O que é Besouros Pequenos Marrom
No contexto do monitoramento agrícola e da linguagem de campo, o termo “besouros pequenos marrom” é frequentemente utilizado por produtores e técnicos para descrever visualmente pragas que possuem carapaça dura e coloração escura. Embora biologicamente os besouros pertençam à ordem Coleoptera, essa descrição visual no agronegócio brasileiro refere-se, na grande maioria dos casos, ao Percevejo-marrom (Euschistus heros), que é a espécie predominante nas lavouras de soja e milho do país. A confusão ocorre devido ao formato de escudo (escutelo) do inseto e à rigidez de suas asas anteriores, que lembram a estrutura de um besouro.
Esta praga é um inseto fitófago da ordem Hemiptera, família Pentatomidae, e representa um dos maiores desafios fitossanitários para a agricultura tropical. Diferente dos besouros mastigadores, este inseto possui um aparelho bucal sugador (estilete) que perfura os tecidos vegetais para extrair seiva, injetando toxinas que causam distúrbios fisiológicos na planta. Sua adaptação ao clima quente do Cerrado e de outras regiões produtoras permitiu que ele se tornasse a espécie mais abundante do complexo de percevejos no Brasil.
A importância prática de identificar corretamente este “pequeno marrom” reside no seu alto potencial de dano e capacidade de sobrevivência. Durante a entressafra, o Euschistus heros entra em um estado de dormência (oligapausa) sob a palhada ou em plantas hospedeiras alternativas, sobrevivendo até a próxima safra. Sua presença é crítica pois afeta diretamente a produtividade e a qualidade dos grãos, exigindo estratégias de Manejo Integrado de Pragas (MIP) robustas para evitar prejuízos econômicos severos.
Principais Características
- Morfologia e Identificação: O adulto mede cerca de 7 mm a 11 mm de comprimento e possui coloração marrom-escura. Uma característica distintiva são os dois espinhos laterais pontiagudos no tórax (pronoto) e uma mancha branca em formato de meia-lua no final do escutelo (nas costas).
- Aparelho Bucal: Diferente dos besouros que possuem mandíbulas, este inseto possui um rostro (bico) longo e fino, adaptado para perfurar vagens e atingir os grãos em formação, sugando nutrientes essenciais.
- Ciclo de Vida: O ciclo completo (ovo a adulto) dura em média 25 a 30 dias em condições favoráveis de temperatura. As ninfas (fases jovens) começam a causar danos significativos a partir do terceiro ínstar.
- Comportamento de Defesa: Quando perturbados, liberam um odor desagradável característico (daí o nome popular “percevejo”) e tendem a se jogar no solo, escondendo-se na palhada, o que dificulta o monitoramento visual simples.
- Hábito Alimentar: São sugadores de grãos. Preferem atacar as estruturas reprodutivas das plantas (flores e vagens), causando murchamento, grãos “chochos” e retenção foliar.
Importante Saber
- Diferenciação Biológica: É fundamental não confundir o percevejo-marrom com besouros de solo ou coleópteros desfolhadores. O controle químico para besouros (mastigadores) difere do controle para percevejos (sugadores), exigindo inseticidas com modos de ação específicos.
- Danos Irreversíveis: O ataque durante a fase de enchimento de grãos (R5 na soja) é o mais crítico. As picadas causam necrose nos grãos, reduzem o poder germinativo da semente e podem provocar o distúrbio da “soja louca”, onde a planta não amadurece e retém as folhas.
- Monitoramento Eficiente: Devido ao hábito de se esconder na parte baixa da planta ou na palhada nas horas mais quentes, o uso do pano de batida é indispensável para a contagem correta da população e tomada de decisão de controle.
- Resistência: O Euschistus heros apresenta casos documentados de resistência a diversos grupos químicos. A rotação de princípios ativos e o uso de controle biológico (como a vespa Telenomus podisi) são essenciais para manter a eficácia do manejo.
- Refúgio na Entressafra: A palhada do sistema de plantio direto serve de abrigo para esses insetos durante o inverno. O manejo de plantas daninhas e hospedeiras alternativas na entressafra é uma medida preventiva crucial para reduzir a população inicial na safra seguinte.