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No contexto do agronegócio brasileiro, o termo “insetos cascudos” refere-se popularmente a um grupo de coleópteros (besouros) que possuem o primeiro par de asas endurecido, formando uma carapaça resistente conhecida como élitro. Embora existam diversas espécies que se encaixam nessa descrição morfológica, na agricultura extensiva — especialmente nas culturas de soja e milho — o termo é frequentemente associado a pragas específicas, como o cascudinho-da-soja (Myochrous armatus) e outros besouros desfolhadores ou de solo que atacam as plantas em estágios iniciais.
Esses insetos ganharam relevância econômica com a consolidação do Sistema de Plantio Direto no Brasil. A palhada remanescente sobre o solo, embora benéfica para a conservação da umidade e matéria orgânica, serve de abrigo ideal para esses organismos, dificultando o contato dos defensivos agrícolas com o alvo. O ataque costuma ocorrer logo após a emergência das plântulas, o que pode comprometer o estande inicial da lavoura e exigir o replantio, gerando custos elevados para o produtor.
A identificação correta e o entendimento do comportamento desses insetos são fundamentais dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Diferente de lagartas que ficam expostas nas folhas, os cascudos possuem hábitos mais crípticos, escondendo-se sob torrões de terra ou restos culturais durante as horas mais quentes do dia, o que exige técnicas de monitoramento ajustadas para evitar subestimar a população da praga na área.
Morfologia e Resistência: A principal característica visual é o corpo rígido e ovalado, geralmente de coloração escura (preta, marrom ou acinzentada), conferida pelos élitros duros que protegem as asas membranosas e o abdômen, oferecendo também proteção mecânica contra alguns métodos de controle.
Hábito Críptico e Noturno: A maioria dessas espécies evita a luz direta do sol. Durante o dia, permanecem abrigados sob a palhada ou enterrados superficialmente no solo, saindo para se alimentar preferencialmente no final da tarde e durante a noite.
Comportamento de Tanatose: Uma característica defensiva marcante de muitos cascudos, como o Myochrous armatus, é a tanatose. Ao serem perturbados ou tocados, eles recolhem as patas e se fingem de mortos, caindo no solo e misturando-se à terra, o que dificulta a visualização durante o monitoramento.
Danos por Mastigação: Possuem aparelho bucal mastigador. Os adultos causam danos ao raspar o caule das plântulas (podendo causar o tombamento e morte da planta) ou ao defoliar as folhas iniciais, enquanto as larvas de algumas espécies podem viver no solo e atacar as raízes.
Ciclo de Vida Associado ao Solo: O ciclo biológico (ovo, larva, pupa e adulto) ocorre parcialmente no solo. As larvas desenvolvem-se na terra, alimentando-se de raízes, e os adultos emergem para atacar a parte aérea, muitas vezes coincidindo com a época de plantio da safra de verão.
Monitoramento Específico: Devido ao hábito de se esconderem, o monitoramento visual simples pode falhar. Recomenda-se a vistoria minuciosa do solo e da palhada próxima às plântulas, ou o uso da técnica de batida de pano (em plantas maiores) realizada com atenção ao solo, pois os insetos tendem a cair e se camuflar rapidamente.
Risco de Redução de Estande: O dano mais severo ocorre na fase inicial da cultura. O ataque ao hipocótilo (caule) da planta jovem pode anelar a estrutura, impedindo o fluxo de seiva e matando a planta, o que reduz o número de plantas por hectare e afeta diretamente o potencial produtivo.
Desafios no Controle Químico: A carapaça dura e o hábito de ficar sob a palhada dificultam a ação de inseticidas de contato. O tratamento de sementes é uma ferramenta crucial, pois protege a plântula sistemicamente nas primeiras semanas, que é o período crítico de suscetibilidade.
Manejo na Entressafra: A presença de plantas daninhas e tigueras na entressafra serve de “ponte verde”, permitindo que os cascudos sobrevivam e se alimentem antes do plantio da cultura principal. O manejo dessas plantas hospedeiras é essencial para reduzir a pressão inicial da praga.
Confusão com Outros Danos: O dano no caule causado por cascudos pode ser confundido com sintomas de doenças fúngicas (como Rhizoctonia) ou ataque de outras pragas de solo (como lagarta-elasmo). A identificação correta do agente causal é indispensável para a escolha da estratégia de controle adequada.
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