Artigos sobre Armazenamento de Café

O que é Armazenamento De Café

O armazenamento de café é uma etapa crítica e estratégica dentro da cadeia produtiva da cafeicultura, situando-se na fase de pós-colheita. Mais do que simplesmente estocar a produção, este processo envolve a manutenção de condições ambientais controladas para preservar as características físicas, químicas e sensoriais dos grãos obtidas na lavoura. No contexto do agronegócio brasileiro, onde a produção é vasta e sujeita à bienalidade (alternância entre anos de alta e baixa produtividade), o armazenamento correto funciona como uma ferramenta de gestão comercial, permitindo ao produtor regular a oferta e aguardar momentos de preços mais favoráveis no mercado internacional, evitando a venda forçada durante a colheita quando a oferta é alta.

Tecnicamente, o armazenamento visa reduzir a atividade metabólica da semente e impedir o desenvolvimento de microrganismos nocivos. Para que isso ocorra com eficiência, é necessário estabilizar a massa de grãos em níveis específicos de teor de água e controlar o microclima do armazém. O café pode ser armazenado em diferentes estágios de beneficiamento: como “café em coco” (fruto seco com casca), “café em pergaminho” (sem casca, mas com a película protetora) ou “café em grão/verde” (beneficiado). A escolha do método e da estrutura de armazenagem impacta diretamente na longevidade da qualidade da bebida e na rentabilidade final da saca.

Principais Características

• Controle de Umidade do Grão: O parâmetro ideal para o armazenamento seguro situa-se entre 11% e 12%. Níveis acima disso favorecem fermentações indesejadas, enquanto níveis abaixo (inferiores a 10%) causam perda de peso comercial e quebra física dos grãos.

• Condições Ambientais: Para a preservação ideal da qualidade, recomenda-se manter a temperatura do ambiente de armazenagem em torno de 20 °C e a umidade relativa do ar próxima a 65%, evitando oscilações bruscas.

• Estágios de Armazenamento: O café pode ser estocado em três formas principais: em coco e em pergaminho (geralmente por períodos mais curtos na propriedade) e em grão verde (forma final para comercialização e estoques longos).

• Higroscopicidade: O grão de café é higroscópico, ou seja, possui a capacidade de absorver ou perder água para o ambiente. Isso exige monitoramento constante, pois um lote seco pode reumidificar se o ar estiver muito úmido.

• Proteção contra Agentes Externos: O sistema de armazenamento deve criar barreiras físicas eficazes contra pragas, roedores e, principalmente, o desenvolvimento de fungos produtores de micotoxinas.

Importante Saber

• Preservação, não Melhoria: É fundamental compreender que o armazenamento não cria qualidade; ele apenas preserva (ou destrói) o potencial qualitativo que veio da lavoura. Um café ruim não melhora com o tempo guardado, mas um café especial pode se tornar comum se mal armazenado.

• Riscos de Umidade Elevada: O armazenamento com umidade superior a 12% provoca o “branquear” dos grãos (perda de cor), degradação rápida de aroma e sabor, e risco elevado de contaminação por fungos e micotoxinas, o que pode inviabilizar a exportação.

• Prejuízos por Ressecamento: Secar excessivamente o café (abaixo de 10%) antes de armazenar resulta em prejuízo financeiro direto pela perda de peso (são necessários mais grãos para fechar uma saca de 60kg) e gera grãos quebradiços que se fragmentam no beneficiamento.

• Gestão de Bienalidade: O armazenamento permite ao cafeicultor brasileiro mitigar os efeitos da bienalidade do cafeeiro, guardando o excedente de safras altas para comercializar em anos de baixa produção, estabilizando a receita.

• Monitoramento Contínuo: A medição da umidade não deve ser feita apenas na entrada do armazém. Devido à interação do grão com o ambiente, é necessário realizar aferições periódicas para garantir que o lote permaneça dentro dos padrões de segurança ao longo dos meses.