Artigos sobre Produção de Trigo

O que é Produção De Trigo

A produção de trigo no Brasil refere-se ao cultivo de um dos cereais de inverno mais estratégicos para o agronegócio nacional e para a segurança alimentar global. Diferente de outras grandes commodities brasileiras, como a soja e o milho, o trigo é uma cultura predominantemente de clima temperado e subtropical, encontrando na Região Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) as condições mais favoráveis para o seu desenvolvimento. No entanto, avanços genéticos e tecnologias de manejo têm permitido a expansão do cultivo para áreas do Cerrado e do Brasil Central, muitas vezes em sistemas irrigados ou de sequeiro com cultivares adaptadas ao calor (trigo tropical).

O cenário produtivo brasileiro é marcado pela busca constante pela autossuficiência. O consumo interno nacional oscila historicamente entre 10 a 12 milhões de toneladas anuais, volume superior à capacidade de produção doméstica na maioria das safras, o que torna o Brasil um importador tradicional do grão para abastecer a indústria de moagem e panificação. Contudo, safras recentes demonstraram o potencial do país, com produções superando a marca de 10 milhões de toneladas e produtividades médias competitivas, girando em torno de 3.000 a 3.400 kg por hectare, dependendo das condições climáticas do ciclo.

Além do aspecto econômico direto, a produção de trigo desempenha um papel fundamental agronômico dentro do sistema de produção. Ela é essencial para a rotação de culturas, auxiliando na cobertura do solo durante o inverno, na supressão de plantas daninhas e na quebra do ciclo de pragas e doenças para as culturas de verão subsequentes. O sucesso da lavoura depende intrinsecamente do manejo técnico rigoroso e do monitoramento climático, visto que a cultura é sensível a extremos de temperatura e umidade, especialmente durante as fases reprodutivas e de colheita.

Principais Características

• Sazonalidade e Ciclo: É a principal cultura de inverno no Brasil, com semeadura ocorrendo geralmente entre o outono e o início do inverno, e a colheita se estendendo do final do inverno até a primavera, variando conforme a região e o ciclo da cultivar.

• Concentração Geográfica: A maior parte da produção (cerca de 90%) concentra-se nos estados da Região Sul, embora haja crescimento em áreas do Sudeste e Centro-Oeste, onde o cultivo irrigado tem mostrado altos rendimentos.

• Classificação Industrial: O trigo é classificado de acordo com a força do glúten (W) e outras características reológicas, definindo seu uso final (panificador, brando, melhorador, para massas ou biscoitos).

• Produtividade Variável: O rendimento médio nacional situa-se frequentemente próximo a 3 toneladas por hectare, mas pode sofrer oscilações significativas (para mais ou para menos) dependendo da ocorrência de geadas tardias ou chuvas excessivas na colheita.

• Dependência Climática: A cultura exige frio para o perfilhamento, mas é altamente suscetível a doenças fúngicas e germinação na espiga caso ocorram chuvas contínuas e altas temperaturas durante a maturação e colheita.

Importante Saber

• Impacto do Clima na Qualidade: O excesso de chuvas no momento da colheita é um dos maiores riscos para o triticultor, pois pode reduzir o Peso Hectolitro (PH) e desencadear a germinação pré-colheita, desclassificando o grão de “panificador” para “trigo forrageiro” (ração animal), o que reduz drasticamente o valor de mercado.

• Balança Comercial: Apesar do aumento na produção, o Brasil ainda não é autossuficiente em todos os anos. O produtor deve estar atento ao cenário internacional e à taxa de câmbio, pois os preços internos são fortemente influenciados pela paridade de importação.

• Fase Crítica de Enchimento de Grãos: O período de enchimento de grãos é determinante para o peso final e a produtividade. Estresses hídricos (seca) ou térmicos (calor excessivo) nesta fase, como observado em algumas regiões do Paraná e Centro-Oeste, podem comprometer o rendimento final da lavoura.

• Monitoramento Fitossanitário: Devido ao clima úmido frequente nas regiões produtoras, o controle de doenças fúngicas, como a giberela e a brusone (especialmente no trigo tropical), exige monitoramento constante e aplicações preventivas de fungicidas.

• Planejamento de Safra: A escolha da cultivar deve considerar não apenas o potencial produtivo, mas o ciclo e a resistência a doenças, visando escalonar a colheita e fugir de janelas climáticas historicamente desfavoráveis.