O que é Micotoxinas Em Grãos

As micotoxinas em grãos são substâncias químicas tóxicas produzidas como metabólitos secundários por determinados fungos que colonizam culturas agrícolas, tanto no campo quanto durante o armazenamento. No contexto do agronegócio brasileiro, elas representam um “perigo invisível” e um dos maiores desafios para a segurança alimentar e a rentabilidade do produtor. Diferente das pragas que causam danos físicos visíveis imediatos, as micotoxinas contaminam a estrutura química do grão, tornando-o nocivo à saúde humana e animal se ingerido em quantidades acima do permitido.

A presença dessas toxinas está frequentemente associada a doenças fúngicas severas. Um exemplo clássico e de alto impacto econômico é a contaminação pelo fungo Fusarium graminearum, causador da Giberela (ou fusariose da espiga) na cultura do trigo. Quando as condições climáticas são favoráveis ao fungo — especificamente em regiões quentes e com alta umidade durante a floração — ele não apenas reduz a produtividade da lavoura ao abortar flores e formar grãos chochos, mas também sintetiza micotoxinas, sendo o desoxinivalenol (DON) a mais prevalente neste patossistema.

A gestão de micotoxinas é crítica porque essas substâncias possuem alta estabilidade térmica e química, resistindo a processos de industrialização como cozimento, panificação e extrusão. Portanto, a contaminação que ocorre na lavoura persiste até o produto final na mesa do consumidor ou no cocho dos animais. Por isso, órgãos reguladores como a Anvisa estabelecem limites rígidos de tolerância, o que pode levar à rejeição de cargas inteiras e desvalorização comercial do produto agrícola caso o manejo no campo não tenha sido eficiente.

Principais Características

  • Origem Fúngica: São produzidas por fungos filamentosos, com destaque para o gênero Fusarium em cereais de inverno, que gera a micotoxina desoxinivalenol (DON), conhecida por inibir a síntese de proteínas.

  • Invisibilidade: Embora os grãos possam apresentar sinais visuais de doença (como coloração rósea ou aspecto enrugado), a toxina em si é invisível a olho nu, exigindo análises laboratoriais para quantificação.

  • Estabilidade Química: As micotoxinas são altamente resistentes ao calor e a processos físicos, permanecendo nos derivados do grão (farinhas, farelos e rações) mesmo após o processamento industrial.

  • Toxicidade Cumulativa: A ingestão contínua, mesmo em baixas doses, pode causar problemas crônicos de saúde em humanos e queda de desempenho zootécnico em animais (imunossupressão e recusa de alimento).

  • Correlação com o Clima: A síntese dessas toxinas é potencializada por fatores ambientais específicos, principalmente o excesso de chuvas e temperaturas amenas a quentes durante a fase reprodutiva da planta.

Importante Saber

  • Limites Legais Rigorosos: A Anvisa determina Limites Máximos Tolerados (LMT) específicos. Para o trigo, por exemplo, o limite é de 3.000 ppb para grãos destinados a processamento, caindo para 750 ppb em produtos finais como pães e biscoitos.

  • Sinais Visuais de Alerta: Na lavoura de trigo, a presença de espiguetas despigmentadas (brancas), aristas arrepiadas e grãos com coloração rósea ou aspecto “chocho” são fortes indicativos de infecção por Giberela e provável contaminação por micotoxinas.

  • Impacto na Comercialização: A presença de micotoxinas acima dos níveis permitidos é um critério técnico para descontos severos no valor da saca ou até a devolução da carga nos pontos de recebimento e cooperativas.

  • Manejo Preventivo é Essencial: Como não é possível “limpar” a micotoxina do grão de forma economicamente viável após a colheita, o controle deve focar na prevenção da doença no campo, utilizando fungicidas na época correta (floração) e rotação de culturas.

  • Risco na Alimentação Animal: Grãos rejeitados para consumo humano devido a micotoxinas muitas vezes são cogitados para ração, mas isso exige cautela extrema, pois monogástricos (suínos e aves) são altamente sensíveis ao DON.

  • Monitoramento da Colheita: A regulagem da colheitadeira para aumentar a ventilação pode ajudar a expulsar os grãos mais leves e infectados (fusariados), reduzindo a carga total de toxina no lote colhido.

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