Artigos sobre Solos Calcarios

O que é Solos Calcarios

Os solos calcários são uma classe pedológica caracterizada pela presença significativa de carbonato de cálcio (CaCO3) em sua composição, o que lhes confere propriedades químicas e físicas distintas. Diferentemente da grande maioria dos solos brasileiros — que tendem a ser ácidos e necessitam de correção com calcário (calagem) —, os solos calcários apresentam naturalmente um pH elevado, geralmente acima de 7,0 (alcalino). Eles se formam principalmente a partir da intemperização de rochas sedimentares ricas em calcário ou em regiões de clima árido e semiárido, onde a evaporação supera a precipitação, impedindo a lixiviação das bases.

No contexto do agronegócio brasileiro, a ocorrência de solos calcários é menos frequente do que a de latossolos ácidos, sendo encontrados em manchas específicas, como em partes da região Nordeste (zona semiárida), na Serra da Bodoquena e em algumas áreas do Pantanal. A identificação correta desses solos é crucial, pois o manejo agronômico exigido é oposto ao convencional: a aplicação equivocada de corretivos de acidez nessas áreas pode inviabilizar o cultivo, agravando o desequilíbrio químico e bloqueando a absorção de nutrientes essenciais pelas plantas.

Apesar dos desafios relacionados ao pH alcalino, os solos calcários podem ser extremamente férteis e produtivos quando bem manejados. Eles possuem, por natureza, altos teores de Cálcio e Magnésio e uma excelente saturação por bases. O sucesso na agricultura sobre esses solos depende fundamentalmente do entendimento da dinâmica dos nutrientes em meio alcalino e da escolha de culturas tolerantes ou adaptadas a essas condições, exigindo um monitoramento técnico rigoroso.

Principais Características

• pH Elevado (Alcalinidade): A característica mais marcante é o pH superior a 7,0, podendo chegar a 8,5, o que altera drasticamente a disponibilidade de elementos químicos na solução do solo.
• Presença de Carbonatos Livres: Frequentemente apresentam efervescência visível quando entram em contato com ácidos diluídos (como o ácido clorídrico), indicando a alta concentração de carbonato de cálcio.
• Alta Saturação por Bases (V%): Possuem níveis elevados de saturação por bases, dispensando completamente a prática da calagem e apresentando altos teores naturais de Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg).
• Deficiência Induzida de Micronutrientes: O ambiente alcalino provoca a precipitação de micronutrientes metálicos, tornando Ferro (Fe), Zinco (Zn), Manganês (Mn) e Cobre (Cu) indisponíveis para as plantas, mesmo que estejam presentes no solo.
• Fixação de Fósforo: O excesso de Cálcio reage com o Fósforo aplicado via fertilizantes, formando fosfatos de cálcio insolúveis, o que reduz severamente a eficiência da adubação fosfatada.

Importante Saber

• Proibição da Calagem: Jamais deve ser realizada a calagem (aplicação de calcário) em solos calcários, pois isso elevaria ainda mais o pH, agravando a indisponibilidade de nutrientes e podendo causar a morte das plantas por desequilíbrio nutricional.
• Estratégia de Adubação Fosfatada: Devido à rápida fixação do Fósforo pelo Cálcio, recomenda-se a aplicação de fertilizantes fosfatados de forma localizada (no sulco de plantio) e granulada, evitando a aplicação a lanço para diminuir a superfície de contato com o solo.
• Manejo de Micronutrientes: A correção de deficiências de micronutrientes (como a clorose férrica) é mais eficiente via aplicação foliar ou através do uso de quelatos no solo, pois a aplicação convencional no solo tende a ser ineficaz devido à imobilização química.
• Risco de Salinidade: Em regiões semiáridas, solos calcários podem estar associados à salinidade; portanto, o manejo da irrigação deve ser cuidadoso para evitar o acúmulo de sais na zona radicular, o que causaria estresse osmótico nas culturas.
• Análise de Solo Específica: A interpretação da análise de solo deve considerar extratores adequados para solos alcalinos, pois métodos calibrados para solos ácidos podem superestimar ou subestimar a disponibilidade real de nutrientes.