Artigos sobre Cigarrinha das Pastagens

O que é Cigarrinha Das Pastagens

A cigarrinha-das-pastagens refere-se a um complexo de insetos sugadores da família Cercopidae (ordem Hemiptera) que representa um dos principais desafios fitossanitários para a pecuária e sistemas integrados no Brasil. Estas pragas são notórias por causar a “queima das pastagens”, um sintoma visual caracterizado pelo amarelamento e secamento das folhas das forrageiras. O dano ocorre porque, ao se alimentarem da seiva da planta, tanto as ninfas quanto os adultos injetam toxinas que bloqueiam o fluxo de nutrientes e reduzem drasticamente a capacidade fotossintética do capim, comprometendo a produção de biomassa e o valor nutricional disponível para o gado.

O ciclo de vida deste inseto está intimamente ligado ao regime de chuvas. Durante o período seco, os ovos permanecem no solo em um estado de latência conhecido como diapausa, protegidos das condições adversas. Com o início da estação chuvosa e o aumento da umidade, esses ovos eclodem, dando origem às ninfas e iniciando a infestação. Se não houver um controle efetivo logo no início das águas, a praga pode completar até três gerações durante a safra, com populações crescentes que causam prejuízos acumulados, afetando não apenas pastagens exclusivas, mas também culturas consorciadas, como o milho safrinha em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP).

Principais Características

• Espécies Predominantes: No Brasil, as espécies mais comuns e danosas incluem Deois flavopicta, Deois schach, Deois incompleta e Zulia entreriana, que, apesar de variações morfológicas, possuem hábitos e potenciais destrutivos semelhantes.

• Fase de Ninfa (Espuma): As formas jovens (ninfas) alojam-se na base das touceiras das plantas e produzem uma espuma branca característica, que serve para manter a umidade necessária para sua sobrevivência e protegê-las contra predadores naturais e dessecação.

• Hábito dos Adultos: Diferente das ninfas, os insetos adultos vivem na parte aérea das plantas, alojando-se nas folhas e caules para sucção da seiva, sendo os principais vetores visíveis da praga no campo.

• Suscetibilidade Varietal: Algumas forrageiras são mais vulneráveis ao ataque, como a Brachiaria ruziziensis e a Brachiaria decumbens, enquanto outras variedades, como a Brachiaria brizantha cv. Marandu, apresentam maior resistência ou tolerância.

• Mecanismo de Dano: O dano não se restringe apenas à sucção de seiva; a injeção de toxinas salivares causa desordens fisiológicas na planta, resultando em clorose (amarelamento) e necrose dos tecidos foliares.

Importante Saber

• Monitoramento Climático: O gatilho para a eclosão dos ovos é a combinação de temperatura e umidade; portanto, o monitoramento deve ser intensificado logo após as primeiras chuvas da estação para identificar a primeira geração da praga.

• Estratégia de Diversificação: O uso exclusivo de cultivares suscetíveis, como a B. ruziziensis (muito usada em plantio direto pela facilidade de dessecação), exige maior vigilância; recomenda-se diversificar as pastagens com cultivares resistentes para evitar a seleção de populações de insetos.

• Manejo Integrado de Pragas (MIP): O controle químico isolado é muitas vezes insuficiente ou antieconômico; a estratégia ideal envolve controle cultural (manejo da altura do pasto e correção do solo), controle biológico (uso de fungos como Metarhizium anisopliae) e controle químico estratégico.

• Impacto no Consórcio: Em sistemas de consórcio com milho, a cigarrinha pode migrar da braquiária para a cultura do milho, causando danos também na lavoura de grãos, o que exige atenção redobrada do produtor de grãos.

• Manejo de Pastejo: Evitar o superpastejo e manter o solo bem coberto e nutrido gera plantas mais vigorosas, que toleram melhor o ataque da praga e recuperam-se mais rapidamente após o controle.