Artigos sobre Resistência de Fungicidas

O que é Resistência De Fungicidas

A resistência de fungicidas é um fenômeno evolutivo natural e hereditário, caracterizado pela redução ou perda da sensibilidade de uma população fúngica a um determinado fungicida que, anteriormente, era eficaz no seu controle. No contexto do agronegócio brasileiro, este é um dos maiores desafios fitossanitários, especialmente em culturas de larga escala como a soja, onde doenças severas como a ferrugem asiática exigem manejo constante. O processo ocorre através da pressão de seleção: ao utilizar repetidamente produtos com o mesmo mecanismo de ação, elimina-se a parte sensível da população do fungo, permitindo que indivíduos com mutações genéticas resistentes sobrevivam, se multipliquem e se tornem predominantes na lavoura.

A ocorrência da resistência está diretamente ligada ao modo de ação dos produtos utilizados. Fungicidas sítio-específicos, que atuam em um único processo metabólico do fungo (como uma “chave e fechadura”), apresentam alto risco de desenvolvimento de resistência, pois basta uma pequena alteração genética no patógeno para que o produto perca a eficácia. Já os fungicidas multissítios, que atacam diversas frentes vitais do fungo simultaneamente, possuem risco muito baixo de resistência, sendo ferramentas cruciais para proteger as tecnologias existentes e prolongar sua vida útil no campo.

Para o produtor rural, a resistência resulta em falhas de controle, necessidade de reentradas mais frequentes, aumento dos custos de produção e perdas significativas de produtividade. O manejo da resistência não visa apenas combater a doença na safra atual, mas preservar a eficácia das moléculas químicas disponíveis para as safras futuras, garantindo a sustentabilidade econômica e técnica da atividade agrícola.

Principais Características

• Pressão de Seleção: O uso contínuo e isolado de fungicidas com o mesmo mecanismo de ação (sítio-específicos) acelera a seleção de indivíduos resistentes, tornando a população de fungos predominante difícil de controlar.

• Mecanismo de Ação: A resistência é mais frequente em fungicidas sistêmicos (sítio-específicos), como triazóis, estrobilurinas e carboxamidas, em comparação aos fungicidas de contato (multissítios).

• Hereditariedade: A característica de resistência é genética e passada para as gerações futuras do fungo, o que pode comprometer áreas de cultivo permanentemente se o manejo não for alterado.

• Resistência Cruzada: Frequentemente, quando um fungo desenvolve resistência a um princípio ativo, ele também se torna resistente a outros produtos do mesmo grupo químico que compartilham o mesmo modo de ação.

• Redução da Eficácia: O sintoma mais claro no campo é a diminuição gradual da eficiência de controle, onde doses que antes funcionavam deixam de apresentar os resultados esperados.

Importante Saber

• Rotação de Mecanismos de Ação: É fundamental alternar o uso de fungicidas com diferentes modos de ação (não apenas mudar o nome comercial) para quebrar o ciclo de seleção de fungos resistentes.

• Uso de Multissítios: A adição de fungicidas multissítios (como mancozebe, clorotalonil ou cobre) às misturas com sítio-específicos é uma estratégia obrigatória para proteger a eficácia dos produtos sistêmicos e reduzir a pressão de seleção.

• Aplicação Preventiva: Fungicidas devem ser aplicados preferencialmente de forma preventiva; aplicações curativas em populações de fungos já estabelecidas aumentam drasticamente o risco de selecionar indivíduos resistentes.

• Respeito à Bula: Utilizar subdoses ou doses acima do recomendado pode acelerar o processo de resistência; seguir as recomendações técnicas e os intervalos de aplicação é vital para o manejo antirresistência.

• Monitoramento Constante: Acompanhar as diretrizes do FRAC-BR (Comitê de Ação à Resistência a Fungicidas) ajuda a identificar quais grupos químicos ainda são eficazes para doenças específicas em cada região.