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Módulo 2 - Aula 3: Controle de Plantas Daninhas em Soja, Milho e Feijão

Domine as estratégias de manejo químico de plantas daninhas para soja, milho e feijão, com recomendações de herbicidas pré e pós-emergentes e táticas para combater a resistência.

Aula 7 12 minutos

📚 Índice


Manejo Químico de Plantas Daninhas: Estratégias para Soja, Milho e Feijão

O manejo efetivo de plantas daninhas é um dos pilares da alta produtividade em grãos. A matocompetição pode causar perdas de produtividade que chegam a 80% no milho, 70% no feijão e 40% na soja. A era das soluções simples, baseadas em um único herbicida, terminou, dando lugar a estratégias que exigem rotação de mecanismos de ação e planejamento integrado.

Uma falha no controle químico pode resultar em:

  • Aumento de até R$ 400,00 por hectare no custo de controle.
  • Perda irreversível do potencial produtivo da lavoura.
  • Aumento do banco de sementes de plantas daninhas para as safras futuras.
  • Seleção acelerada de biótipos resistentes.

Neste guia técnico, você encontrará recomendações de manejo químico, tabelas de referência e um guia de troubleshooting para o controle de plantas daninhas em soja, milho e feijão.

O Desafio da Resistência Múltipla: O Caso da Buva (Conyza spp.)

A Buva é uma das plantas daninhas que mais preocupam, especialmente após o relato de biótipos com resistência múltipla a cinco mecanismos de ação distintos (inibidores do Fotossistema I, Fotossistema II, PROTOX, EPSPs e Auxínicos).

Manejo Químico da Buva

Em cenários de resistência múltipla, o leque de opções químicas se estreita drasticamente:

  • Pré-emergência: A aplicação de herbicidas residuais, como o Diclosulam (ex: Spider), na dessecação, é fundamental para controlar o banco de sementes e impedir novos fluxos de germinação.
  • Pós-emergência (Soja): Em lavouras de soja com a tecnologia Liberty Link (tolerante ao Glufosinato de Amônio), este herbicida pode ser usado em pós-emergência.

Regra de Aplicação: O Glufosinato de Amônio é um herbicida de contato e só apresenta boa eficácia em plantas de Buva muito pequenas, no estádio de até 4 folhas. Plantas maiores, mesmo que atingidas, têm alta capacidade de rebrota.

💡 Curiosidade Agronômica: Plantio Direto vs. Buva

A Buva é uma planta fotoblástica positiva: suas sementes precisam de luz para germinar. O Sistema de Plantio Direto (SPD), com sua cobertura de palhada, age como uma barreira física que impede a passagem de luz, reduzindo drasticamente a germinação da Buva.

Manejo Químico por Cultura: Guia Comparativo

A escolha do herbicida correto depende da cultura, do alvo e do momento da aplicação. A tabela abaixo resume as principais estratégias.

CulturaMomentoAlvo PrincipalHerbicidas Recomendados (Exemplos)Pontos de Atenção
MilhoPré-emergênciaGramíneas e Folhas LargasAtrazina + S-metolachlor; IsoxaflutoleIsoxaflutole é melhor em solo com palhada.
Pós-emergênciaGramíneas e Folhas LargasTembotrione, MesotrioneNicosulfuron tem baixa eficácia em Capim-amargoso.
SojaPré-emergênciaFolhas Largas e EstreitasDiclosulam, S-metolachlor, FlumioxazinEssencial para controlar fluxos de germinação.
Pós-emergênciaGramíneasInibidores da ACCase (Cletodim, Haloxyfop)Usar em rotação com outros mecanismos.
FeijãoPré-emergênciaGeralPendimethalin, TrifluralinExigem solo úmido ou incorporação.
Pós-emergênciaFolhas LargasBentazon, FomesafenCuidado com o carryover do Fomesafen para o milho.

Manejo Químico na Cultura do Milho

O controle de gramíneas (folhas estreitas) dentro de outra gramínea (milho) é o principal desafio.

Controle Pré-emergente

  • Recomendação Clássica: A associação de Atrazina com S-metolachlor oferece bom controle residual inicial.
  • Em Plantio Direto: Opte por moléculas com capacidade de transposição da palha, como o Isoxaflutole.

Controle Pós-emergente

  • Herbicidas Eficazes: Tembotrione e Mesotrione são as opções mais recomendadas para gramíneas e folhas largas.
  • Tecnologia RR: O Glifosato deve ser usado em híbridos RR, mas sempre associado a outro mecanismo de ação (ex: Atrazina + Mesotrione).

❌ Erros Comuns no Milho

  1. Nicosulfuron vs. Capim Amargoso: Nicosulfuron (ex: Sanson) não apresenta boa eficácia específica sobre o Capim Amargoso. Para esta espécie, priorize Tembotrione ou Mesotrione.
  2. Antagonismo Glifosato + Atrazina: A mistura em tanque pode diminuir a eficácia do Glifosato. Para compensar, aumente a dose do Glifosato para 3,0 a 3,5 L/ha na mistura.

Estratégia Avançada: Consórcio Milho-Braquiária

O consórcio suprime plantas daninhas, mas exige manejo da competição inicial.

Procedimento Passo a Passo: Estabelecimento do Consórcio

Dificuldade: Intermediária Objetivo: Garantir que o milho tenha vantagem competitiva sobre a braquiária.

Passos

  1. Vantagem Temporal ou Espacial: Semeie o milho alguns dias antes da braquiária, ou semeie a braquiária em maior profundidade.
  2. Localização Estratégica: Semeie a braquiária apenas nas entrelinhas, longe da linha de adubação do milho.
  3. Manejo Químico em Subdose: Aplique herbicidas como Atrazina + Mesotrione ou Nicosulfuron em doses reduzidas para “frear” o crescimento inicial da braquiária sem matá-la.

Atenção: O herbicida Tembotrione (ex: Soberan) não deve ser usado no manejo do consórcio, pois elimina a braquiária do sistema.

Manejo Químico na Cultura da Soja

O manejo exige a diversificação de mecanismos de ação, tanto em pré quanto em pós-emergência.

Controle Pré-emergente na Soja

O uso de herbicidas residuais como Diclosulam, S-metolachlor e Flumioxazin é indispensável para controlar os fluxos de germinação.

Controle Pós-emergente na Soja

  • Folhas Largas: Clorimuron é uma alternativa.
  • Folhas Estreitas (Gramíneas): Utilizam-se os inibidores da ACCase (graminicidas), como Cletodim ou Haloxyfop.

Manejo Químico na Cultura do Feijão

O feijão é sensível à matocompetição inicial e possui menos herbicidas registrados.

Estratégias de Controle no Feijão

  • Pré-emergência: Pendimethalin e Trifluralin são eficazes, mas exigem solo úmido ou incorporação.
  • Pós-emergência: As opções mais comuns incluem Bentazon, Fomesafen (folhas largas) e inibidores da ACCase (folhas estreitas).

❌ Erros Comuns no Feijão

  1. S-metolachlor em Plantio Direto: A molécula tem dificuldade em transpor a palha, resultando em baixa eficácia.
  2. Carryover do Fomesafen: Este herbicida tem longo efeito residual. Se o planejamento da safra seguinte incluir milho ou sorgo, o Fomesafen residual pode causar fitotoxicidade severa.

Alerta: Amaranthus palmeri (Caruru-Palmeri)

Identificada no Mato Grosso em 2015, é uma das plantas daninhas mais agressivas do mundo. O controle é baseado em Glifosato e inibidores da ALS, mas a resistência é crescente, exigindo um esforço integrado rigoroso para conter sua disseminação.

Troubleshooting: O que Fazer Quando o Controle Falha?

Uma falha na aplicação pode ter múltiplas causas. Use esta tabela para um diagnóstico rápido.

Sintoma ObservadoCausa ProvávelAção Corretiva ImediataPrevenção Futura
Falha em reboleiras; plantas da mesma espécie vivas e mortas lado a lado.ResistênciaMapear a área, não reaplicar o mesmo produto. Usar mecanismo de ação diferente se possível.Rotacionar mecanismos de ação; realizar manejo de entressafra.
Controle ruim em todo o talhão, atingindo várias espécies.Dose incorreta ou má calibraçãoVerificar o volume de calda e a calibração do pulverizador.Calibrar o equipamento antes de cada aplicação; usar a dose de bula.
Gotas escorrem das folhas; produto não adere.Condições Climáticas InadequadasEvitar aplicar com orvalho, chuva iminente ou umidade do ar muito baixa (<55%).Monitorar as condições climáticas via estação meteorológica.
Efeito baixo em plantas muito desenvolvidas.Estádio Incorreto da Planta DaninhaPouco a fazer. Realizar roçada ou capina mecânica se a infestação for crítica.Realizar o monitoramento constante para aplicar no estádio ideal (2-4 folhas).

📊 Números que Importam: ROI do Herbicida Pré-emergente

Investir em pré-emergentes pode parecer um custo adicional, mas o retorno financeiro é significativo.

Cálculo de ROI (Exemplo para Soja):

  • Custo do Pré-emergente (Produto + Aplicação): R$ 120,00/ha

  • Economia em Pós-emergência (1 aplicação a menos): R$ 90,00/ha

  • Ganho de Produtividade (Evita matocompetição inicial - 3%): 3 sacas/ha @ R$ 120,00/saca = R$ 360,00/ha

  • Benefício Total: R$ 90,00 (economia) + R$ 360,00 (produtividade) = R$ 450,00/ha

  • ROI: (R$ 450,00 - R$ 120,00) / R$ 120,00 = 275%

Conclusão: Para cada R$ 1,00 investido em pré-emergente, o retorno estimado é de R$ 2,75.

Apêndice Técnico: Mecanismos de Ação (MOA)

Para uma rotação eficaz, é fundamental entender os diferentes mecanismos de ação (MOA). A tabela abaixo detalha os principais herbicidas mencionados neste guia.

Mecanismo de Ação (MOA)Grupo (HRAC)Herbicidas ComunsCulturas PrincipaisAlvo Principal
Inibidores da EPSPsGGlifosatoSoja, Milho (RR)Pós-emergente, não seletivo
Inibidores da ACCaseACletodim, HaloxyfopSoja, FeijãoPós-emergente, gramíneas
Inibidores da ALSBDiclosulam, ClorimuronSoja, MilhoPré/Pós-emergente, folhas largas
Inibidores da PROTOXEFlumioxazin, FomesafenSoja, FeijãoPré/Pós-emergente, folhas largas
Inibidores do Fotossistema IIC1AtrazinaMilhoPré/Pós-emergente, folhas largas
Inibidores da HPPDF2Tembotrione, MesotrioneMilhoPós-emergente, amplo espectro
Inibidores de CarotenoidesF3IsoxaflutoleMilhoPré-emergente, amplo espectro
Inibidores da Divisão CelularK1S-metolachlorSoja, Milho, FeijãoPré-emergente, gramíneas
Inibidores da GS (Glutamina)HGlufosinato de AmônioSoja (LL)Pós-emergente, não seletivo

Conclusão e Próximos Passos

O controle químico de plantas daninhas evoluiu de uma ação reativa para uma estratégia complexa que exige conhecimento técnico e planejamento. O sucesso depende da diversificação de táticas e da rotação de mecanismos de ação.

Ao concluir esta aula, você está apto a:

  • ✅ Selecionar herbicidas pré e pós-emergentes para as principais culturas de grãos.
  • ✅ Implementar o manejo químico em consórcios como Milho-Braquiária.
  • ✅ Diagnosticar falhas de controle de forma sistemática para evitar prejuízos.

Checklist de Implementação Imediata

□ Planejamento da Safra:

  1. Mapear as Plantas Daninhas: Identifique as espécies predominantes em cada talhão.
  2. Selecionar os Mecanismos de Ação: Escolha pelo menos 2-3 mecanismos de ação diferentes para rotacionar durante o ciclo.
  3. Analisar o Risco de Carryover: Verifique o residual dos herbicidas planejados para a cultura sucessora.

□ Antes de Cada Aplicação:

  1. Consultar a Bula: Sempre verifique a dose, o alvo e as condições ideais de aplicação.
  2. Realizar a Calibração: Certifique-se de que o pulverizador está corretamente calibrado.
  3. Monitorar o Clima: Aplique apenas com temperatura, umidade e vento adequados.

Recursos Adicionais

Aprofunde seu conhecimento sobre controle por cultura:

Ferramentas recomendadas:

  • Software de Gestão Agrícola: Para registrar o histórico de aplicações, doses e mecanismos de ação por talhão
  • Fontes de Consulta: HRAC-BR (Comitê de Ação à Resistência a Herbicidas) para informações atualizadas sobre resistência

🌾 Dica Final da Aegro

O passo mais importante para combater a resistência é a rotação de mecanismos de ação. Utilize seu software de gestão para registrar não apenas o nome comercial, mas o mecanismo de ação (MOA) de cada produto. Ao planejar a safra, consulte esse histórico para garantir que você está efetivamente rotacionando os modos de ação, e não apenas as marcas comerciais.