Artigos sobre Controle Biológico na Cana

O que é Controle Biológico Na Cana

O controle biológico na cana-de-açúcar consiste na utilização estratégica de inimigos naturais — como predadores, parasitoides e microrganismos patogênicos — para regular a população de pragas agrícolas, mantendo-as abaixo do nível de dano econômico. No contexto do agronegócio brasileiro, esta prática não é apenas uma alternativa, mas um pilar fundamental do Manejo Integrado de Pragas (MIP), sendo o Brasil referência mundial na aplicação desta tecnologia em grandes extensões de terra. A cultura da cana abriga o maior programa de controle biológico do mundo, focado principalmente no combate à broca-da-cana (Diatraea saccharalis) e à cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata).

A implementação dessa técnica visa reduzir a dependência exclusiva de defensivos químicos, promovendo um equilíbrio ecológico no canavial e prolongando a vida útil das tecnologias de controle. Na prática, o produtor realiza a liberação de agentes biológicos, como a vespa Cotesia flavipes ou o fungo Metarhizium anisopliae, que atuam parasitando ou infectando as pragas alvo. Essa abordagem é essencial para garantir a produtividade e a qualidade da matéria-prima destinada à produção de açúcar, etanol e bioenergia, minimizando perdas que podem chegar a 20% da produção se o manejo for negligenciado.

Principais Características

• Agentes Macrobiológicos: Utilização extensiva de insetos benéficos visíveis a olho nu, com destaque para a Cotesia flavipes, um parasitoide larval que deposita seus ovos dentro da broca-da-cana, impedindo seu desenvolvimento e reprodução.

• Agentes Microbiológicos: Aplicação de fungos entomopatogênicos, como o Metarhizium anisopliae, que é altamente eficaz contra a cigarrinha-das-raízes, agindo por contato e colonizando o corpo do inseto, especialmente em condições de alta umidade.

• Especificidade de Alvo: Diferente de inseticidas de amplo espectro, os agentes biológicos tendem a ser específicos para determinadas pragas, preservando outros insetos benéficos e polinizadores presentes no agroecossistema.

• Ação Progressiva: O controle biológico não possui o efeito de “choque” imediato de alguns químicos, mas atua de forma progressiva, podendo os agentes se multiplicar no campo e manter o controle por períodos mais longos.

• Ausência de Resíduos: Esta característica é vital para a sustentabilidade, pois não deixa resíduos químicos no solo, na água ou no produto final, atendendo a demandas de mercados exigentes e certificações ambientais.

Importante Saber

• Necessidade de Monitoramento Rigoroso: A liberação dos agentes biológicos deve ser baseada em levantamentos populacionais precisos da praga. Por exemplo, a Cotesia flavipes deve ser liberada quando há presença de lagartas em estágios adequados para o parasitismo.

• Dependência Climática: A eficácia de agentes microbiológicos, como o fungo Metarhizium, está diretamente ligada às condições ambientais, exigindo alta umidade relativa do ar e temperaturas amenas para germinar e infectar a cigarrinha.

• Logística e Armazenamento: Por se tratarem de organismos vivos, os insumos biológicos exigem cuidados especiais no transporte e armazenamento. A exposição ao calor excessivo ou luz solar direta antes da aplicação pode inviabilizar o produto, matando os agentes de controle.

• Compatibilidade com Químicos: É crucial verificar a seletividade dos defensivos químicos utilizados na lavoura. A aplicação de inseticidas ou fungicidas não seletivos simultaneamente ou logo após a liberação biológica pode eliminar os inimigos naturais e anular o investimento.

• Controle da Broca-da-Cana: O manejo biológico é a principal ferramenta para controlar a broca, pois as larvas ficam protegidas dentro do colmo, onde muitos inseticidas de contato não alcançam, mas onde o parasitoide consegue penetrar e atuar.