O que é Mistura De Defensivos Agrícolas

A mistura de defensivos agrícolas, popularmente conhecida como mistura em tanque, consiste na prática de combinar dois ou mais produtos fitossanitários — como herbicidas, inseticidas, fungicidas, acaricidas ou adubos foliares — em uma única calda de pulverização. O objetivo principal dessa técnica é otimizar as operações de campo, permitindo o controle simultâneo de diferentes alvos biológicos (como plantas daninhas, pragas e doenças) em uma única entrada do maquinário na lavoura. No cenário do agronegócio brasileiro, essa estratégia é amplamente adotada devido à complexidade dos sistemas produtivos tropicais, que frequentemente exigem múltiplos manejos em curtos intervalos de tempo.

Dados de pesquisas da Embrapa indicam que a grande maioria das propriedades rurais no Brasil realiza algum tipo de mistura no tanque, muitas vezes combinando três ou mais produtos. Essa alta adesão ocorre pela necessidade de redução de custos operacionais, economia de combustível, menor compactação do solo pelo tráfego de máquinas e melhor aproveitamento das janelas climáticas favoráveis para aplicação. No entanto, a prática exige conhecimento técnico aprofundado, pois a interação entre diferentes moléculas pode resultar em incompatibilidades que comprometem a eficácia do tratamento ou danificam os equipamentos.

Do ponto de vista legal e regulatório, o cenário brasileiro passou por atualizações importantes. Desde 2018, normas específicas esclareceram a responsabilidade técnica sobre a recomendação de misturas. Atualmente, o Engenheiro Agrônomo possui a prerrogativa de prescrever a mistura em tanque no receituário agronômico, desde que assuma a responsabilidade técnica pela recomendação e que a prática não seja explicitamente proibida nas bulas dos produtos envolvidos. Isso transferiu para o profissional a necessidade de conhecer profundamente as interações físico-químicas dos defensivos.

Principais Características

  • Otimização Operacional: A característica mais marcante é a capacidade de realizar múltiplos tratamentos fitossanitários simultaneamente, reduzindo o número de passadas do pulverizador, economizando diesel e horas-máquina, além de diminuir a exposição do aplicador aos produtos.

  • Interações Físico-Químicas: Ao misturar produtos, podem ocorrer reações complexas. A incompatibilidade física é visível (precipitação, floculação ou separação de fases), enquanto a incompatibilidade química é invisível a olho nu, alterando a estrutura molecular dos ativos e podendo reduzir a eficácia (antagonismo) ou aumentar a fitotoxidez (sinergismo indesejado).

  • Responsabilidade Técnica: A prescrição da mistura exige a emissão de receituário agronômico por um profissional habilitado, que deve avaliar a viabilidade técnica da associação dos produtos para a cultura e o alvo específico, garantindo a segurança alimentar e ambiental.

  • Necessidade de Testes Prévios: Devido à variabilidade das formulações comerciais e da qualidade da água utilizada nas fazendas, é uma característica padrão da boa prática agrícola a realização de pré-misturas em pequena escala (teste da garrafa) para verificar a estabilidade física da calda antes do preparo no tanque do pulverizador.

  • Influência da Formulação: O sucesso da mistura depende não apenas dos princípios ativos, mas também dos ingredientes inertes e do tipo de formulação (SC, EC, WG, etc.). A ordem de adição dos produtos no tanque é uma característica técnica crítica para evitar reações indesejadas.

Importante Saber

  • Ordem de Adição: Existe uma sequência correta para adicionar os produtos no tanque, geralmente iniciando pela água, seguido de reguladores de pH, produtos sólidos (pós e granulados), seguidos de formulações líquidas (suspensões concentradas, concentrados emulsionáveis) e, por fim, os adjuvantes. Inverter essa ordem é uma das principais causas de entupimento de bicos e filtros.

  • Fenômeno do Antagonismo: Nem toda mistura mantém a eficiência original dos produtos isolados. O antagonismo ocorre quando um produto anula ou reduz o efeito do outro. Um exemplo clássico é a mistura de certos herbicidas de contato com sistêmicos, que pode impedir a translocação do produto na planta daninha, resultando em falhas de controle.

  • Qualidade da Água: O pH e a dureza da água utilizada na pulverização interferem diretamente na estabilidade da mistura. Águas muito alcalinas ou com excesso de sais podem degradar moléculas sensíveis ou causar a precipitação dos produtos no fundo do tanque.

  • Teste da Garrafa (Jar Test): Antes de preparar a calda definitiva, é fundamental simular a mistura em um recipiente transparente. Se houver formação de grumos, sedimentação rápida, aquecimento ou separação de fases, a mistura é incompatível fisicamente e não deve ser realizada no pulverizador.

  • Riscos de Fitotoxidez: Algumas misturas podem potencializar a ação dos produtos a ponto de causar danos à cultura principal (queima de folhas ou travamento do desenvolvimento). Isso é comum quando se misturam muitos produtos com base oleosa ou solventes agressivos em condições de alta temperatura.

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