O que é Geada No Trigo

A geada no trigo é um fenômeno meteorológico crítico que ocorre quando a temperatura do ar próximo à superfície do solo atinge 0°C ou menos, provocando o congelamento dos tecidos vegetais da cultura. No contexto do agronegócio brasileiro, este evento é uma das principais preocupações para os triticultores, especialmente na região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) e em áreas de maior altitude do Sudeste e Centro-Oeste. O impacto da geada não se resume apenas à formação visual de gelo sobre as plantas (geada branca), mas principalmente ao congelamento dos fluidos intracelulares, que pode causar a ruptura das paredes celulares e a morte dos tecidos.

A severidade dos danos causados pela geada depende diretamente do estágio de desenvolvimento da lavoura no momento da ocorrência. Embora o trigo seja uma cultura de inverno e tolere baixas temperaturas durante a fase vegetativa (perfilhamento), ele se torna extremamente sensível durante a fase reprodutiva. Quando a geada atinge a lavoura nos períodos de espigamento, floração ou enchimento de grãos, as perdas podem ser irreversíveis, comprometendo tanto a quantidade quanto a qualidade industrial do grão colhido.

No Brasil, o manejo desse risco climático começa muito antes do plantio, através do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), que indica as janelas de semeadura menos propensas a coincidir as fases críticas da planta com os períodos históricos de geada. Ainda assim, a imprevisibilidade climática faz com que o monitoramento constante e a escolha correta de cultivares sejam ferramentas essenciais para mitigar prejuízos econômicos significativos.

Principais Características

  • Danos por Estágio Fenológico: Durante o perfilhamento, a planta apresenta boa tolerância; contudo, na fase de emborrachamento e espigamento, a geada pode causar a morte do colmo e da espiga. Na floração, causa esterilidade das espiguetas (abortamento de flores), e no enchimento de grãos, resulta em grãos chochos e enrugados.

  • Sazonalidade Regional: No Brasil, a incidência é mais frequente e danosa nos meses de agosto e setembro, coincidindo perigosamente com as fases reprodutivas das lavouras semeadas mais tarde na região Sul.

  • Sintomas Visuais: As plantas afetadas podem apresentar “queima” das folhas (necrose), branqueamento das espigas e escurecimento dos nós do colmo. Em casos severos, a planta inteira pode adquirir um aspecto desidratado e morrer.

  • Geada Negra vs. Geada Branca: A geada branca envolve a formação de cristais de gelo e é visualmente perceptível. A geada negra ocorre quando o ar está muito seco e frio; não há formação de gelo externo, mas o congelamento interno da seiva mata a planta rapidamente, sendo agronomicamente mais devastadora.

  • Encurtamento do Ciclo: A ocorrência de geadas tardias pode forçar a maturação precoce das plantas sobreviventes, encurtando o ciclo da cultura e obrigando o produtor a antecipar a colheita, muitas vezes com produtividade reduzida.

Importante Saber

  • Planejamento via ZARC: A estratégia mais eficaz de prevenção é respeitar rigorosamente as datas de plantio estipuladas pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático para cada município e tipo de solo, buscando “escapar” das geadas nas fases críticas.

  • Sensibilidade da Floração: A antese (floração) é o momento de maior vulnerabilidade. Temperaturas próximas a 0°C nesta fase podem causar esterilidade total ou parcial da espiga, inviabilizando a produção comercial daquela área.

  • Impacto na Qualidade do Grão: Além da perda de volume (sacas por hectare), a geada afeta a qualidade tecnológica do trigo. Grãos atingidos por geada no enchimento tendem a ter menor Peso Hectolitro (PH) e alterações nas propriedades do glúten, desvalorizando o produto para a indústria moageira.

  • Monitoramento Climático: O acompanhamento diário de previsões meteorológicas é vital. Ferramentas de agricultura digital que integram dados climáticos ajudam o produtor a prever eventos de frio extremo e, quando possível, tomar medidas de manejo ou preparar a logística para uma avaliação de danos pós-evento.

  • Avaliação Pós-Geada: Após a ocorrência do fenômeno, é necessário aguardar alguns dias (geralmente de 3 a 7 dias) para avaliar a real extensão dos danos antes de tomar decisões sobre o manejo da lavoura ou acionamento de seguro agrícola.

  • Topografia do Terreno: Áreas de baixada tendem a acumular ar frio e sofrer geadas mais intensas. O conhecimento da topografia da propriedade auxilia no planejamento de quais talhões plantar com cultivares de ciclos diferentes.

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