Artigos sobre Pragas da Cana de açúcar

O que é Pragas Da Cana De Açúcar

As pragas da cana-de-açúcar englobam um complexo de insetos e organismos nocivos que afetam a cultura em diferentes estágios fenológicos, comprometendo a produtividade e a qualidade da matéria-prima. No contexto do agronegócio brasileiro, onde o país figura como o maior produtor global, o manejo desses agentes é um dos principais desafios fitossanitários. A presença descontrolada dessas pragas pode gerar perdas agrícolas significativas, estimadas em até 20% da produção, impactando diretamente a fabricação de açúcar, etanol e bioenergia.

Esses organismos podem atacar diversas partes da planta, desde o sistema radicular e rizomas até os colmos e a área foliar. Entre as espécies de maior relevância econômica no Brasil destacam-se a broca-da-cana (Diatraea saccharalis), o bicudo-da-cana (Sphenophorus levis), a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata) e as formigas cortadeiras, como a saúva-parda. Cada uma possui um ciclo biológico específico e exige estratégias de monitoramento distintas para evitar que a população atinja o nível de dano econômico.

Além da redução de biomassa no campo, a ação dessas pragas provoca danos qualitativos severos na indústria. O ataque, muitas vezes, facilita a entrada de microrganismos oportunistas, como fungos causadores de podridões, que invertem a sacarose e diminuem a pureza do caldo. Portanto, o conceito de pragas na canavicultura não se limita apenas ao inseto em si, mas inclui todo o complexo de danos diretos e indiretos que afetam a rentabilidade do canavial e a eficiência industrial.

Principais Características

• Diversidade de Alvos Biológicos: As pragas atacam estruturas distintas da planta; enquanto a broca-da-cana perfura o colmo criando galerias, o bicudo-da-cana e a cigarrinha-das-raízes concentram seus danos na parte subterrânea e basal, e as formigas cortadeiras afetam a área foliar e brotações.

• Danos Indiretos e Doenças Associadas: Muitas dessas pragas atuam como vetores ou facilitadores de doenças. O exemplo mais crítico é a broca, cujos orifícios permitem a entrada dos fungos Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme, causadores da Podridão Vermelha, que degrada a qualidade do açúcar.

• Sazonalidade e Condições Climáticas: A incidência de certas pragas está atrelada ao clima. A cigarrinha-das-raízes, por exemplo, prolifera em ambientes quentes e úmidos, com picos populacionais geralmente associados ao período chuvoso e ao acúmulo de palha no solo.

• Fases de Desenvolvimento Nocivas: Em muitos casos, a fase larval ou de ninfa é a causadora do dano principal. No caso da broca e do bicudo, são as lagartas e larvas, respectivamente, que destroem os tecidos internos, enquanto os adultos (mariposas e besouros) são os alvos do monitoramento para tomada de decisão.

• Sintomatologia Visual: Os sintomas no campo são variados e incluem o “coração morto” (secamento do ponteiro causado pela broca), a presença de espuma branca na base da touceira (cigarrinha) e o amarelecimento ou secamento das folhas devido ao comprometimento do sistema radicular (bicudo).

Importante Saber

• Monitoramento é Fundamental: O controle eficaz depende da identificação correta e do levantamento populacional das pragas. A contagem de mariposas, a avaliação de intensidade de infestação nos colmos ou a verificação de espuma nas raízes determinam o momento exato da intervenção.

• Manejo Integrado de Pragas (MIP): A estratégia mais recomendada combina métodos biológicos, químicos e culturais. O uso de inimigos naturais, como a vespa Cotesia flavipes para a broca e o fungo Metarhizium anisopliae para a cigarrinha, é amplamente difundido e eficaz no Brasil.

• Impacto na Renovação do Canavial: Pragas de solo, como o bicudo-da-cana, possuem difícil controle curativo em canaviais estabelecidos. Por isso, o manejo preventivo durante a renovação, incluindo a destruição de soqueiras antigas e o uso de mudas sadias, é crucial para a longevidade da lavoura.

• Prejuízo Industrial: O produtor deve estar ciente de que o dano vai além do peso da cana. A perda de qualidade tecnológica (ATR) devido à contaminação por fungos oportunistas pode reduzir drasticamente o valor pago pela tonelada de cana na usina.

• Controle Varietal: A escolha de variedades de cana-de-açúcar geneticamente mais tolerantes ou resistentes a determinadas pragas é uma ferramenta preventiva importante que deve ser considerada no planejamento do plantio.