Artigos sobre Encarquilhamento da Soja

O que é Encarquilhamento Da Soja

O encarquilhamento da soja, frequentemente referido pelos produtores como encrespamento, é um distúrbio fisiológico que altera a morfologia das folhas da cultura, conferindo-lhes um aspecto rugoso e deformado. O fenômeno ocorre devido a um processo denominado hiperplasia, que consiste no crescimento exagerado e desordenado das células vegetais. Embora os sintomas sejam visualmente impactantes e gerem preocupação imediata no campo, trata-se de uma condição distinta de doenças necróticas, sendo observada com maior incidência na região Sul do Brasil e em períodos específicos do desenvolvimento da lavoura.

Diferente de pragas ou doenças que se espalham uniformemente ou de forma agressiva, o encarquilhamento costuma manifestar-se em manchas ou “reboleiras” dentro dos talhões, sugerindo uma interação complexa entre a genética da planta e fatores ambientais ou de manejo localizados. A ocorrência é mais comum durante o estágio de pré-florescimento, momento crítico para a definição do potencial produtivo. Uma característica marcante deste distúrbio é que, apesar da deformação inicial, as plantas frequentemente demonstram capacidade de recuperação ao longo do ciclo, podendo emitir novas folhas sadias e minimizar os prejuízos finais à produtividade.

A identificação correta do encarquilhamento é um desafio técnico importante para o agrônomo e para o produtor, pois seus sintomas mimetizam os danos causados por viroses (como o Mosaico Comum) ou pela fitotoxidez decorrente da deriva de herbicidas hormonais. Por isso, o diagnóstico exige uma análise criteriosa que descarte outras causas prováveis. A ciência ainda investiga a fundo as causas exatas quando não há associação com patógenos ou químicos, classificando muitos casos como desordens fisiológicas ou “falsas viroses” que variam de intensidade conforme a cultivar utilizada e as condições da safra.

Principais Características

• Deformação Foliar Severa: As folhas afetadas apresentam um aspecto bolhoso, ondulado e retorcido, resultante da multiplicação celular desordenada (hiperplasia), perdendo a planicidade característica de uma folha sadia.

• Ocorrência em Reboleiras: O problema raramente atinge a lavoura de forma homogênea; ele tende a aparecer em pontos específicos e concentrados (reboleiras), muitas vezes repetindo-se nas mesmas áreas da fazenda em safras diferentes.

• Redução do Porte: Plantas com sintomas intensos de encarquilhamento costumam apresentar uma redução no crescimento vegetativo, resultando em um porte menor quando comparadas às plantas sadias vizinhas.

• Sazonalidade do Sintoma: Os sinais visuais são mais frequentes e evidentes no período de pré-florescimento da soja, podendo regredir ou desaparecer à medida que a cultura avança para os estágios reprodutivos plenos.

• Variabilidade Genética: A severidade do encarquilhamento não é uniforme para todas as plantas; ela depende fortemente da suscetibilidade da cultivar de soja plantada, com alguns materiais genéticos apresentando maior propensão ao distúrbio.

Importante Saber

• Diagnóstico por Exclusão: Antes de confirmar o encarquilhamento fisiológico, é crucial descartar a deriva de herbicidas (especialmente hormonais como 2,4-D e Dicamba) e infecções virais, pois os sintomas visuais são extremamente semelhantes.

• Histórico da Área: O monitoramento deve considerar o histórico de aplicações de defensivos na propriedade e em áreas vizinhas, pois a deriva é uma causa frequente de sintomas de enrugamento que podem ser confundidos com o distúrbio fisiológico.

• Potencial de Recuperação: Ao contrário de muitas doenças fúngicas ou pragas que causam danos irreversíveis, plantas com encarquilhamento fisiológico possuem a capacidade de se recuperar e retomar o desenvolvimento, o que exige cautela antes de tomar decisões drásticas de manejo.

• Monitoramento Nutricional: Embora a relação direta nem sempre seja comprovada, desequilíbrios nutricionais (toxidez ou deficiência) podem agravar deformações foliares; portanto, a análise de solo e folha continua sendo uma ferramenta de suporte à decisão.

• Impacto na Produtividade: As informações sobre a perda real de produtividade causada exclusivamente pelo encarquilhamento fisiológico ainda são limitadas, variando caso a caso, o que reforça a necessidade de acompanhamento técnico durante todo o ciclo.