O que é Fungos Em Plantas
No contexto agronômico, o termo “fungos em plantas” refere-se a um vasto reino de microrganismos eucariontes que interagem com as culturas agrícolas de maneiras distintas, podendo atuar tanto como patógenos devastadores quanto como aliados essenciais para a saúde do solo. No Brasil, devido ao clima tropical predominante — caracterizado por altas temperaturas e umidade elevada —, os fungos representam o principal desafio fitossanitário para a agricultura, sendo responsáveis pela maioria das doenças que afetam a produtividade de commodities como soja, milho, café e algodão.
A interação fúngica é classificada principalmente pelo seu impacto econômico e biológico. Do lado negativo, existem os fungos fitopatogênicos, causadores de ferrugens, manchas foliares, podridões radiculares e antracnoses, que exigem monitoramento constante e estratégias robustas de controle químico e biológico. Esses organismos comprometem a fisiologia da planta, reduzindo a área foliar fotossintética, obstruindo vasos condutores ou destruindo tecidos reprodutivos, o que impacta diretamente o rendimento da safra.
Por outro lado, é fundamental reconhecer a existência e a importância dos fungos benéficos, especialmente em sistemas de Plantio Direto e no uso de plantas de cobertura. Fungos saprófitas são os grandes responsáveis pela decomposição da palhada e ciclagem de nutrientes, transformando matéria orgânica em compostos assimiláveis pelas raízes. Além disso, fungos micorrízicos formam simbioses com as plantas, expandindo a capacidade de absorção de água e fósforo, enquanto fungos antagonistas (como o Trichoderma) ajudam no controle natural de doenças do solo.
Principais Características
- Heterotrofismo e Nutrição: Diferente das plantas, os fungos não realizam fotossíntese. Eles dependem de carbono orgânico para sobreviver, obtendo-o de tecidos vivos (parasitismo/biotrofismo), de matéria morta (saprofitismo) ou matando células para se alimentar (necrotrofismo).
- Reprodução via Esporos: A disseminação ocorre majoritariamente através de esporos microscópicos, que são facilmente transportados pelo vento, água da chuva, maquinário agrícola ou sementes contaminadas, facilitando a rápida dispersão nas lavouras.
- Dependência Climática: A maioria dos fungos fitopatogênicos no Brasil tem seu desenvolvimento favorecido pelo “molhamento foliar” (presença de água livre na folha) e temperaturas amenas a quentes, condições típicas das safras de verão e “safrinhas”.
- Sobrevivência em Restos Culturais: Muitos fungos necrotróficos possuem estruturas de resistência que lhes permitem sobreviver na palhada ou no solo de um ano para o outro, tornando o manejo da entressafra crucial.
- Especificidade de Hospedeiro: Enquanto alguns fungos são generalistas e atacam diversas espécies, outros são altamente específicos, infectando apenas uma cultura ou família botânica, o que torna a rotação de culturas uma ferramenta de controle eficiente.
Importante Saber
- Risco da “Ponte Verde”: Ao utilizar plantas de cobertura, é vital escolher espécies que não sejam hospedeiras das mesmas doenças da cultura principal. O uso incorreto pode manter o fungo ativo na área (ponte verde), aumentando a pressão de inóculo para a próxima safra.
- Diagnóstico Correto: Nem toda mancha foliar é fungo; deficiências nutricionais e fitotoxidez podem apresentar sintomas similares. A identificação correta (muitas vezes via análise laboratorial) é essencial para evitar gastos desnecessários com fungicidas.
- Manejo de Resistência: O uso repetitivo de fungicidas com o mesmo mecanismo de ação seleciona populações de fungos resistentes. A rotação de princípios ativos e a inclusão de controle biológico e cultural são obrigatórias para a longevidade das tecnologias de controle.
- Papel na Estruturação do Solo: Fungos benéficos produzem glomalina, uma glicoproteína que atua como uma “cola” natural, ajudando a formar agregados de solo estáveis, melhorando a aeração e a infiltração de água.
- Interação com Plantas de Cobertura: Gramíneas e leguminosas utilizadas na cobertura do solo estimulam a microbiota fúngica benéfica, criando um ambiente supressivo que dificulta o estabelecimento de patógenos radiculares agressivos.