização. A recomendação correta é o uso de ar comprimido ou uma escova de dentes macia dedicada para essa finalidade.
Como Interpretar os Códigos em uma Ponta de Pulverização - Passo a Passo
Saber ler as inscrições em uma ponta de pulverização é essencial para identificar suas características sem depender exclusivamente da cor.
Tempo estimado: 2 minutos Dificuldade: Básica Materiais necessários:
- Ponta de pulverização
- Catálogo do fabricante (físico ou digital)
Passos
1. Identifique o Modelo e a Série
As primeiras letras geralmente indicam o modelo e a faixa de uso.
- Exemplo: XR (Extended Range - Faixa Estendida), indicando que a ponta pode operar em uma ampla faixa de pressão (ex: 15 a 60 psi).
2. Identifique o Ângulo do Jato
Os três primeiros números (em pontas padrão ISO) indicam o ângulo de abertura do leque.
- Exemplo: 110 significa um ângulo de 110 graus.
3. Identifique a Vazão Nominal
Os números seguintes indicam a vazão nominal da ponta, em galões por minuto (unidade norte-americana), a uma pressão padrão (geralmente 40 psi).
- Exemplo: 02 significa 0,2 galões por minuto.
4. Converta a Vazão (Se Necessário)
No Brasil, utilizamos litros por minuto. Para converter, multiplique o valor em galões por minuto por 3,78.
📊 Números que Importam Cálculo de Conversão:
- Vazão (gal/min) x 3,78 = Vazão (L/min)
- Exemplo: 0,2 gal/min x 3,78 = 0,75 L/min
5. Identifique o Material
As últimas letras indicam o material de fabricação. A escolha do material afeta diretamente a durabilidade e o custo da ponta.
| Código | Material | Durabilidade | Custo | Uso Recomendado |
|---|---|---|---|---|
| P ou PP | Plástico (Polímero) | Baixa (100-300 ha) | Muito baixo | Aplicações ocasionais |
| S ou SS | Aço Inoxidável | Média (500-800 ha) | Médio | Uso geral |
| C ou VS | Cerâmica | Alta (1.200-1.500 ha) | Alto | Uso intensivo |
| VP | Polímero Visiflo | Baixa (100-300 ha) | Baixo | Aplicações ocasionais |
Exemplo prático: VS (VisiFlo Stainless Steel) = Ponta em aço inoxidável com codificação de cor VisiFlo.
Resultado esperado: Ao final, você saberá que uma ponta “XR 11002 VS” é um modelo de faixa estendida, com ângulo de 110 graus, vazão de 0,75 L/min (a 40 psi) e fabricada em aço inoxidável, com vida útil estimada de 500-800 hectares.
Principais Tipos de Bicos e Suas Aplicações
Os bicos são divididos em duas grandes famílias, cada uma com subdivisões específicas para diferentes alvos e produtos. A tabela abaixo resume as principais características:
| Tipo de Bico | Padrão de Jato | Tamanho de Gota | Aplicação Principal | Vantagem | Limitação |
|---|---|---|---|---|---|
| Jato Plano Simples | Leque uniforme | Média a fina | Herbicidas, fungicidas em área total | Boa cobertura uniforme | Suscetível à deriva |
| Jato Plano Duplo | Dois leques (30°) | Fina a média | Fungicidas, inseticidas de contato | Excelente cobertura vertical | Maior risco de deriva |
| Jato Plano com Indução de Ar | Leque uniforme | Grossa a muito grossa | Herbicidas sistêmicos | Baixíssima deriva | Cobertura reduzida |
| Jato Plano Uniforme (Even) | Leque sem sobreposição | Média | Aplicação em faixas | Economia de produto | Requer precisão no espaçamento |
| Cone Vazio | Circular (borda) | Fina | Inseticidas, fungicidas | Ótima penetração no dossel | Alta deriva |
| Cone Cheio | Circular (centro + borda) | Média | Fungicidas, inseticidas | Cobertura tridimensional | Menor que cone vazio |
📋 Conceitos Fundamentais: Jato Plano (Leque)
Produzem um jato em formato de leque. São os mais comuns na aplicação de defensivos em área total.
- Jato Plano Simples: Possui um único orifício.
- Jato Plano Duplo: Possui dois orifícios, um voltado para frente e outro para trás (geralmente com 30° de inclinação). Produz gotas ligeiramente menores e melhora a cobertura em alvos verticais.
- Uso Ideal (Simples e Duplo): Aplicação de herbicidas de contato, fungicidas e inseticidas, onde a cobertura uniforme é essencial.
- Jato Plano Uniforme (Even): Projetado para uma distribuição homogênea dentro do leque, usado para aplicação em faixas (ex: sobre a linha de plantio), com mínima sobreposição.
💡 Curiosidade Agronômica
O que é Indução de Ar? As pontas com indução de ar (identificadas por siglas como AI - Air Induction) possuem um sistema Venturi. Esse sistema “suga” o ar para dentro da ponta, misturando-o com a calda antes da saída. Isso cria gotas maiores, mais pesadas e recheadas de bolhas de ar. Essas gotas são muito menos suscetíveis à deriva pelo vento e à evaporação.
🎯 Aplicação Prática: Pontas Anti-Deriva
As pontas de jato plano com indução de ar são a principal ferramenta para redução de deriva. Elas produzem gotas grossas a muito grossas, sendo a escolha ideal para aplicação de herbicidas sistêmicos (como glifosato ou 2,4-D), onde o risco de deriva para culturas vizinhas é alto.
📋 Conceitos Fundamentais: Jato Cônico
Produzem um jato circular, ideal para atingir alvos irregulares ou com dossel denso.
- Cone Vazio: As gotas se concentram na periferia (borda) do cone.
- Cone Cheio: As gotas preenchem todo o padrão circular, incluindo o centro.
🎯 Aplicação Prática: Onde usar o Jato Cônico?
As pontas do tipo cônico são mais utilizadas em pulverizações que exigem penetração e cobertura em alvos tridimensionais. Como as gotas são lançadas em diferentes ângulos, elas conseguem atingir partes da planta que o jato plano teria dificuldade. São muito usadas em culturas como citros, café, feijão e em aplicações de inseticidas e fungicidas que necessitam atingir o “baixeiro” das plantas.
O Fator Crítico: O Tamanho da Gota
O tipo de bico e a pressão de trabalho determinam o tamanho das gotas. O tamanho da gota é um balanço delicado entre cobertura e risco de deriva. A classificação segue a norma ASABE S572.1:
| Classificação | Tamanho (DMV) | Cor de Referência | Cobertura (gotas/cm²) | Risco de Deriva | Aplicação Ideal |
|---|---|---|---|---|---|
| Muito Fina | < 100 µm | Vermelho | > 100 | Muito Alto | Evitar (apenas casos especiais) |
| Fina | 100-200 µm | Laranja | 70-100 | Alto | Fungicidas/inseticidas de contato (condições ideais) |
| Média | 200-300 µm | Amarelo | 40-70 | Médio | Aplicações gerais (melhor custo-benefício) |
| Grossa | 300-400 µm | Azul | 20-40 | Baixo | Herbicidas sistêmicos |
| Muito Grossa | 400-500 µm | Verde | 10-20 | Muito Baixo | Herbicidas de pós-emergência |
| Extremamente Grossa | > 500 µm | Preto | < 10 | Mínimo | Herbicidas pré-emergentes |
Análise Detalhada por Categoria
Gotas Finas (100-200 µm)
- ✅ Vantagens: Excelente cobertura (70-100 gotas/cm²), alta penetração no dossel
- ❌ Desvantagens: Alta deriva (até 15% em vento de 10 km/h), evaporação rápida em UR < 60%
- 🎯 Uso Ideal: Fungicidas e inseticidas de contato, apenas em condições ótimas (vento < 5 km/h, UR > 70%)
Gotas Médias (200-300 µm)
- ✅ Vantagens: Equilíbrio ideal entre cobertura e segurança, versátil
- ⚖️ Características: Deriva moderada (5-8%), boa cobertura (40-70 gotas/cm²)
- 🎯 Uso Ideal: Maioria das aplicações de defensivos em condições normais
Gotas Grossas e Muito Grossas (> 300 µm)
- ✅ Vantagens: Baixíssima deriva (< 3%), resistência à evaporação
- ❌ Desvantagens: Cobertura reduzida (< 40 gotas/cm²), menor penetração
- 🎯 Uso Ideal: Herbicidas sistêmicos (glifosato, 2,4-D, dicamba) em qualquer condição climática
⏰ Timing Agronômico
O tamanho da gota deve ser ajustado não apenas ao produto, mas também às condições climáticas no momento da aplicação:
- Em dias com vento (acima de 10 km/h): Priorize o uso de pontas que geram gotas médias a grossas (como as de indução de ar) para evitar a deriva.
- Em dias quentes e secos (Umidade Relativa < 60%): Evite gotas finas, pois elas podem evaporar antes mesmo de atingir o alvo.
Manutenção e Desgaste: Quando Trocar suas Pontas
O desgaste das pontas é progressivo e afeta diretamente a qualidade da aplicação. Uma ponta desgastada pode aumentar a vazão em até 30%, alterando completamente a dose aplicada.
Sinais de Desgaste
| Indicador | Situação Normal | Ponta Desgastada | Impacto |
|---|---|---|---|
| Vazão | Dentro de ±10% do nominal | > 10% acima do nominal | Sobredosagem, desperdício |
| Padrão do jato | Uniforme, simétrico | Irregular, assimétrico | Cobertura desigual |
| Orifício | Bordas definidas, circulares | Bordas arredondadas, ovais | Gotas maiores, perda de eficiência |
| Ângulo de abertura | Conforme especificação | Reduzido ou irregular | Faixa de trabalho comprometida |
Frequência de Inspeção Recomendada
Inspeção visual: A cada início de safra e após aplicações de produtos abrasivos (formulações pó molhável, suspensões concentradas).
Teste de vazão: A cada 200-300 hectares aplicados ou no início de cada safra.
Substituição preventiva:
- Pontas de plástico: 100-300 hectares
- Pontas de aço inoxidável: 500-800 hectares
- Pontas de cerâmica: 1.200-1.500 hectares
Procedimento de Teste de Vazão (Passo a Passo)
Tempo estimado: 15-20 minutos (para barra completa)
Ferramentas necessárias:
- Proveta graduada (500 ml ou 1 litro)
- Cronômetro
- Calculadora
Passos:
- Prepare o pulverizador: Encha com água limpa, ajuste a pressão para 40 psi (ou pressão de trabalho habitual)
- Selecione pontas para teste: Teste no mínimo 25% das pontas da barra (mínimo 5 pontas em diferentes posições)
- Colete o volume: Acione o pulverizador e colete o líquido de cada ponta por exatamente 1 minuto
- Meça o volume: Anote o volume coletado de cada ponta testada
- Calcule a média: Média = (Volume 1 + Volume 2 + … + Volume N) / N
- Compare: Se qualquer ponta variar mais de ±10% da média, substitua toda a seção
📊 Exemplo de Cálculo:
- Ponta 1: 750 ml/min
- Ponta 2: 760 ml/min
- Ponta 3: 740 ml/min
- Ponta 4: 820 ml/min ⚠️ (+ 9,3% acima da média)
- Ponta 5: 745 ml/min
- Média: 763 ml/min
- Resultado: Ponta 4 está no limite. Monitorar ou substituir seção.
Melhores Práticas de Manutenção
✅ FAÇA:
- Lave o pulverizador após cada uso com água limpa
- Armazene as pontas em local seco e protegido
- Use sempre o filtro de ponta (quando disponível)
- Limpe pontas entupidas com ar comprimido ou escova macia
- Mantenha um estoque de pontas sobressalentes
- Registre o histórico de troca de pontas
❌ NÃO FAÇA:
- Usar objetos metálicos (canivete, arame) para desobstruir
- Bater as pontas para remover resíduos
- Misturar pontas de materiais diferentes na mesma barra
- Usar produtos incompatíveis que causam corrosão
- Aplicar formulações abrasivas sem proteção adequada
Conclusão e Próximos Passos
A seleção da ponta de pulverização correta não é um detalhe, mas uma decisão agronômica estratégica que pode impactar até 30% da eficácia dos seus defensivos. Você agora domina:
- ✅ Como decodificar pontas (modelo, ângulo, vazão, material)
- ✅ Os principais tipos de bicos e suas aplicações específicas
- ✅ O impacto crítico do tamanho da gota na eficiência e deriva
- ✅ Como inspecionar e manter suas pontas em condição ideal
Checklist de Implementação Imediata
□ Antes da Próxima Safra:
- Realize um inventário completo das pontas instaladas no seu pulverizador
- Execute o teste de vazão em todas as pontas (conforme procedimento descrito)
- Substitua pontas com vazão > 10% acima da média
- Organize um kit de pontas por tipo de aplicação (herbicidas, fungicidas, inseticidas)
- Crie uma planilha de controle de troca de pontas
□ Antes de Cada Aplicação:
- Verifique a recomendação da bula quanto ao tamanho de gota
- Confira as condições climáticas (vento, temperatura, umidade)
- Selecione a ponta adequada com base no produto e nas condições
- Inspecione visualmente todas as pontas antes de iniciar
- Registre a ponta utilizada no seu sistema de gestão
□ Após Cada Aplicação:
- Lave imediatamente o pulverizador com água limpa
- Remova e limpe as pontas com ar comprimido (se necessário)
- Armazene as pontas em local seco e identificado
- Anote qualquer observação sobre entupimentos ou problemas
Ferramentas Recomendadas
Aplicativos Gratuitos dos Fabricantes:
- TeeJet SpraySelect (Teejet Technologies)
- Magnojet Sprayer (Magnojet)
- Hypro Nozzle Calc (Hypro)
Registre Tudo:
No seu software de gestão agrícola (como o Aegro), registre para cada aplicação:
- Tipo de ponta utilizada (modelo completo)
- Pressão de trabalho (psi)
- Condições climáticas (vento, temperatura, UR)
- Resultado observado da aplicação
Esse histórico permitirá análises futuras sobre o que funciona melhor na sua fazenda.
Recursos Adicionais
Aprofunde seu conhecimento sobre aplicação:
- Deriva: Como Evitar e Controlar
- Defensivos Agrícolas: Tecnologia de Aplicação
- Agroquímicos: Melhores Práticas
Ferramentas recomendadas:
- Catálogos técnicos: Baixe os PDFs dos fabricantes (Teejet, Magnojet, Jacto, Hypro)
- Norma ASABE S572.1: Classificação oficial de tamanho de gotas
- Calculadoras online: Para conversão de unidades e cálculo de vazão
🌾 Dica Final da Aegro
A tecnologia de aplicação é uma das áreas com maior retorno sobre investimento na agricultura. Um jogo completo de pontas de indução de ar pode custar R$ 800-1.500, mas economiza facilmente esse valor em uma safra ao reduzir deriva, melhorar a eficiência dos produtos e evitar multas ambientais. Não economize nas pontas – economize nos defensivos através da aplicação correta.
Agora que você domina a seleção de bicos, está pronto para avançar para a próxima aula sobre calibração completa do pulverizador, onde integraremos todo esse conhecimento em um processo sistemático.