O que é o Percevejo (Contexto Agrícola)
O percevejo é um inseto da ordem Hemiptera que compõe o chamado “complexo de percevejos”, considerado atualmente uma das principais pragas da agricultura brasileira, com destaque para as culturas da soja, milho e feijão. Diferente de pragas mastigadoras que consomem as folhas, o percevejo possui aparelho bucal picador-sugador, alimentando-se diretamente da seiva nos tecidos vegetais e, preferencialmente, nas estruturas reprodutivas (vagens e grãos). As espécies mais frequentes no Brasil incluem o percevejo-marrom (Euschistus heros), o percevejo-verde (Nezara viridula) e o percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii).
A presença dessa praga é crítica pois seus danos são irreversíveis e afetam diretamente a produtividade e a qualidade do produto final. Ao inserir o estilete para se alimentar, o inseto injeta toxinas e enzimas que causam necrose nos tecidos, resultando em grãos chochos, enrugados e com menor peso específico. Além disso, o ataque pode provocar distúrbios fisiológicos na planta, como a retenção foliar (conhecida como “soja louca”), que dificulta a colheita mecanizada e aumenta as perdas operacionais.
Principais Características
- Aparelho bucal picador-sugador: Possuem estiletes adaptados para perfurar a parede das vagens e atingir os grãos em formação, sendo vetores de injeção de toxinas e porta de entrada para patógenos.
- Ciclo de vida com ninfas ativas: O desenvolvimento passa pelas fases de ovo, ninfa e adulto. É crucial notar que as ninfas, a partir do terceiro instar, já causam danos econômicos semelhantes aos dos adultos.
- Hábito críptico e fotofobia: Preferem se alojar no terço médio e inferior do dossel das plantas e são mais ativos nas horas mais frescas do dia, escondendo-se sob a palhada ou folhas nas horas quentes, o que dificulta o alcance de inseticidas.
- Alta mobilidade e polifagia: Muitas espécies, especialmente o percevejo-marrom, têm capacidade de voo e sobrevivem em diversas plantas hospedeiras e daninhas na entressafra, migrando rapidamente entre talhões de soja para o milho safrinha.
- Danos qualitativos severos: Além da redução de peso, o ataque causa o “grão ardido”, reduzindo o teor de óleo e proteína, e comprometendo drasticamente o vigor e a germinação em campos de produção de sementes.
Importante Saber
- Monitoramento rigoroso é indispensável: A identificação da praga não pode ser feita apenas visualmente; o uso do pano de batida é a técnica padrão para quantificar a população real por metro linear e decidir o momento da aplicação.
- Momento crítico de controle: Na cultura da soja, o período de maior vulnerabilidade estende-se do aparecimento das vagens (R3) até o final do enchimento de grãos (R6), exigindo proteção intensiva nesta janela.
- Níveis de dano econômico: Os limiares de ação são baixos. Para lavouras de grãos, geralmente considera-se 2 percevejos por metro, enquanto para produção de sementes, o nível é de apenas 1 percevejo por metro, devido ao alto valor agregado e sensibilidade do produto.
- Rotação de mecanismos de ação: Devido à alta pressão de seleção e casos de resistência, é fundamental rotacionar os grupos químicos dos defensivos utilizados para manter a eficácia do controle ao longo das safras.
- Manejo de entressafra: O controle eficiente começa antes do plantio, com a dessecação antecipada e o manejo de pontes verdes, evitando que a população remanescente da safra anterior ataque as plântulas da nova cultura logo na emergência.