O que é Antracnose No Feijao

A antracnose do feijoeiro é uma das doenças fúngicas de maior importância econômica para a cultura do feijão (Phaseolus vulgaris) no Brasil, sendo causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum. Esta enfermidade é particularmente destrutiva em regiões de clima ameno e úmido, podendo ocasionar perdas de até 100% da produção se não for manejada adequadamente e se as condições ambientais forem favoráveis ao patógeno. A doença afeta toda a parte aérea da planta, incidindo sobre folhas, caules e, principalmente, as vagens, o que compromete diretamente a qualidade final do grão e seu valor de mercado.

No contexto das safras brasileiras, a antracnose é historicamente mais severa durante a “safra das águas” (primeira safra), semeada entre setembro e dezembro, especialmente nas regiões Sul e Sudeste e em áreas de altitude do Centro-Oeste. Isso ocorre porque o fungo encontra seu ambiente ideal em temperaturas moderadas, variando entre 18°C e 22°C, associadas à alta umidade relativa do ar e chuvas frequentes. A disseminação dentro da lavoura ocorre principalmente por respingos de chuva e vento, que transportam os esporos de plantas doentes para plantas sadias, criando reboleiras de infecção.

O ciclo da doença inicia-se frequentemente pelo uso de sementes infectadas, que constituem o principal veículo de introdução do patógeno em novas áreas. Além disso, o fungo possui a capacidade de sobreviver em restos culturais (resteva) de uma safra para outra, tornando o manejo cultural uma peça-chave no controle. Dada a sua agressividade e a capacidade de depreciar o produto colhido, a identificação precoce e o monitoramento constante são essenciais para a tomada de decisão agronômica.

Principais Características

  • Agente Causal e Condições: Causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum, a doença exige temperaturas amenas (18°C a 22°C) e alta umidade (acima de 90% ou molhamento foliar) para se desenvolver, sendo inibida por calor excessivo.
  • Sintomas nas Folhas: O sinal mais típico é a necrose das nervuras na face inferior da folha, que adquirem uma coloração variando de vermelho-tijolo a castanho-escuro ou preto. Posteriormente, essas lesões podem ser vistas na face superior e causar o crestamento e queda prematura da folhagem.
  • Lesões nas Vagens: Nas vagens, formam-se lesões circulares, deprimidas (afundadas), com centro claro e bordas delimitadas por um anel saliente de cor escura ou avermelhada. Em condições de alta umidade, é possível observar uma massa rosada no centro da lesão, que são os esporos do fungo.
  • Danos nos Grãos: O fungo pode penetrar a vagem e atingir os grãos, causando manchas pardas e deprimidas. Isso resulta em sementes “picadas”, com baixo poder germinativo e impróprias para a comercialização.
  • Cancros no Caule: Em infecções severas, o patógeno provoca lesões alongadas e profundas no caule (cancros), que podem levar ao enfraquecimento da planta e ao acamamento.

Importante Saber

  • Qualidade da Semente é Crucial: Como o fungo se aloja no interior da semente, o uso de sementes certificadas e tratadas com fungicidas específicos é a primeira e mais eficiente barreira de proteção para evitar a entrada da doença na lavoura.
  • Variabilidade do Fungo: O Colletotrichum lindemuthianum possui grande variabilidade genética, com diversas raças fisiológicas identificadas no Brasil. Isso significa que uma variedade de feijão resistente a uma raça pode ser suscetível a outra, exigindo atenção na escolha da cultivar para cada região.
  • Rotação de Culturas: O fungo sobrevive nos restos culturais por até dois anos na ausência de hospedeiros. Portanto, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras (como gramíneas - milho, trigo, aveia) por um período de 2 a 3 anos é fundamental para reduzir o inóculo inicial no solo.
  • Monitoramento e Controle Químico: O controle químico deve ser preventivo ou realizado logo aos primeiros sintomas. O monitoramento deve focar na face inferior das folhas e nas nervuras. A aplicação de fungicidas deve considerar a tecnologia de aplicação correta para garantir a cobertura das partes baixas da planta.
  • Impacto Comercial: Além da redução de produtividade (peso), a antracnose afeta drasticamente a classificação do grão. Lotes com alta incidência de grãos manchados sofrem deságio severo ou são rejeitados pelas empacotadoras.
  • Disseminação Mecânica: O trânsito de máquinas, implementos e pessoas dentro da lavoura molhada pode facilitar a disseminação dos esporos. Recomenda-se evitar a entrada na área quando a folhagem estiver úmida.
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