Artigos sobre Cotação Cana de açúcar

O que é Cotação Cana De Açúcar

A cotação da cana-de-açúcar no Brasil refere-se ao mecanismo de precificação da matéria-prima entregue pelos produtores rurais às usinas e destilarias. Diferente de outras commodities agrícolas que possuem valores negociados diretamente em bolsas de valores com base no produto bruto, o valor da cana é definido pela sua qualidade industrial e pelo desempenho comercial dos produtos finais derivados dela (açúcar e etanol). O sistema mais utilizado para essa definição é o modelo Consecana (Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol), criado para estabelecer um pagamento justo e transparente em um mercado de livre concorrência.

Neste sistema, o produtor não vende apenas o peso físico da cana (tonelada), mas sim a quantidade de açúcar recuperável contida nela. O preço final é formado a partir de uma média ponderada dos preços de venda dos produtos finais da usina, tanto no mercado interno quanto no externo. Isso significa que o fornecedor de cana atua como um parceiro da indústria, participando das oscilações de mercado: se o preço do açúcar ou do etanol sobe, o valor recebido pela tonelada de cana tende a aumentar, e vice-versa.

A cotação é, portanto, um valor dinâmico que reflete a realidade econômica do setor sucroenergético. Ela integra variáveis reguladas, como o mercado de energia e combustíveis (influenciado pela ANP), e variáveis de livre mercado, como a oferta e demanda global de açúcar. Para o produtor, entender essa cotação é vital para o planejamento financeiro, pois a rentabilidade da lavoura depende diretamente da eficiência agronômica em produzir uma matéria-prima rica em sacarose e da conjuntura econômica que dita o valor do ATR (Açúcar Total Recuperável).

Principais Características

• Baseada no ATR: O valor monetário não é fixado sobre a tonelada bruta, mas sobre a quantidade de Açúcar Total Recuperável (ATR) por tonelada, que representa o produto final que a indústria consegue efetivamente extrair.

• Modelo de Participação: O sistema prevê uma divisão de receitas onde, geralmente, 60% do valor obtido com a venda dos produtos finais fica com o fornecedor da cana e 40% com a unidade industrial.

• Cesta de Produtos: O preço do ATR é calculado com base em uma média ponderada de nove produtos principais, incluindo diferentes tipos de açúcar (branco, VHP) e etanol (anidro e hidratado), para mercados interno e externo.

• Influência da Qualidade (ART): A cotação individual do produtor depende do ART (Açúcares Redutores Totais) de sua lavoura, do qual se descontam as perdas industriais (padronizadas em cerca de 8,5%) para chegar ao ATR líquido.

• Volatilidade de Mercado: A cotação sofre influência direta de fatores macroeconômicos, como a cotação do dólar, o preço internacional do petróleo e a safra de açúcar em outros países produtores.

Importante Saber

• Cálculo da Receita: Para estimar o ganho, o produtor deve aplicar a fórmula: Preço da Tonelada (R/t) = Qualidade da Matéria-Prima (kg de ATR/t) x Preço do ATR (R/kg).

• Análise Laboratorial: A qualidade da cana (teor de sacarose) é medida na entrada da usina. É fundamental que o produtor acompanhe ou audite essas análises, pois elas determinam o multiplicador da cotação.

• Mix de Produção: O valor do ATR pode variar dependendo se a usina foca mais em açúcar ou etanol. Em anos onde o etanol está mais valorizado, usinas com perfil alcooleiro podem oferecer remunerações competitivas.

• Pagamento Provisório vs. Final: Frequentemente, as usinas pagam um valor provisório durante a safra, realizando ajustes (complementos ou descontos) ao final do ciclo, quando a média ponderada anual dos preços é fechada.

• Gestão de Custos: Como o produtor não controla o preço do ATR (ditado pelo mercado), a rentabilidade depende do controle rigoroso dos custos de produção e do aumento da produtividade de ATR por hectare.