Doenças da Cana-de-Açúcar: Identificação e Manejo das Principais Ameaças
Conheça as principais doenças da cana-de-açúcar: ferrugem, carvão e raquitismo. Aprenda a identificar os sintomas e a fazer o manejo para evitar perdas.
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O carvão da cana-de-açúcar é uma das doenças mais antigas e economicamente impactantes para a cultura no Brasil e no mundo. Causada pelo fungo Sporisorium scitamineum (anteriormente classificado como Ustilago scitaminea), essa enfermidade é sistêmica, ou seja, o patógeno coloniza a planta internamente, afetando todo o seu desenvolvimento. Historicamente, o carvão foi responsável por grandes crises no setor sucroenergético brasileiro, especialmente na década de 1980, o que forçou a substituição massiva de variedades suscetíveis, como a NA 56-79, por materiais genéticos mais resistentes.
A doença se manifesta através de uma modificação morfológica severa no meristema apical da planta (o ponto de crescimento), induzindo a formação de uma estrutura semelhante a um chicote. Essa estrutura é revestida por uma massa negra de esporos (teliósporos) que, ao se romperem, são facilmente disseminados pelo vento, água e maquinário, contaminando outras plantas e áreas vizinhas. A infecção pode ocorrer tanto no momento do plantio, através de toletes já contaminados ou esporos presentes no solo, quanto em canaviais estabelecidos, através da infecção de gemas laterais.
No contexto agronômico atual, o carvão da cana continua sendo uma doença de vigilância constante. Embora o melhoramento genético tenha disponibilizado diversas cultivares resistentes, a introdução de novos materiais ou a quebra de resistência de variedades antigas pode levar a surtos regionais. A presença da doença afeta diretamente a biometria da planta, resultando em colmos mais finos, curtos e com menor teor de sacarose, além de comprometer a longevidade do canavial, exigindo reformas precoces da lavoura.
Sintoma Típico (Chicote): A característica mais marcante é a emissão de um apêndice longo e fino no topo da planta, conhecido como “chicote”, que pode medir de alguns centímetros a mais de um metro, inicialmente coberto por uma película prateada que se rompe e expõe uma massa negra de esporos.
Infecção Sistêmica: O fungo se desenvolve dentro dos tecidos da planta, acompanhando o crescimento do colmo, o que torna o controle curativo impossível; uma vez infectada, a touceira permanecerá doente por todo o seu ciclo.
Brotamento Lateral Excessivo: Plantas infectadas frequentemente apresentam superbrotamento lateral e afinamento dos colmos, adquirindo um aspecto de “vassoura” ou capim, sem valor comercial para a indústria.
Disseminação Aerotransportada: Os esporos produzidos nos chicotes são extremamente leves e produzidos em quantidades massivas, podendo ser transportados pelo vento a longas distâncias, facilitando a contaminação de áreas sadias.
Sobrevivência no Solo: Os esporos do fungo possuem alta resistência e podem sobreviver no solo por meses, aguardando condições ideais de umidade e temperatura para infectar novas brotações ou toletes recém-plantados.
Condições Favoráveis: O desenvolvimento da doença é favorecido por condições de estresse hídrico e temperaturas elevadas, cenários comuns em regiões de expansão da cana, como o Cerrado brasileiro.
Resistência Varietal é a Chave: A principal e mais eficiente estratégia de manejo é o uso de variedades resistentes. O produtor deve consultar o censo varietal da sua região e evitar o plantio de materiais suscetíveis em áreas com histórico da doença.
Manejo de Viveiros: A utilização de mudas sadias é fundamental. Viveiros de mudas devem ser inspecionados rigorosamente, pois o plantio de toletes infectados garante a introdução da doença na área comercial desde o início do ciclo.
Prática do “Roguing”: Em áreas com baixa incidência, recomenda-se a eliminação das touceiras doentes (roguing). É crucial cobrir o chicote com um saco plástico antes de arrancar a planta para evitar a dispersão dos esporos durante o manejo.
Impacto na Indústria: Além da perda de peso no campo (toneladas de cana por hectare), o carvão prejudica a qualidade industrial, aumentando o teor de fenóis e corantes no caldo, o que dificulta a fabricação de açúcar de alta qualidade e pode inibir a fermentação alcoólica.
Monitoramento Constante: As inspeções devem ser frequentes, especialmente em cana-planta e na primeira soca, pois a identificação precoce de focos permite a tomada de decisão antes que a doença se espalhe por todo o talhão.
Risco de Reinfecção: O fungo possui diferentes raças fisiológicas. Uma variedade que é resistente hoje pode se tornar suscetível no futuro se surgir uma nova raça do patógeno na região, exigindo atualização constante do portfólio de variedades da fazenda.
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