← Voltar ao curso

Módulo 4 - Aula 2: Identificação e Controle de Doenças em Soja e Feijão

Aprenda a identificar precocemente Ferrugem Asiática, Mofo Branco, Mancha Alvo e Angular. Técnicas práticas de diagnóstico e protocolos de controle.

Aula 12 4 minutos

Identificação e Controle de Doenças em Soja e Feijão

A detecção precoce de doenças pode significar a diferença entre lucro de R$ 2.500/ha e prejuízo de R$ 1.800/ha na cultura da soja. Apenas a Ferrugem Asiática causa perdas médias de 37% da produção quando não controlada, equivalente a 22 sacas/ha em lavouras de alta produtividade.

Erros de identificação causam:

  • Perda de até R$ 4.300/ha por aplicações tardias
  • Redução de 15-80% na eficácia dos fungicidas
  • Aumento de 3-5 aplicações desnecessárias por safra
  • Resistência de patógenos a 45% dos princípios ativos disponíveis

Neste artigo, você aprenderá protocolos práticos de identificação visual, momentos críticos de monitoramento e critérios técnicos para tomada de decisão no controle das quatro principais doenças: Ferrugem Asiática, Mofo Branco, Mancha Alvo e Mancha Angular.

📚 Leia também:

Tabela Comparativa: Identificação Rápida das 4 Principais Doenças

DoençaCultura AfetadaSintoma InicialCaracterística DiagnósticaPerda PotencialCusto Médio Controle
Ferrugem AsiáticaSojaPontuações escuras minúsculas (1-2mm)Pústulas na face inferior da folha (usar lupa 20x)37-80% (22-48 sc/ha)R$ 380-520/ha (3-4 aplicações)
Mofo BrancoSoja e FeijãoLesões encharcadas nas hastesMicélio branco cotonoso + escleródios pretos20-50% (12-30 sc/ha)R$ 250-400/ha (2-3 aplicações)
Mancha AlvoSojaPontos pardos nas folhasAnéis concêntricos tipo “alvo”15-35% (9-21 sc/ha)R$ 180-320/ha (2 aplicações)
Mancha AngularFeijãoLesões circulares marronsFormato angular limitado por nervuras30-80% (18-48 sc/ha)R$ 200-350/ha (2-3 aplicações)

Mofo Branco (Sclerotinia sclerotiorum)

Conceitos Fundamentais

O Mofo Branco ataca 408 espécies de plantas hospedeiras, causando perdas de 20-50% na produção de soja e até 70% em feijão. Cada escleródio no solo pode produzir 15-30 apotécios, liberando 2-30 milhões de ascósporos durante o florescimento. A densidade de 10 escleródios/m² já justifica medidas preventivas.

Protocolo de Identificação no Campo

Tempo: 10 minutos/ha | Ferramentas: Canivete, saco plástico, lupa 10x

Estágio 1: Infecção Inicial (R1-R2)

  • Sintoma: Lesões encharcadas de 2-5 cm nas hastes, iniciando 10-15 cm acima do solo
  • Cor: Marrom-clara aquosa, textura mole ao toque
  • Localização: Axilas foliares onde pétalas senescentes se acumulam

Estágio 2: Colonização (5-7 dias após)

  • Sintoma: Micélio branco-algodão cobrindo 20-40 cm da haste
  • Teste diagnóstico: Corte transversal mostra medula destruída
  • Produção: 50-400 escleródios por planta infectada

Estágio 3: Formação de Escleródios (10-15 dias)

  • Tamanho: 2-20 mm comprimento x 2-7 mm largura
  • Peso: 5-45 mg por escleródio
  • Cor: Preto externamente, branco internamente
  • Viabilidade: 5-10 anos no solo

🔬 Evidência Científica Segundo Meyer et al. (2019), a germinação carpogênica ocorre com umidade do solo >70% por 10-14 dias consecutivos e temperatura entre 11-20°C. Cada apotécio libera ascósporos por 5-10 dias.

💰 Viabilidade Econômica Controle Preventivo: R$ 250-400/ha | Controle Curativo: R$ 450-680/ha ROI do manejo integrado: 280% | Redução de inóculo: 65% com Trichoderma


Mancha Angular (Phaeoisariopsis griseola)

Conceitos Fundamentais da Mancha Angular

A Mancha Angular causa perdas de 30-80% no feijão comum, com incidência em 92% das lavouras brasileiras. O fungo produz 50-300 conídios por lesão, dispersados pelo vento a até 500 metros. Cultivares suscetíveis perdem 45 kg/ha para cada 1% de severidade na fase R6.

Protocolo de Diferenciação Visual

Tempo: 5 minutos | Ferramentas: Lupa 10x, cartela comparativa

Identificação por Órgão da Planta

ÓrgãoMancha AngularAntracnose (comparação)Teste Diagnóstico
Folhas PrimáriasLesões circulares 3-8 mm, marrom-cinzaLesões necróticas nas nervurasHalo amarelo presente
TrifóliosFormato angular 5-15 mm, limitado por nervurasLesões arredondadas irregularesGeometria poligonal
VagensManchas superficiais marrom-avermelhadasLesões deprimidas com centro claroTeste do palito: não afunda
SementesManchas marrons pequenasLesões deprimidas escurasTeste germinação: 60% redução

Timing Agronômico Monitorar a partir de V3-V4 com inspeções semanais. Severidade >5% em R5 indica aplicação imediata. Janela ótima de controle: R5-R6 com umidade relativa >80%.


Mancha Alvo (Corynespora cassiicola)

Conceitos Fundamentais da Mancha Alvo

A Mancha Alvo expandiu de 3% para 45% das lavouras brasileiras em 10 anos. Causa desfolha de 40-60% do dossel, reduzindo peso de grãos em 18-32%. O fungo sobrevive 18 meses em restos culturais e produz 10.000-50.000 conídios/cm² de lesão sob orvalho.

Protocolo de Identificação Visual

Tempo: 8 minutos/ponto | Ferramentas: Lupa 20x, escala diagramática

Evolução Temporal das Lesões

  1. 24-48 horas: Pontuações pardas de 0,5-1 mm
  2. 3-5 dias: Expansão para 3-5 mm, surgimento do primeiro anel
  3. 7-10 dias: Lesões de 10-15 mm com 3-5 anéis concêntricos
  4. 12-15 dias: Coalescência, lesões >20 mm, centro necrosado

🚜 Na Prática da Fazenda Produtor José Silva, de Lucas do Rio Verde-MT, reduziu severidade de 42% para 8% aplicando fungicida com 15% de lesões no terço inferior. Economia: R$ 780/ha comparado a calendário fixo.


Ferrugem Asiática da Soja (Phakopsora pachyrhizi)

Conceitos Fundamentais da Ferrugem Asiática

Desde 2001, a Ferrugem Asiática causou prejuízos acumulados de US$ 31,5 bilhões no Brasil. Cada dia de atraso no controle representa perda de 125 kg/ha (2,1 sacas). O fungo completa ciclo em 6-9 dias, produzindo 150-300 uredósporos por pústula durante 3 semanas.

Protocolo de Detecção Precoce com Lupa

Tempo: 15 minutos/ha | Ferramentas: Lupa 20-30x, prancheta, ficha de campo

Procedimento Passo a Passo

  1. Caminhamento em “W” - 10 pontos/talhão
  2. Coletar 10 folhas do terço inferior por ponto
  3. Examinar face abaxial com lupa 20x
  4. Procurar pústulas de 0,1-0,5 mm (tamanho de ponta de alfinete)
  5. Teste do papel branco: Bater folha sobre papel - uredósporos deixam pó bege

Escala de Severidade e Ação

SeveridadePústulas/cm²DesfolhaAção RequeridaEficácia Fungicida
Traço1-50%Aplicar em 24h85-95%
Baixa6-155-10%Aplicar imediato65-80%
Média16-3015-30%Aplicar + adjuvante45-65%
Alta>30>40%Salvar o que resta20-40%

Erro Comum Mito: “Aplico quando vejo folhas amarelas” Realidade: Amarelecimento indica 30-40 dias de infecção. Perdas já superaram 30%. Controle terá eficácia <40%.

📊 Números que ImportamVelocidade de disseminação: 50 km/semana com vento favorável • Produção de esporos: 1 lesão = até 8.000 uredósporos/diaCusto do atraso: Cada dia = R$ 126/ha em perdas • Janela de controle efetivo: 72 horas após detecção inicial


Tabela de Condições Favoráveis para Desenvolvimento

DoençaTemperatura ÓtimaUmidade RelativaMolhamento FoliarPeríodo CríticoVelocidade Progressão
Ferrugem Asiática18-26°C>75%>6h contínuasR1-R5 (floração-enchimento)6-9 dias/ciclo
Mofo Branco16-22°C>80%>16h/dia por 3 diasR1-R3 (floração)10-15 dias infecção total
Mancha Alvo25-30°C>80%>12hV8-R6 (vegetativo-grãos)7-10 dias/ciclo
Mancha Angular24-28°C>90%>10hV3-R6 (todo ciclo)10-14 dias/ciclo

🌾 Dica da Aegro Configure alertas automáticos no software quando: temperatura média = 20-25°C + umidade >80% por 2 dias consecutivos. Isso indica risco alto para múltiplas doenças simultaneamente.


Conclusão e Próximos Passos

O diagnóstico correto economiza R$ 800-1.200/ha em aplicações desnecessárias e aumenta a eficácia do controle em 35-50%. A detecção precoce da Ferrugem Asiática sozinha pode preservar 15-20 sacas/ha de produtividade.

Checklist de Implementação

□ Imediato (próximas 24h):

  • Adquirir lupa de campo 20-30x (investimento: R$ 45-120)
  • Baixar escala diagramática de severidade no celular
  • Mapear pontos de monitoramento em “W” nos talhões
  • Criar planilha de registro: data, talhão, doença, severidade

□ Antes da próxima safra:

  • Instalar estação meteorológica ou assinar serviço de alertas
  • Treinar equipe com amostras preservadas em álcool 70%
  • Definir protocolo: monitoramento 2x/semana a partir de V4
  • Estabelecer níveis de ação: 5% severidade = aplicação

□ Manutenção contínua:

  • Coletar e preservar amostras de cada doença identificada
  • Registrar eficácia de controle por princípio ativo
  • Rotacionar grupos químicos: máximo 2 aplicações/grupo
  • Documentar custos reais: produto + aplicação + monitoramento

Recursos Adicionais

Aprofunde seu conhecimento sobre doenças em soja e feijão:

Ferramentas recomendadas:

  • App Diagnose Virtual: Embrapa - identificação por foto
  • Consórcio Antiferrugem: <www.consorcioantiferrugem.net> - mapas de dispersão
  • Escala Diagramática: Download em embrapa.br/soja/ferrugem