← Voltar ao curso

Módulo 2 - Aula 1: Manejo Estratégico de Plantas Daninhas na Entressafra

Aprenda a realizar o manejo de plantas daninhas na entressafra, utilizando estratégias de dessecação sequencial, herbicidas pré-emergentes e manejo cultural para evitar perdas e resistência.

Aula 5 10 minutos

📚 Índice


Manejo de Plantas Daninhas na Entressafra: Estratégias para Evitar Perdas e Resistência

O manejo de plantas daninhas é um dos maiores desafios da agricultura. Sem controle, estima-se que um terço da produção agrícola mundial seria perdida. No Brasil, os custos crescentes são impulsionados pelo desenvolvimento de biótipos resistentes aos herbicidas.

Negligenciar o manejo na entressafra é um erro estratégico que compromete a cultura seguinte. Permite que as plantas daninhas cresçam, se multipliquem e, o mais grave, enriqueçam o banco de sementes do solo.

Neste artigo, você aprenderá as principais estratégias para o manejo de plantas daninhas na entressafra, como realizar a dessecação sequencial e por que o manejo preventivo é a chave para proteger sua lavoura.

📚 Leia também: Para compreensão aprofundada, veja nosso guia completo sobre plantas daninhas e técnicas de controle de plantas daninhas.


A Estratégia da Dessecação na Entressafra

A dessecação, ou manejo de pousio, quebra o ciclo das plantas invasoras, reduz o banco de sementes e ajuda a manejar biótipos resistentes.

Tabela Comparativa: Herbicidas Sistêmicos vs. de Contato

CaracterísticaHerbicida Sistêmico (Ex: Glifosato, 2,4-D)Herbicida de Contato (Ex: Diquat, Glufosinato)
Mecanismo de AçãoAbsorvido e translocado por toda a planta (xilema/floema).Atua apenas na área de contato, destruindo os tecidos verdes.
Velocidade de AçãoLenta (10 a 15 dias).Rápida (horas a poucos dias).
Controle de RaízesSim, controla raízes, rizomas e tubérculos.Não, a planta pode rebrotar a partir das raízes.
Uso IdealPlantas perenes, adultas ou com histórico de resistência.Plantas jovens, de fácil controle e em aplicações pré-semeadura (“limpeza”).

Erro Comum: Usar Apenas Contato em Plantas Perenes

Aplicar somente um produto de contato em plantas adultas como a Buva ou o Capim-amargoso apenas “queima” as folhas. A planta tem energia suficiente para rebrotar dias depois, reinfestando a lavoura.


Dessecação Sequencial: O Manejo Padrão-Ouro

Para áreas com alta infestação ou plantas de difícil controle, a dessecação sequencial é a estratégia mais robusta.

Procedimento Passo a Passo: Dessecação Sequencial

Tempo total: 15-20 dias Dificuldade: Intermediária Ferramentas necessárias:

  • Herbicida sistêmico (ex: Glifosato, 2,4-D, inibidores da ACCase)
  • Herbicida de contato (ex: Diquat, Glufosinato de Amônio)
  • Pulverizador calibrado

Passos

1. Aplicação Sistêmica (Antecipada)

Aplique o herbicida sistêmico (ou a mistura) com 15 a 20 dias de antecedência da data planejada para a semeadura.

  • Foco: Controlar o sistema radicular de plantas perenes e resistentes.
2. Aguarde a Ação do Produto

É fundamental respeitar o tempo de ação. O Glifosato, por exemplo, pode levar de 10 a 15 dias para translocar e agir completamente.

3. Aplicação de Contato (Pré-Semeadura)

Imediatamente antes ou no máximo um dia após a semeadura (“plante e aplique”), realize a segunda aplicação com um herbicida de contato.

  • Foco: Eliminar o escape da primeira aplicação e controlar novas plântulas que germinaram no período.

Resultado esperado: A cultura principal emerge em um campo totalmente “limpo”, sem matocompetição inicial.

📚 Aprofunde seu conhecimento:

Veja o passo a passo completo e detalhado da dessecação para plantio de soja com timing ideal, produtos recomendados e custos por hectare.


O Papel dos Pré-Emergentes

Herbicidas pré-emergentes (residuais) criam uma “camada” química no solo, impedindo a germinação de novas plantas daninhas. São cruciais em culturas que demoram a “fechar” as entrelinhas, como feijão, algodão ou milho, garantindo que a cultura se estabeleça sem competição.


Manejo Específico para Plantas de Difícil Controle

Planta DaninhaEstratégia de Manejo na EntressafraPonto de Atenção
Buva (Conyza spp.)Uso de herbicidas auxínicos (ex: 2,4-D) em mistura com Glifosato na primeira aplicação da dessecação sequencial.O 2,4-D depende de temperaturas mais elevadas para translocar eficientemente. Evitar aplicar em dias frios.
Capim-Amargoso (Digitaria insularis)Plantas jovens: Graminicidas (inibidores da ACCase). Plantas perenizadas: Dessecação sequencial (1ª app: graminicida; 2ª app: contato).Respeitar intervalo de segurança de no mínimo 15 dias entre a aplicação de graminicidas e a semeadura do milho.
Caruru-palmeri (Amaranthus palmeri)Herbicidas inibidores da PROTOX (ex: Flumioxazin) têm mostrado alta eficácia, além de 2,4-D, S-metolachlor e metribuzin.Espécie extremamente agressiva e com rápido desenvolvimento de resistência. Rotação de mecanismos de ação é crucial.
Poaia Branca / Erva-QuenteNaturalmente tolerantes ao Glifosato. O herbicida Flumioxazin (inibidor da PROTOX) apresenta bons resultados no controle.A mistura de Glifosato + Flumioxazin apresenta efeito sinérgico, com controle superior à aplicação isolada.

Manejo Cultural e Preventivo: A Base do Sucesso

Plantas de Cobertura

O uso de plantas de cobertura no pousio é fundamental.

  • Adubação Verde: Foco na ciclagem de nutrientes.
  • Cultura de Cobertura: Foco na formação de palha para o Sistema de Plantio Direto (SPD), que atua como barreira física contra a germinação de invasoras.

💡 Curiosidade Agronômica

Espécies como o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) possuem efeito alelopático, liberando substâncias que inibem a germinação de outras plantas, como a Tiririca.

As 4 Ações do Manejo Preventivo

  1. Manejo Eficaz da Entressafra: Impedir que daninhas produzam sementes.
  2. Limpeza de Bordaduras: Controlar focos de disseminação em carreadores e cercas.
  3. Limpeza de Maquinário: Evitar o transporte de sementes entre talhões e fazendas.
  4. Rotação de Culturas e Mecanismos de Ação: Principal ferramenta para prevenir e manejar a resistência.

Conclusão e Próximos Passos

O manejo da entressafra não é um custo, mas um investimento na produtividade. Um pousio mal manejado compromete o potencial da cultura seguinte e aumenta a pressão de seleção de plantas resistentes.

Checklist de Implementação Imediata

□ Planejamento da Dessecação:

  1. Mapear as plantas daninhas presentes e o histórico de resistência da área.
  2. Definir a estratégia: aplicação única ou dessecação sequencial.
  3. Planejar as datas de aplicação com base na data prevista de semeadura.

□ Durante a Operação:

  1. Utilizar a tecnologia de aplicação correta (bicos, volume de calda) para cada herbicida.
  2. Monitorar as condições climáticas (vento, temperatura, umidade).

□ Pós-Aplicação:

  1. Avaliar a eficácia do controle antes da semeadura.
  2. Registrar todos os produtos e doses no seu software de gestão.

Recursos Adicionais

Aprofunde seus conhecimentos sobre plantas daninhas:

Plantas de difícil controle:

Ferramentas recomendadas:

  • Manuais de Herbicidas: Consulte sempre a bula para recomendações de dose, mistura e intervalos de segurança
  • Mapa de Resistência da HRAC: Monitore os casos de resistência reportados para a sua região

🌾 Dica Final da Aegro

Utilize seu software de gestão agrícola para registrar quais herbicidas (e seus mecanismos de ação) foram usados em cada talhão. Esse histórico é fundamental para planejar a rotação de mecanismos no próximo ano e quebrar o ciclo da resistência.