Módulo 2 - Aula 3: Controle de Plantas Daninhas em Soja, Milho e Feijão
Domine as estratégias de manejo químico de plantas daninhas para soja, milho e feijão, com recomendações de herbicidas pré e pós-emergentes e táticas para combater a resistência.

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📚 Índice
- Manejo Químico de Plantas Daninhas: Estratégias para Soja, Milho e Feijão
- O Desafio da Resistência Múltipla: O Caso da Buva (Conyza spp.)
- Manejo Químico por Cultura: Guia Comparativo
- Manejo Químico na Cultura do Milho
- Estratégia Avançada: Consórcio Milho-Braquiária
- Manejo Químico na Cultura da Soja
- Manejo Químico na Cultura do Feijão
- Alerta: Amaranthus palmeri (Caruru-Palmeri)
- Troubleshooting: O que Fazer Quando o Controle Falha?
- 📊 Números que Importam: ROI do Herbicida Pré-emergente
- Apêndice Técnico: Mecanismos de Ação (MOA)
- Conclusão e Próximos Passos
Manejo Químico de Plantas Daninhas: Estratégias para Soja, Milho e Feijão
O manejo efetivo de plantas daninhas é um dos pilares da alta produtividade em grãos. A matocompetição pode causar perdas de produtividade que chegam a 80% no milho, 70% no feijão e 40% na soja. A era das soluções simples, baseadas em um único herbicida, terminou, dando lugar a estratégias que exigem rotação de mecanismos de ação e planejamento integrado.
Uma falha no controle químico pode resultar em:
- Aumento de até R$ 400,00 por hectare no custo de controle.
- Perda irreversível do potencial produtivo da lavoura.
- Aumento do banco de sementes de plantas daninhas para as safras futuras.
- Seleção acelerada de biótipos resistentes.
Neste guia técnico, você encontrará recomendações de manejo químico, tabelas de referência e um guia de troubleshooting para o controle de plantas daninhas em soja, milho e feijão.
O Desafio da Resistência Múltipla: O Caso da Buva (Conyza spp.)
A Buva é uma das plantas daninhas que mais preocupam, especialmente após o relato de biótipos com resistência múltipla a cinco mecanismos de ação distintos (inibidores do Fotossistema I, Fotossistema II, PROTOX, EPSPs e Auxínicos).
Manejo Químico da Buva
Em cenários de resistência múltipla, o leque de opções químicas se estreita drasticamente:
- Pré-emergência: A aplicação de herbicidas residuais, como o Diclosulam (ex: Spider), na dessecação, é fundamental para controlar o banco de sementes e impedir novos fluxos de germinação.
- Pós-emergência (Soja): Em lavouras de soja com a tecnologia Liberty Link (tolerante ao Glufosinato de Amônio), este herbicida pode ser usado em pós-emergência.
Regra de Aplicação: O Glufosinato de Amônio é um herbicida de contato e só apresenta boa eficácia em plantas de Buva muito pequenas, no estádio de até 4 folhas. Plantas maiores, mesmo que atingidas, têm alta capacidade de rebrota.
💡 Curiosidade Agronômica: Plantio Direto vs. Buva
A Buva é uma planta fotoblástica positiva: suas sementes precisam de luz para germinar. O Sistema de Plantio Direto (SPD), com sua cobertura de palhada, age como uma barreira física que impede a passagem de luz, reduzindo drasticamente a germinação da Buva.
Manejo Químico por Cultura: Guia Comparativo
A escolha do herbicida correto depende da cultura, do alvo e do momento da aplicação. A tabela abaixo resume as principais estratégias.
| Cultura | Momento | Alvo Principal | Herbicidas Recomendados (Exemplos) | Pontos de Atenção |
|---|---|---|---|---|
| Milho | Pré-emergência | Gramíneas e Folhas Largas | Atrazina + S-metolachlor; Isoxaflutole | Isoxaflutole é melhor em solo com palhada. |
| Pós-emergência | Gramíneas e Folhas Largas | Tembotrione, Mesotrione | Nicosulfuron tem baixa eficácia em Capim-amargoso. | |
| Soja | Pré-emergência | Folhas Largas e Estreitas | Diclosulam, S-metolachlor, Flumioxazin | Essencial para controlar fluxos de germinação. |
| Pós-emergência | Gramíneas | Inibidores da ACCase (Cletodim, Haloxyfop) | Usar em rotação com outros mecanismos. | |
| Feijão | Pré-emergência | Geral | Pendimethalin, Trifluralin | Exigem solo úmido ou incorporação. |
| Pós-emergência | Folhas Largas | Bentazon, Fomesafen | Cuidado com o carryover do Fomesafen para o milho. |
Manejo Químico na Cultura do Milho
O controle de gramíneas (folhas estreitas) dentro de outra gramínea (milho) é o principal desafio.
Controle Pré-emergente
- Recomendação Clássica: A associação de Atrazina com S-metolachlor oferece bom controle residual inicial.
- Em Plantio Direto: Opte por moléculas com capacidade de transposição da palha, como o Isoxaflutole.
Controle Pós-emergente
- Herbicidas Eficazes: Tembotrione e Mesotrione são as opções mais recomendadas para gramíneas e folhas largas.
- Tecnologia RR: O Glifosato deve ser usado em híbridos RR, mas sempre associado a outro mecanismo de ação (ex: Atrazina + Mesotrione).
❌ Erros Comuns no Milho
- Nicosulfuron vs. Capim Amargoso: Nicosulfuron (ex: Sanson) não apresenta boa eficácia específica sobre o Capim Amargoso. Para esta espécie, priorize Tembotrione ou Mesotrione.
- Antagonismo Glifosato + Atrazina: A mistura em tanque pode diminuir a eficácia do Glifosato. Para compensar, aumente a dose do Glifosato para 3,0 a 3,5 L/ha na mistura.
Estratégia Avançada: Consórcio Milho-Braquiária
O consórcio suprime plantas daninhas, mas exige manejo da competição inicial.
Procedimento Passo a Passo: Estabelecimento do Consórcio
Dificuldade: Intermediária Objetivo: Garantir que o milho tenha vantagem competitiva sobre a braquiária.
Passos
- Vantagem Temporal ou Espacial: Semeie o milho alguns dias antes da braquiária, ou semeie a braquiária em maior profundidade.
- Localização Estratégica: Semeie a braquiária apenas nas entrelinhas, longe da linha de adubação do milho.
- Manejo Químico em Subdose: Aplique herbicidas como Atrazina + Mesotrione ou Nicosulfuron em doses reduzidas para “frear” o crescimento inicial da braquiária sem matá-la.
Atenção: O herbicida Tembotrione (ex: Soberan) não deve ser usado no manejo do consórcio, pois elimina a braquiária do sistema.
Manejo Químico na Cultura da Soja
O manejo exige a diversificação de mecanismos de ação, tanto em pré quanto em pós-emergência.
Controle Pré-emergente na Soja
O uso de herbicidas residuais como Diclosulam, S-metolachlor e Flumioxazin é indispensável para controlar os fluxos de germinação.
Controle Pós-emergente na Soja
- Folhas Largas: Clorimuron é uma alternativa.
- Folhas Estreitas (Gramíneas): Utilizam-se os inibidores da ACCase (graminicidas), como Cletodim ou Haloxyfop.
Manejo Químico na Cultura do Feijão
O feijão é sensível à matocompetição inicial e possui menos herbicidas registrados.
Estratégias de Controle no Feijão
- Pré-emergência: Pendimethalin e Trifluralin são eficazes, mas exigem solo úmido ou incorporação.
- Pós-emergência: As opções mais comuns incluem Bentazon, Fomesafen (folhas largas) e inibidores da ACCase (folhas estreitas).
❌ Erros Comuns no Feijão
- S-metolachlor em Plantio Direto: A molécula tem dificuldade em transpor a palha, resultando em baixa eficácia.
- Carryover do Fomesafen: Este herbicida tem longo efeito residual. Se o planejamento da safra seguinte incluir milho ou sorgo, o Fomesafen residual pode causar fitotoxicidade severa.
Alerta: Amaranthus palmeri (Caruru-Palmeri)
Identificada no Mato Grosso em 2015, é uma das plantas daninhas mais agressivas do mundo. O controle é baseado em Glifosato e inibidores da ALS, mas a resistência é crescente, exigindo um esforço integrado rigoroso para conter sua disseminação.
Troubleshooting: O que Fazer Quando o Controle Falha?
Uma falha na aplicação pode ter múltiplas causas. Use esta tabela para um diagnóstico rápido.
| Sintoma Observado | Causa Provável | Ação Corretiva Imediata | Prevenção Futura |
|---|---|---|---|
| Falha em reboleiras; plantas da mesma espécie vivas e mortas lado a lado. | Resistência | Mapear a área, não reaplicar o mesmo produto. Usar mecanismo de ação diferente se possível. | Rotacionar mecanismos de ação; realizar manejo de entressafra. |
| Controle ruim em todo o talhão, atingindo várias espécies. | Dose incorreta ou má calibração | Verificar o volume de calda e a calibração do pulverizador. | Calibrar o equipamento antes de cada aplicação; usar a dose de bula. |
| Gotas escorrem das folhas; produto não adere. | Condições Climáticas Inadequadas | Evitar aplicar com orvalho, chuva iminente ou umidade do ar muito baixa (<55%). | Monitorar as condições climáticas via estação meteorológica. |
| Efeito baixo em plantas muito desenvolvidas. | Estádio Incorreto da Planta Daninha | Pouco a fazer. Realizar roçada ou capina mecânica se a infestação for crítica. | Realizar o monitoramento constante para aplicar no estádio ideal (2-4 folhas). |
📊 Números que Importam: ROI do Herbicida Pré-emergente
Investir em pré-emergentes pode parecer um custo adicional, mas o retorno financeiro é significativo.
Cálculo de ROI (Exemplo para Soja):
Custo do Pré-emergente (Produto + Aplicação): R$ 120,00/ha
Economia em Pós-emergência (1 aplicação a menos): R$ 90,00/ha
Ganho de Produtividade (Evita matocompetição inicial - 3%): 3 sacas/ha @ R$ 120,00/saca = R$ 360,00/ha
Benefício Total: R$ 90,00 (economia) + R$ 360,00 (produtividade) = R$ 450,00/ha
ROI: (R$ 450,00 - R$ 120,00) / R$ 120,00 = 275%
Conclusão: Para cada R$ 1,00 investido em pré-emergente, o retorno estimado é de R$ 2,75.
Apêndice Técnico: Mecanismos de Ação (MOA)
Para uma rotação eficaz, é fundamental entender os diferentes mecanismos de ação (MOA). A tabela abaixo detalha os principais herbicidas mencionados neste guia.
| Mecanismo de Ação (MOA) | Grupo (HRAC) | Herbicidas Comuns | Culturas Principais | Alvo Principal |
|---|---|---|---|---|
| Inibidores da EPSPs | G | Glifosato | Soja, Milho (RR) | Pós-emergente, não seletivo |
| Inibidores da ACCase | A | Cletodim, Haloxyfop | Soja, Feijão | Pós-emergente, gramíneas |
| Inibidores da ALS | B | Diclosulam, Clorimuron | Soja, Milho | Pré/Pós-emergente, folhas largas |
| Inibidores da PROTOX | E | Flumioxazin, Fomesafen | Soja, Feijão | Pré/Pós-emergente, folhas largas |
| Inibidores do Fotossistema II | C1 | Atrazina | Milho | Pré/Pós-emergente, folhas largas |
| Inibidores da HPPD | F2 | Tembotrione, Mesotrione | Milho | Pós-emergente, amplo espectro |
| Inibidores de Carotenoides | F3 | Isoxaflutole | Milho | Pré-emergente, amplo espectro |
| Inibidores da Divisão Celular | K1 | S-metolachlor | Soja, Milho, Feijão | Pré-emergente, gramíneas |
| Inibidores da GS (Glutamina) | H | Glufosinato de Amônio | Soja (LL) | Pós-emergente, não seletivo |
Conclusão e Próximos Passos
O controle químico de plantas daninhas evoluiu de uma ação reativa para uma estratégia complexa que exige conhecimento técnico e planejamento. O sucesso depende da diversificação de táticas e da rotação de mecanismos de ação.
Ao concluir esta aula, você está apto a:
- ✅ Selecionar herbicidas pré e pós-emergentes para as principais culturas de grãos.
- ✅ Implementar o manejo químico em consórcios como Milho-Braquiária.
- ✅ Diagnosticar falhas de controle de forma sistemática para evitar prejuízos.
Checklist de Implementação Imediata
□ Planejamento da Safra:
- Mapear as Plantas Daninhas: Identifique as espécies predominantes em cada talhão.
- Selecionar os Mecanismos de Ação: Escolha pelo menos 2-3 mecanismos de ação diferentes para rotacionar durante o ciclo.
- Analisar o Risco de Carryover: Verifique o residual dos herbicidas planejados para a cultura sucessora.
□ Antes de Cada Aplicação:
- Consultar a Bula: Sempre verifique a dose, o alvo e as condições ideais de aplicação.
- Realizar a Calibração: Certifique-se de que o pulverizador está corretamente calibrado.
- Monitorar o Clima: Aplique apenas com temperatura, umidade e vento adequados.
Recursos Adicionais
Aprofunde seu conhecimento sobre controle por cultura:
- Herbicida para Milho: Guia Completo de Seleção
- Dessecação Pré-Plantio do Milho
- Herbicida Pré-Emergente para Milho
- Trapoeraba: Identificação e Controle
Ferramentas recomendadas:
- Software de Gestão Agrícola: Para registrar o histórico de aplicações, doses e mecanismos de ação por talhão
- Fontes de Consulta: HRAC-BR (Comitê de Ação à Resistência a Herbicidas) para informações atualizadas sobre resistência
🌾 Dica Final da Aegro
O passo mais importante para combater a resistência é a rotação de mecanismos de ação. Utilize seu software de gestão para registrar não apenas o nome comercial, mas o mecanismo de ação (MOA) de cada produto. Ao planejar a safra, consulte esse histórico para garantir que você está efetivamente rotacionando os modos de ação, e não apenas as marcas comerciais.