O que é Deriva De Pulverização

A deriva de pulverização é definida como o deslocamento físico das partículas de defensivos agrícolas ou fertilizantes para fora da área alvo desejada durante ou logo após a aplicação. Esse fenômeno ocorre quando as gotas da calda, em vez de atingirem a cultura ou o solo planejado, são carregadas pela ação do vento ou sofrem evaporação antes de chegar ao destino, depositando-se em lavouras vizinhas, áreas de preservação permanente, cursos d’água ou até mesmo em zonas habitadas. No contexto da agricultura brasileira, a deriva representa um dos principais gargalos na eficiência da tecnologia de aplicação, resultando em perdas significativas de insumos e riscos ambientais.

Tecnicamente, a deriva é classificada de duas formas principais: a exoderiva, que é a perda do produto para fora da área tratada, e a endoderiva, que ocorre quando o produto cai no solo dentro da área tratada, mas não atinge o alvo biológico (como as folhas da planta). O equilíbrio entre o tamanho da gota e a cobertura do alvo é o ponto crítico aqui. Conforme mencionado em estudos sobre tecnologias como a pulverização eletrostática, gotas menores oferecem melhor cobertura e penetração no dossel da planta, mas são extremamente leves e suscetíveis ao arrasto pelo vento. Portanto, o gerenciamento da deriva exige um conhecimento profundo sobre a interação entre o equipamento, a formulação da calda e as condições meteorológicas no momento da operação.

Principais Características

  • Influência do Tamanho de Gota: O diâmetro da gota é o fator isolado mais importante. Gotas muito finas (geralmente abaixo de 100 a 150 micrômetros) demoram mais para cair e são facilmente desviadas por correntes de ar, enquanto gotas grossas são mais pesadas e resistentes ao vento, porém oferecem menor cobertura foliar.

  • Condições Meteorológicas Críticas: A ocorrência de deriva está diretamente ligada a três fatores climáticos: velocidade do vento (acima de 10 km/h aumenta o risco de arrasto, abaixo de 3 km/h pode indicar inversão térmica), baixa umidade relativa do ar (que acelera a evaporação da gota durante o trajeto) e altas temperaturas.

  • Altura da Barra de Pulverização: A distância entre o bico pulverizador e o alvo influencia a exposição da gota ao ambiente. Quanto maior a altura da barra em relação à cultura, maior será o tempo que a gota permanece no ar, aumentando exponencialmente a probabilidade de ser carregada pelo vento lateral.

  • Pressão de Trabalho: O aumento excessivo da pressão nos bicos hidráulicos convencionais tende a reduzir o tamanho das gotas geradas. Se a pressão não estiver adequada à especificação da ponta de pulverização, haverá a formação de “gotas satélites” (névoa), que são quase 100% perdidas por deriva.

  • Volatilização do Produto: Além da deriva física de partículas líquidas, existe a deriva de vapor. Alguns princípios ativos possuem alta pressão de vapor e podem volatilizar após a deposição, transformando-se em gás e movendo-se para áreas adjacentes mesmo sem vento forte no momento da aplicação.

Importante Saber

  • Prejuízo Econômico e Eficiência: A deriva significa, literalmente, jogar dinheiro fora. Estima-se que em aplicações mal calibradas, mais de 30% do produto pode não atingir o alvo. Isso obriga o produtor a realizar reaplicações desnecessárias, aumentando o custo de produção e o desgaste do maquinário.

  • Risco de Fitotoxicidade em Culturas Vizinhas: Um dos problemas mais graves no Brasil é a deriva de herbicidas (como o 2,4-D ou Dicamba) sobre culturas sensíveis não-alvo (como soja não tolerante, uva, algodão ou hortaliças). Isso pode causar perdas totais na lavoura vizinha e gerar passivos jurídicos complexos para o aplicador.

  • Tecnologias de Mitigação: Para combater a deriva sem sacrificar a cobertura, o produtor deve considerar o uso de pontas com indução de ar (que geram gotas com bolhas de ar, mais pesadas), adjuvantes redutores de deriva que aumentam a viscosidade da calda e tecnologias como a pulverização eletrostática, que aumenta a atração da gota pela planta.

  • Janela de Aplicação e Delta T: É fundamental respeitar o conceito de Delta T (diferença entre temperatura de bulbo seco e úmido), que indica a vida útil da gota. Aplicações realizadas fora das condições ideais (geralmente com umidade abaixo de 50% e temperatura acima de 30°C) tornam a deriva por evaporação quase inevitável.

  • Responsabilidade Ambiental e Social: A contaminação de lençóis freáticos, rios e a exposição de trabalhadores ou comunidades rurais a defensivos devido à deriva é uma infração grave. O cumprimento das distâncias mínimas de segurança (zonas de amortecimento) é obrigatório e fiscalizado.

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