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Módulo 4: Utilização da Plataforma Aegro

Aula 5 41m

1. Introdução: O NDVI na Palma da Mão

Nos módulos anteriores, discutimos sensores proximais (tratores, drones) e orbitais (satélites). As plataformas de gestão agrícola, como a Aegro, se especializam em trazer o poder dos sensores orbitais para o seu computador e celular, de forma automática e organizada.

Elas eliminam a necessidade de baixar dados brutos ou ser um especialista em sensoriamento remoto. O objetivo é democratizar o acesso à informação, permitindo que você acompanhe o desenvolvimento da sua lavoura semanalmente, direto do escritório.

Neste artigo, vamos dissecar como a plataforma “Aegro Imagens” funciona, qual a fonte dos seus dados e, o mais importante, como aplicar todo o conhecimento dos Módulos 1, 2 e 3 dentro dessa ferramenta para tomar decisões reais.

2. De Onde Vêm as Imagens? A Fonte dos Dados Aegro

📋 Conceitos Fundamentais

A plataforma não gera a imagem; ela se conecta a uma constelação de satélites públicos de altíssima qualidade. A Aegro utiliza os dados do programa europeu Copernicus, especificamente do satélite Sentinel-2.

Este satélite é um dos mais avançados para uso agrícola disponíveis publicamente, e suas características definem o nível de detalhe que você terá na sua tela.

💡 Curiosidade Agronômica: O Raio-X do Sentinel-2 O Sentinel-2 não é um satélite qualquer. Ele foi projetado especificamente para monitoramento agrícola e ambiental. Suas especificações são o que permitem a agricultura de precisão em larga escala:

  • Resolução Espacial: 10 x 10 metros (cada pixel da imagem representa um quadrado de 100m² no seu talhão).
  • Resolução Temporal: 5 a 7 dias (ele passa sobre a sua fazenda aproximadamente uma vez por semana).
  • Bandas Espectrais: Ele captura as bandas exatas que aprendemos: o Vermelho (Red) e o Infravermelho Próximo (NIR), permitindo o cálculo preciso do NDVI, além das bandas Visíveis (RGB).

🎯 Aplicação Prática: O Que Você Recebe?

A cada 5-7 dias, a plataforma processa e entrega duas imagens para cada talhão cadastrado:

  1. Imagem NDVI: O mapa de vigor (do vermelho ao verde), pronto para análise agronômica.
  2. Imagem RGB (Real): Uma foto “normal”, colorida, da sua fazenda.

A imagem RGB é tão importante quanto a de NDVI, pois ela é sua principal ferramenta para validar o que o mapa de vigor está mostrando, especialmente para identificar o nosso maior inimigo: as nuvens.

3. O Inimigo nº 1 do Satélite: O Efeito das Nuvens

📋 Conceitos Fundamentais

Como aprendemos no Módulo 2, os sensores orbitais são passivos, ou seja, dependem da luz do sol e não “enxergam” através de nuvens.

Uma nuvem não apenas bloqueia a visão da lavoura; ela cria um dado falso. Por ser branca, a nuvem reflete toda a luz, fazendo com que o sensor leia um NDVI altíssimo. Já a sombra da nuvem no chão faz o oposto, criando uma mancha de NDVI artificialmente baixo.

Erro Comum: Analisar apenas o mapa de NDVI Mito: “O mapa de NDVI está com uma mancha vermelha (baixo vigor). Devo ter tido um problema sério ali.” Realidade: Se você não comparar o mapa de NDVI com a imagem RGB do mesmo dia, você corre o risco de estar analisando a sombra de uma nuvem. A plataforma Aegro facilita isso mostrando o percentual de nuvens em cada imagem, permitindo que você descarte imagens inúteis.

⚙️ Passo a Passo Técnico: Como Analisar Nuvens na Plataforma

Tempo estimado: 2 minutos Dificuldade: Básica Materiais necessários: Acesso à plataforma Aegro.

Passos:

1. Abra o Histórico de Imagens Selecione seu talhão e acesse o histórico de imagens. Você verá uma linha do tempo com todas as imagens NDVI e RGB disponíveis.

2. Verifique o Percentual de Nuvens A plataforma classifica cada imagem com um percentual de nuvens (ex: 0%, 7%, 32%, 71%) [17:19 - 21:35].

3. Compare Lado a Lado (RGB vs. NDVI)

  • 0% de Nuvem: A imagem RGB está limpa. O mapa de NDVI é fiel à realidade do campo.
  • 32% de Nuvem: Na imagem RGB, você vê nuvens brancas. No mapa de NDVI, você vê manchas falsas (vermelhas ou azuis) exatamente nos mesmos locais. Essa imagem é enganosa.
  • 71% de Nuvem: A imagem está quase toda coberta. O mapa de NDVI é um caos de dados falsos e inutilizável.

Resultado esperado: Você deve tomar decisões apenas com base em imagens “limpas”.

📊 Números que Importam: Qual o Limite Aceitável de Nuvens? A decisão final é agronômica, mas uma regra prática é:

  • 0% de nuvem: Ideal. Nota 10.
  • Abaixo de 10-12%: Aceitável. Você pode usar a imagem, desde que as poucas nuvens não estejam sobre sua área de interesse.
  • Acima de 20-30%: Perigoso. O risco de interpretar um dado falso é muito alto. Descarte esta imagem e aguarde a próxima passagem do satélite.

4. Aplicações Práticas Dentro da Plataforma Aegro

Com um mapa de NDVI limpo e confiável em mãos, podemos aplicar o conhecimento dos módulos anteriores diretamente na plataforma.

1. Monitoramento do Ciclo da Cultura

Ao visualizar o “filme” da sua safra (a linha do tempo de imagens), você pode validar o efeito das suas práticas de manejo.

🚜 Na Prática da Fazenda Você olha a sequência de imagens do seu milho:

  • 17 de Maio: NDVI baixo, lavoura no início do vegetativo.
  • 19 de Maio (Data da sua aplicação): Você registra no Aegro a aplicação de Nitrogênio em cobertura.
  • 01 de Junho: A imagem de NDVI seguinte mostra um “salto” no vigor, com a lavoura muito mais verde e homogênea.

O NDVI, aqui, funciona como uma auditoria, comprovando visualmente que sua adubação teve a resposta esperada.

2. Controle Localizado de Plantas Daninhas

Esta é uma das aplicações de maior economia. Imagine um talhão em pousio (preparado para o plantio), que deveria estar totalmente “vermelho” (solo exposto, baixo NDVI).

Se o seu mapa de NDVI mostra manchas verdes ou amarelas nesse talhão, o diagnóstico é claro: focos de plantas daninhas.

💰 Viabilidade Econômica Em vez de aplicar herbicida em área total, o mapa de NDVI permite uma aplicação localizada. Você economiza defensivo, combustível, tempo de máquina e mão de obra, além de reduzir o impacto ambiental.

3. Geração de Mapas de Adubação à Taxa Variável

Como vimos no Módulo 3, o NDVI é a base para a adubação nitrogenada de precisão. A plataforma permite que você use o mapa de NDVI para gerar o mapa de aplicação:

  1. Escolha o Algoritmo: Você define a regra (ex: inclinação negativa, como vimos no Módulo 3). Onde o NDVI for baixo (planta precisando de ajuda), aplicar mais N; onde o NDVI for alto, aplicar menos.
  2. Defina as Doses: Você estipula as doses mínimas e máximas.
  3. Exporte o Mapa: O software gera o arquivo de aplicação (shapefile) compatível com o monitor do seu trator/distribuidor.

O trator então executará a aplicação de forma automática, ajustando a dose de N a cada pixel de 10x10 metros.

4. Apontamentos e Amostragem Inteligente

Este é o ponto que conecta o escritório ao campo. O software não substitui a “sola da bota”; ele a direciona.

🌾 Dica da Aegro A função de “Apontamentos” é a aplicação prática da Amostragem Inteligente (Módulo 3):

  1. No Escritório: Você vê uma mancha de baixo NDVI no mapa.
  2. No Campo: Você abre o app, vai até o local exato da mancha usando o GPS.
  3. Investigação: Você constata que a mancha é causada por uma falha no stand de plantas.
  4. Ação: Você cria um “Apontamento” no app, anexa uma foto e escreve: “Falha de stand por problema na semeadora”.

Essa informação fica salva e georreferenciada no mapa, criando um histórico agronômico vital para explicar a produtividade final e ajustar o maquinário para a próxima safra.

5. Conclusão: A Ferramenta e o Agrônomo

Chegamos ao fim da nossa jornada. Vimos que o NDVI é uma ciência robusta, que vai da física da luz (Módulo 1) até sensores avançados (Módulo 2) e interpretações agronômicas complexas (Módulo 3).

O Módulo 4 nos mostrou que plataformas como a Aegro são essenciais para democratizar o acesso a esses dados, especialmente os de satélite. Elas automatizam a coleta e facilitam a visualização.

Contudo, a ferramenta não faz o trabalho sozinha. Ela sempre terá o “problema da nuvem”. Ela lhe dará um mapa, mas não o diagnóstico. O NDVI aponta onde olhar; cabe a você, agrônomo, com seu conhecimento e sua bota no campo, dizer o porquê e decidir o que fazer.

Muito obrigado por me acompanhar neste curso. Agradeço à Aegro pela oportunidade e a vocês pela atenção. A ciência agronômica é a base, mas é a sua aplicação inteligente que garante a rentabilidade e a sustentabilidade no campo.